Prémio Mercury para o grime de Skepta (e não para David Bowie)
Importante galardão britânico contraria expectativas e vai para o músico, escapando às previsões que apontavam um duelo entre Bowie e os Radiohead.
Na quinta-feira, a expectativa para os prémios Mercury era grande mas parecia dar como garantido que a sua importante distinção seria póstuma - David Bowie e o muito elogiado álbum de despedida Blackstar pareciam fadados à vitória. Numa categoria em que estavam também os Radiohead com um novo álbum, o discurso estava dominado por dois pesos pesados do território do rock e da pop. Mas foi Skepta, um nome também já veterano do grime, a levar para casa o prémio pelo seu trabalho Konnichiwa.
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Na quinta-feira, a expectativa para os prémios Mercury era grande mas parecia dar como garantido que a sua importante distinção seria póstuma - David Bowie e o muito elogiado álbum de despedida Blackstar pareciam fadados à vitória. Numa categoria em que estavam também os Radiohead com um novo álbum, o discurso estava dominado por dois pesos pesados do território do rock e da pop. Mas foi Skepta, um nome também já veterano do grime, a levar para casa o prémio pelo seu trabalho Konnichiwa.
"Obrigado a todos que me apoiaram quando eu estava a atravessar tempos de depressão. Não sei, estou tão grato... Sem qualquer editora, nós simplesmente viajámos pelo mundo", disse, no seu discurso de agradecimento algo atordoado, Skepta, cujo Konnichiwa é o seu quarto álbum. Aos 33 anos, Skepta, nascido Joseph Junior Adenuga e de origem nigeriana, actuou também no evento, interpretando Shutdown, em que constata "We don't listen to no politician". O músico, que se fez acompanhar dos pais em palco, gravou o álbum no seu quarto e, sem intermediários na indústria musical, distribuiu-o directamente aos seus fãs. "Sou independente. O DYI [faça-você-mesmo] é o futuro", disse à BBC.
No ano passado, Skepta esteve previsto no cartaz do festival Zona Não Vigiada, na Zona J da Chelas lisboeta, mas acabou por cancelar aquela que seria a sua primeira actuação em Portugal.
Os prémios foram entregues em Londres, com Jarvis Cocker a associar o prémio, ainda assim, a Bowie, que morreu pouco depois do lançamento do seu Blackstar: o júri "decidiu que se David Bowie estivesse a olhar para o Hammersmith Apollo [a sala de concertos onde se realizou a cerimónia] esta noite, ele quereria que o prémio Mercury de 2016 fosse para Skepta", disse o frontman dos Pulp sobre aquele que todos consideravam favorito - Cocker era também um dos jurados do prémio. "Tudo se resumiu a uma competição entre duas estrelas negras [black stars]", brincou o músico veterano. Bowie foi também homenageado por Michael C. Hall, que levou ao palco Lazarus, uma peça do musical homónimo concebido pelo músico para a Broadway e que em Outubro chega a Londes.
Da responsabilidade da indústria fonográfica e da associação de comerciantes discográficos daqueles países, o júri do Mercury é composto por músicos, responsáveis de editoras, jornalistas e personalidades ligadas à música, e destaca apenas um nome por ano. Em 2016, como escreve o jornalista musical Alexis Petridis no seu comentário no diário The Guardian, "ninguém conseguia encontrar muito por onde se queixar na shortlist" de finalistas para o prémio e "qualquer pessoa podia ganhar sem causar" críticas.
Concorriam A Moon Shaped Pool dos Radiohead, The Dreaming Room de Laura Mvula, a primeira nomeação póstuma do prémio para Bowie por Blackstar, Hopelessness de Anohni (que já tinha vencido em 2005), The Bride de Bat for Lashes, que como outros dos candidatos actuou no evento, e os estreantes The 1975, com o álbum I Like It When You Sleep For You Are So Beautiful Yet So Unaware Of It, bem como Making Time de Jamie Woon, Adore Life das Savages, Love & Hate de Michael Kiwanuka e Channel the Spirits de Comet Is Coming; havia ainda outro disco de grime, Made in the Manor, de Kano. Um tipo de música urbana surgida nos anos 2000 em Londres que já recebera em 2003 o Mercury - foi para Dizzee Rascal com Boy in da Corner. Skepta venceu porque demonstrou de "forma brilhante" o "impacto estimulante" do grime na cena musical, disse o júri sobre o vencedor, que no passado colaborou com Drake ou com Kanye West, por exemplo. Além do reconhecimento, o galardão representa cerca de 30 mil euros de prémio.
O prémio, que distingue o melhor álbum lançado entre 26 de Setembro de 2015 e 29 de Julho de 2016 da autoria de músicos ou bandas do Reino Unido e da Irlanda, é um dos mais relevantes e impactantes galardões da indústria musical britânica. Tem tido o condão de distinguir nomes emergentes que se revelam apostas incontornáveis (Alt-J, Arctic Monkeys, The XX, James Blake) ou nomes já reconhecidos que continuam a trabalhar no reino da qualidade, como PJ Harvey - no ano passado, por exemplo, o prémio foi para Benjamin Clementine.