Christiana Figueres desiste da corrida à liderança da ONU

Abandono reduz a oito os actuais adversários de António Guterres, mas nada impede surgimento de novos candidatos.

Foto
A diplomata costa-riquenha liderou as negociações que conduziram ao acordo climático de Paris Denis Balibouse/Reuters

Christiana Figueres, a diplomata costa-riquenha que chefiou as negociações para o acordo climático aprovado em Dezembro do ano passado em Paris, desistiu da corrida à liderança das Nações Unidas, reduzindo a oito os actuais adversários de António Guterres. O processo ainda está longe do fim.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Christiana Figueres, a diplomata costa-riquenha que chefiou as negociações para o acordo climático aprovado em Dezembro do ano passado em Paris, desistiu da corrida à liderança das Nações Unidas, reduzindo a oito os actuais adversários de António Guterres. O processo ainda está longe do fim.

“Todas as votações no Conselho de Segurança indicam que a minha candidatura não tem muito futuro”, disse Figueres, numa conferência de imprensa, segunda-feira à noite, ao lado do ministro dos Negócios Estrangeiros da Costa Rica, Governo que patrocinava o seu nome.

A desistência foi anunciada três dias depois do quarto escrutínio entre os 15 países representados no Conselho, em que a ex-secretária executiva da convenção da ONU para as alterações climáticas ficou em nono lugar entre os dez candidatos ainda na corrida, à frente apenas da moldava Natalia Gherman. “Precisamos de ler os sinais”, admitiu Figueres, que na sexta-feira tinha recebido dez votos de desencorajamento.

Tal como em todas as anteriores rondas, o antigo primeiro-ministro português foi o mais votado, obtendo 12 votos de encorajamento, que equivalem a “sim”, dois de desencorajamento, ou seja “não”, e um sem opinião, que se pode traduzir por abstenção. Em segundo lugar ficou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Miroslav Lajcak, com dez votos de encorajamento, seguido do macedónio Srgjam Kirim, antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, com nove “sim”.

Na despedida, a diplomata disse esperar que, apesar da sua desistência, o processo termine com a escolha de uma mulher – algo inédito em 70 anos da história da organização – e que a personalidade escolhida contribua para “uma nova era” de multilateralismo, capaz de apresentar respostas inovadoras para a resolução de conflitos, a defesa dos direitos humanos, as migrações ou as alterações climáticas. “Nunca como agora houve tantos assuntos dependentes uns dos outros”, afirmou, citada pela AFP.

Figueres é já a segunda mulher a desistir da corrida, depois da ex-ministra dos Negócios Estrangeiros croata Vesna Pusic, mas vários observadores acreditam que outros dos candidatos com menos apoios lhe sigam o exemplo, antes ou imediatamente a seguir à próxima votação, prevista para dia 26, a fim de contribuir para o consenso necessário no Conselho de Segurança.

A corrida está, no entanto, longe de estar fechada e nada, nas regras que ditam a escolha do secretário-geral da ONU, impede o surgimento de candidatos de última hora. As atenções estão sobretudo centradas em nomes que cumpram os dois critérios que têm sido apontados como decisivos na escolha: ser mulher e da Europa de Leste, a região a quem caberia agora o cargo pela rotatividade entre blocos geográficos que se tornou norma na ONU.

Uma hipótese adiantada nos últimos dias é a de Kristalina Georgieva, que ocupa actualmente uma das vice-presidências da Comissão Europeia, e cuja candidatura é vista com bons olhos pela Alemanha. Seria, no entanto, a segunda búlgara a entrar na corrida, depois de o Governo de Sófia ter patrocinado a candidatura da directora-geral da UNESCO Irina Bokova, a mais votada entre as mulheres na corrida, e o Governo russo já deu a entender que não apoia a troca de candidatas.