Morreram gémeos siameses que nasceram em cidade cercada na Síria
Com apenas um mês de vida, as crianças não resistiram a uma crise cardíaca. Aguardavam transferência para o estrangeiro para serem operados.
Os gémeos siameses sírios nascidos há cerca de um mês num subúrbio de Damasco morreram quarta-feira, de uma crise cardíaca, enquanto aguardavam autorização para viajarem e serem tratados.
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Os gémeos siameses sírios nascidos há cerca de um mês num subúrbio de Damasco morreram quarta-feira, de uma crise cardíaca, enquanto aguardavam autorização para viajarem e serem tratados.
Nawras e Moaz Hasash tinham nascido a 23 de Julho em Douma, uma cidade controlada pelos rebeldes na região de Ghouta, a Nordeste da capital síria, com os corações ligados. A situação de saúde dos dois gémeos despertou grandes preocupações e multiplicaram-se os apelos para que os recém-nascidos fossem transportados de urgência para o Líbano, onde poderiam ter acesso a cuidados de saúde.
Douma está totalmente cercada pelas forças sírias há já dois anos e a escassez de água impede que sejam tenham acesso aos cuidados mínimos de saúde.
Foi lançado um apelo internacional para que as crianças fossem operadas no estrangeiro. O cirurgião português António Gentil Martins ofereceu-se para separar Nawras e Moaz.
A 12 de Agosto, os gémeos foram evacuados para um hospital em Damasco, na zona controlada pelo Governo sírio. Porém, os dois recém-nascidos não resistiram a uma crise cardíaca e acabaram por morrer esta quarta-feira.
As organizações não-governamentais acusaram o Governo sírio de ter demorado demasiado tempo a emitir autorizações de viagem, adiando o tratamento dos meninos. “A morte trágica destas duas almas corajosas poderia ter sido facilmente evitada. Isto é inaceitável”, disse o presidente da Sociedade Médica Sírio-Americana, Ahmad Tarakji.
Mohamed Katoub, responsável da mesma organização e o organizador da campanha em torno dos gémeos, responsabiliza directamente o Governo. “Tínhamos todos os detalhes do plano de evacuação das crianças, mas a única coisa que faltava era a autorização do ministro dos Negócios Estrangeiros”, afirmou Katoub, citado pelo Middle East Eye. “Este caso é um exemplo que como a comunidade internacional e o mundo humanitário falharam às crianças da Síria”, acrescentou.
Contudo, uma versão diferente é apresentada pelo Crescente Vermelho, que garante que “todas as aprovações formais de viagem foram assinadas”, mas que o atraso se ficou a dever às “más condições de saúde” das crianças.
De acordo com o Crescente Vermelho, os gémeos estavam “sob cuidados intensivos” quando foram registados e tinham “passaportes emitidos para si e para os seus acompanhantes”. O Hospital Bambino Gesù, em Roma, já se tinha comprometido a receber e tratar os recém-nascidos, acrescenta a mesma organização.