Ortopedistas de Faro recusaram ver doentes durante a madrugada
Administração do Centro Hospitalar do Algarve "aguarda comunicação circunstanciada da ocorrência para melhor avaliação e tomada de eventuais medidas correctivas".
Os problemas no Hospital de Faro sucedem-se uns atrás dos outros. O mais recente episódio aconteceu na madrugada desta quinta-feira e ganha particular relevância porque o hospital não tinha ortopedistas disponíveis para socorrer os doentes que deram entrada na urgência.
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Os problemas no Hospital de Faro sucedem-se uns atrás dos outros. O mais recente episódio aconteceu na madrugada desta quinta-feira e ganha particular relevância porque o hospital não tinha ortopedistas disponíveis para socorrer os doentes que deram entrada na urgência.
Apesar das diligências feitas, quer pelo chefe do serviço de Urgência do hospital, Francisco Sotto, quer pela coordenação da enfermagem, não foi possível contar com a colaboração dos médicos destacados para a urgência de Ortopedia. Segundo disseram ao PÚBLICO, estes médicos estiveram a operar durante o dia no hospital.
Ao que o PÚBLICO apurou, o serviço de urgência do Hospital de Faro teve na madrugada desta quinta-feira “um grande movimento de doentes na sala de emergência”. Mas não só. Àquela urgência, acorreram “três doentes baleados e três politraumatizados graves”. Os três doentes baleados têm a ver com o tiroteio que ocorreu junto ao nó de Olhão da A22, a Via do Infante. Desta troca de tiros, que se registou durante uma operação policial relacionada com o combate ao tráfico de droga, resultaram três feridos, dois civis e um agente da PSP. Dos três feridos, apenas um foi operado por volta da 1h da manhã.
O ferido grave — um dos civis — foi atingido com dois tiros no abdómen, tendo sido operado ao princípio da madrugada, encontrando-se internado nos cuidados intermédios do Hospital de Faro. O agente policial ferido foi baleado numa perna.
Ao que foi possível apurar junto de várias fontes hospitalares, “pelas 4h40, a equipa de enfermagem solicitou a chefia de enfermagem para contactar os ortopedistas de serviço porque nenhum dos três médicos escalados tinha atendido o telemóvel”. Segundo relatos feitos ao PÚBLICO, havia apenas um único ortopedista no hospital que, “após muita insistência, acedeu a deslocar-se do sexto piso [onde se encontrava] ao serviço de urgência”. Uma hora depois, o médico em causa “abandona o serviço de urgência de Ortopedia, recusando-se a ver mais doentes, deixando o número do telemóvel de um outro médico” para ser contactado. Nem este nem um terceiro médico responderam aos vários telefonemas feitos. Perante uma nova situação que exigia um ortopedista, o chefe do serviço de Urgência, Francisco Sotto, deslocou-se ao sexto andar para tentar convencer o seu colega a ver doentes, mas o médico já tinha abandonado as instalações do hospital, sem responder a qualquer contacto telefónico, segundo foi revelado.
O PÚBLICO contactou o Centro Hospitalar do Algarve (CHA) sobre o que se passou na unidade de Faro e, no e-mail de resposta enviado, a administração afirma que “a situação reportada refere-se a uma ocorrência momentânea de dificuldades de contacto com elementos da equipa de Ortopedia escalada, não se podendo afirmar que tenha ocorrido qualquer ‘abandono’ deste profissionais do serviço”.
“Reitera-se que a situação foi momentânea e restabelecida ainda no decurso do próprio turno [00h/8h], encontrando-se o serviço a funcionar em condições de absoluta normalidade. Todos os doentes que deram entrada no serviço de Urgência durante a noite/madrugada receberam os cuidados de saúde adequados à sua situação”, acrescenta o CHA.
“Com o objectivo de avaliar o que motivou esse facto momentâneo, o conselho de administração aguarda comunicação circunstanciada da ocorrência para melhor avaliação e tomada de eventuais medidas correctivas que visem garantir a melhoria contínua da prestação de cuidados”, sublinha. A administração reafirma que o “CHA tem tomado todas as medidas ao seu alcance para mitigar as carências em várias especialidades e assegurar, como tem vindo a fazer, uma resposta assistencial na região”.
Entende a administração, presidida por Joaquim Ramalho, que “as medidas tomadas e o trabalho em cursos estão, de resto, a ter resultados muito positivos, no que concerne precisamente ao reforço das equipas e no aumento da capacidade assistencial”.