Movimento 5 Estrelas prepara-se para vitória estrondosa em Roma

O movimento do humorista Beppe Grillo pode conquistar duas cidades ao partido do primeiro-ministro, que se arrisca a perder Turim e tenta sobreviver em Milão.

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A carismática Virginia Raggi foi parca em detalhes sobre o seu plano para solucionar uma cidade paralisada. Remo Casilli/Reuters

As sondagens à boca das urnas na segunda ronda das eleições municipais em Itália dão por garantida uma vitória estrondosa do Movimento 5 Estrelas em Roma, onde a carismática Virginia Raggi se pode tornar a primeira alcaide mulher na história da maior cidade do país: as projecções dão-lhe entre 65% e 69% dos votos, enquanto o seu opositor não deve ultrapassar os 35%.

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As sondagens à boca das urnas na segunda ronda das eleições municipais em Itália dão por garantida uma vitória estrondosa do Movimento 5 Estrelas em Roma, onde a carismática Virginia Raggi se pode tornar a primeira alcaide mulher na história da maior cidade do país: as projecções dão-lhe entre 65% e 69% dos votos, enquanto o seu opositor não deve ultrapassar os 35%.

Mas as eleições deste domingo em 123 municípios italianos têm repercussões mais vastas do que o controlo das principais cidades do país e, a julgar pelas sondagens anunciadas depois do fecho das urnas, às 22h de Portugal Continental, o movimento do humorista Beppe Grillo parece prestes a catapultar-se para um novo patamar.

Para além da vitória em Roma, as projecções antecipam que o Movimento 5 Estrelas (M5S) conquiste também Turim, onde o candidato do Partido Democrático (PD) — do primeiro-ministro, Matteo Renzi — venceu por mais de dez pontos percentuais na primeira volta. É Appendino, outra mulher, quem deve vencer este domingo o actual presidente de Câmara, conquistando entre 50 a 54% dos votos.

Confirmada a vitória em Roma e antecipando-se uma reviravolta em Turim, os olhos voltam-se para Milão, onde Matteo Renzi joga a sua credibilidade e, possivelmente, o desenho das eleições de 2018. Na primeira volta, o candidato de centro-esquerda ficou surpreendentemente empatado com Stefano Parisi, o homem impulsionado por uma aliança entre as direitas.

Renzi espera que o centro-esquerda prevaleça pelo menos em Milão para se manter não só à tona no seu partido — no qual, em apenas dois anos, passou de figura consensual a elemento fracturante — mas também para evitar um golpe de imagem a poucos meses do referendo constitucional de Outubro, em que joga o seu futuro político, prometendo demitir-se em caso de derrota.

As sondagens à boca das urnas são animadoras para Renzi, mas não garantem o triunfo. Beppe Sala surge com 49% a 53% dos votos, enquanto Stefano Parisi pode vencer com 47% a 51%. Se para o PD seria bom vencer em Milão, Turim e Bolonha, só esta última cidade parece garantida pelas sondagens à boca das urnas.

Ao final da tarde, a imprensa italiana dava conta de uma queda generalizada na participação, em linha com o que as agências descreviam como um ambiente de “pouco entusiasmo” e resignação. Por volta das 19h, a afluência nos 123 municípios rondava apenas os 36% dos eleitores, quando no primeiro turno a votação estava pelos 43%.

O dia já vinha sendo encarado como uma celebração do movimento de Beppe Grillo com uma vitória folgada de Virginia Raggi em Roma, que as projecções agora confirmam. As eleições na maior cidade do país pareciam desenhadas à medida do seu M5S, para quem a classe política italiana está incuravelmente enquistada de vícios, conflitos de interesse e corrupção.

Roma está sem autarca desde Outubro do último ano, quando se demitiu Ignazio Marino, do PD, confrontado então com alegações de uso indevido de fundos públicos. A cidade tem também uma dívida de 13 mil milhões de euros — o dobro do seu orçamento anual —, os serviços públicos não funcionam devidamente, sobretudo os transportes públicos e a recolha de lixo. Há também dezenas de grandes empresários e políticos em julgamento num grande esquema de corrupção com alegada influência da máfia — o caso ficou mesmo conhecido como Mafia Capitale.  

Raggi vingou sem nunca entrar em grande detalhe sobre o seu plano para a cidade — o seu opositor também não o fez. A sua mensagem, como a do M5S, é sobretudo o elogio da ruptura: “Roma é uma cidade devastada”, disse ao El País. “Não tenho uma varinha mágica. Mas depois de mais de 20 anos de maus governos, é urgente mudar a política que está a levar esta cidade ao colapso.”

As ruas repetiram o seu raciocínio ao longo do dia. “Nós, os romanos, estamos fartos: o último autarca trouxe poucos resultados e uma grande desilusão. Contando com este tipo de insatisfação, é inevitável que alguém faça algo melhor”, argumentava Paolo à Reuters, à saída das urnas. “É um dia muito especial, hoje, porque há a possibilidade de ter alguém novo que poderá mudar as coisas”, diz, por sua vez, Aldo, reformado de 72 anos que votou no M5S. “Todos os outros falharam, esperamos que estes consigam.”