Oposição exige distribuições aéreas contra a “estratégia da fome” de Assad

França e Reino Unido pressionam ONU para avançar com esta solução em todas as zonas da Síria “onde as populações civis, incluindo crianças, estão em risco de morrer de fome”.

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Desde 2012 que não chega qualquer ajuda alimentar a Daraya Fadi Dirani/AFP

Prazos que falham sem que nada aconteça não são novidade na Síria. Esta semana chegou ao fim mais um: 1 de Maio era o limite fixado pelos 20 países e instituições do Grupo Internacional de Apoio à Síria para o regime autorizar o acesso da ajuda humanitária às 19 localidades sob cerco no país. Caso contrário, as agências da ONU deveriam avançar com operações de distribuição aérea de alimentos e outros bens essenciais. Está por saber se isso vai mesmo acontecer, mas não é certo que isso aconteça.

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Prazos que falham sem que nada aconteça não são novidade na Síria. Esta semana chegou ao fim mais um: 1 de Maio era o limite fixado pelos 20 países e instituições do Grupo Internacional de Apoio à Síria para o regime autorizar o acesso da ajuda humanitária às 19 localidades sob cerco no país. Caso contrário, as agências da ONU deveriam avançar com operações de distribuição aérea de alimentos e outros bens essenciais. Está por saber se isso vai mesmo acontecer, mas não é certo que isso aconteça.

Para além das 600 mil pessoas cercadas em 19 zonas, há quatro milhões de sírios a viver em zonas de difícil acesso. Ao todo, ao longo do mês de Maio, só 3% desta população recebeu qualquer ajuda, diz a ONG Save the Children num comunicado. No dia em que o prazo chegou ao fim, o Governo de Bashar al-Assad autorizou a ONU e a Cruz Vermelha a fazerem chegar alguns camiões a dois subúrbios de Damasco, Moadamiya e Daraya, onde nenhuma ajuda entrava desde 2012. Ao contrário do que esperava a população de Daraya, os camiões levavam medicamentos, produtos de higiene e leite em pó – mais nenhuma comida.  

“É chocante e completamente inaceitável que os camiões não tenham sido autorizados a transportar alimentos”, lamentou Sonia Khush, responsável da Save the Children na Síria. “O regime de Assad aprovou cinicamente pequenas quantidades de auxílio… mas tem falhado o acesso humanitário que é exigido pela comunidade internacional”, descreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico. Para Philip Hammond, face a esta atitude, as largadas aéreas “são o último recurso para aliviar o sofrimento humano em muitas das zonas sitiadas”.

Por iniciativa da França (actualmente na presidência), o Conselho de Segurança da ONU reúne de emergência sexta-feira para debater as distribuições aéreas. O embaixador francês nas Nações Unidas, François Delattre, defende que estas devem acontecer de imediato em todas as zonas “onde as populações civis, incluindo crianças, estão em risco de morrer de fome”. Mas a ONU já avisou que “não estão iminentes” e não se sabe até que ponto é que o Programa Alimentar Mundial (PAM, a agência responsável por estas operações) avançou com os preparativos para o fazer.

Último caso

Pelos custos e riscos, esta forma de distribuir auxílio só é usada em último caso (o que obviamente se aplica em muitas destas áreas), e a ONU só a autoriza quando há garantias de que vai chegar a quem se deseja ajudar, um critério que os especialistas dizem ser impossível de cumprir na Síria.

Para além da ajuda se poder perder (há sempre uma parte que se perde), estragar no embate ou ir parar às mãos das forças do regime (como aconteceu com uma distribuição em Fevereiro, na cidade de Deir Ezzor, no Leste da Síria), já houve países em que as paletes largadas mataram e feriram civis (aconteceu no Afeganistão, por exemplo). E claro, sem a autorização do regime, nada garante que os aviões que transportaram a ajuda não sejam alvo de ataques, um risco ainda maior no caso das zonas mais densamente povoadas, em que as largadas têm de ser feitas a baixa altitude (grande parte das localidades em causa).

Segundo a revista norte-americana Foreign Policy, o PAM recusa avançar com as distribuições aéreas sem a cooperação de Assad, e poucos acreditam que o regime aceite colaborar.

Outra capitulação?

O Governo da Rússia, que garante estar a pressionar Damasco para permitir o acesso a todas as áreas por estrada, diz-se preocupado com a segurança destas operações. “Não são só os russos, as questões de segurança têm de ser resolvidas por todos antes de avançarmos”, diz Ramzi Essedin Ramzi, adjunto do enviado especial da ONU para a Síria.

Basma Kodmani, membro do Alto Comité Negocial, que junta os principais grupos da oposição política e armada a Assad, admite que “os russos claramente exerceram a sua pressão”. Mas isso não chega: “Nós queremos uma mudança de estratégia, o fim da estratégia da fome”, com que, diz, o regime tem castigado as populações que se lhe opõem.

Num comunicado, a Coligação para uma Síria Democrática, que reúne seis ONG formadas por sírios a viver nos Estados Unidos, “condena a já demasiado familiar dinâmica em que as instituições internacionais recuam face à intransigência do regime – desta vez abandonando os seus compromissos para conduzir distribuições áreas nas zonas cercadas que enfrentam as mais terríveis circunstâncias humanitárias”.

Do ponto de vista da oposição, as distribuições aéreas cumprem um papel político, para além do humanitário, principalmente se forem feitas contra o regime. Como implicam uma violação do espaço aéreo da Síria, enviam uma mensagem sobre a falta de força e credibilidade de Assad. Por outro lado, se estas não forem para a frente depois do ultimato do Grupo Internacional de Apoio isso será visto como mais uma capitulação perante o regime, que há mais de cinco anos desafia resoluções da ONU e ultimatos de países ocidentais e árabes.