EUA, França e Reino Unido querem aviões a distribuir ajuda humanitária na Síria
Pela primeira vez desde há quatro anos, a zona de Daraya, bloqueada pelo regime, recebeu medicamentos.
Os EUA, a França e o Reino Unido apelaram à ONU para que comece a fazer distribuição aérea de ajuda humanitária à Síria. O anúncio surge um dia depois de, pela primeira vez desde 2012, ter sido rompido o bloqueio governamental a um subúrbio de Damasco onde vivem cerca de quatro mil pessoas.
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Os EUA, a França e o Reino Unido apelaram à ONU para que comece a fazer distribuição aérea de ajuda humanitária à Síria. O anúncio surge um dia depois de, pela primeira vez desde 2012, ter sido rompido o bloqueio governamental a um subúrbio de Damasco onde vivem cerca de quatro mil pessoas.
Na quarta-feira, depois de acordada uma trégua de 48 horas, as Nações Unidas e a Cruz Vermelha conseguiram fazer chegar medicamentos a Daraya, uma localidade controlada pelos rebeldes que está cercada por forças do regime há quatro anos e que já viu desaparecer 90% da sua população.
Desde o cessar-fogo de 27 de Fevereiro (que tem sido sucessivamente violado) que o Governo permite pontualmente a chegada de ajuda a algumas áreas do país. Mas até agora recusou sempre a entrada de auxílio em Daraya, apesar de múltiplos apelos da população, da ONU e de várias organizações humanitárias.
Segundo Comité Local de Coordenação (uma rede de activistas da oposição ao regime de Assad), apenas chegaram medicamentos e nenhum alimento, apesar de a população sofrer de graves carências e malnutrição. “É uma boa notícia os habitantes de Daraya terem conseguido receber a sua primeira distribuição de ajuda desde 2012, mas é chocante e completamente inaceitável que os camiões não tenham sido autorizados a transportar alimentos”, critica também Sonia Khush, responsável do Save the Children na Síria, num comunicado citado pela AFP.
Mais de 4,5 milhões de pessoas continuam a viver em zonas cercadas ou de difícil acesso, e no mês passado só 3% receberam ajuda da ONU, adianta esta ONG.
A partir de Genebra, o enviado especial das Nações Unidas, Staffan de Mistura, avisou também que “muitos civis estão em risco de morrer de fome” em várias localidades, incluindo Daraya.
A zona deveria ter recebido a sua primeira distribuição de ajuda a 12 de Maio, mas os camiões viram a entrada recusada pelas forças do regime, “apesar de terem a autorização de todas as partes”, adiantou o Crescente Vermelho.
Depois de pressões do seu aliado russo a suspender os bombardeamentos contra as zonas controladas pelos rebeldes no Sudoeste de Damasco, para possibilitar as negociações de paz, o regime aceitou, numa iniciativa de Moscovo e coordenada por Washington, uma trégua de 48 horas em Daraya.
Para Basma Kodmani, membro do Alto Comité Negocial (HCN) que reúne os principais representantes da oposição e da rebelião síria, “os russos claramente exerceram a sua pressão”. “[Mas] nós queremos uma mudança radical de estratégia, o fim da estratégia da fome”.
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança da ONU vai reunir-se para debater a questão da distribuição aérea de auxílio. O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, John Kirby, afirmou que centenas de milhares de sírios precisam de ter um acesso “regular e sustentado” à ajuda humanitária. O Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU já detalhou ao Governo americano a forma como essa ajuda pode ser efectuada, adiantou o mesmo responsável.
Em Fevereiro, o PAM distribui 21 paletes de ajuda em Deir al-Zour, uma área controlada pelo Governo, no Leste da Síria. Mas essa operação foi um falhanço, uma vez que 10 das paletes desapareceram, sete caíram em zonas desertas e quatro ficaram danificadas, avança a BBC.
“O regime de Assad aprovou cinicamente pequenas quantidades de auxílio… mas tem falhado o acesso humanitário que tem sido exigido pela comunidade internacional”, comentou o chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond. Por isso, “apesar de as ajudas aéreas serem complexas, dispendiosas e arriscadas [o Governo sírio não garantiu corredores aéreos seguros para esses voos], são o último recurso para aliviar o sofrimento humano em muitas das áreas cercadas”.