Greve dos transportes em França aumenta braço-de-ferro com o Governo

Nas vésperas do Euro 2016, autoridades do Turismo temem que a contestação social afaste os visitantes.

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Paralização na refinaria da Total em Donges, no Oeste da França, a 27 de Maio JEAN-SEBASTIEN EVRARD/AFP

A maior parte das refinarias francesas estão fechadas, os controladores aéreos estão em greve, os funcionários das companhias eléctricas também. Em Junho, os pilotos da Air France prometem deixar os aviões em terra durante seis dias. E agora, pela oitava vez desde Março, param também serviços ferroviários – ao final da tarde desta terça-feira, 40% dos TGVs e cerca de 60% dos comboios regionais ficarão sem circular. A rua está contra o Governo, mas o Presidente François Hollande garante que a controversa reforma da lei do trabalho, que está na origem da paralisação de vários sectores do país, “não vai ser retirada”.

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A maior parte das refinarias francesas estão fechadas, os controladores aéreos estão em greve, os funcionários das companhias eléctricas também. Em Junho, os pilotos da Air France prometem deixar os aviões em terra durante seis dias. E agora, pela oitava vez desde Março, param também serviços ferroviários – ao final da tarde desta terça-feira, 40% dos TGVs e cerca de 60% dos comboios regionais ficarão sem circular. A rua está contra o Governo, mas o Presidente François Hollande garante que a controversa reforma da lei do trabalho, que está na origem da paralisação de vários sectores do país, “não vai ser retirada”.

“O texto [da lei] garante a melhor performance para as empresas e dá novos direitos aos empregados”, defendeu Hollande ao jornal regional Sud Ouest. “Recuar seria uma falha política”, comentou o primeiro-ministro, Manuel Valls, perante os deputados socialistas.

A nova legislação do trabalho (que tem ainda de ser discutida e aprovada pelo Senado) facilitará contratações e despedimentos, e permitirá que as empresas imponham 46 horas de trabalho semanais (ou até mesmo 60, em circunstâncias excepcionais) em vez das 35 horas actualmente em vigor no país. O trabalhador seria compensado com outros dias de trabalho mais curtos, garantindo que a média das 35 horas seria cumprida num período de três meses. O objectivo seria permitir às empresas conquistar novos mercados e melhorar os seus rendimentos, argumentam os seus defensores.

Por seu lado, as centrais sindicais CGT e FO  acreditam que a lei El Khomri (o nome da ministra do Trabalho, Myriam El Khomri) vai apenas aumentar a precarização, diminuir os direitos dos assalariados e facilitar os despedimentos. Apesar de uma legislação mais protectora dos trabalhadores do que, por exemplo, a britânica ou alemã, o desemprego em França está nos 10,5%, comparado com 5,4% no Reino Unido e 4,8% na Alemanha (em Portugal é de 12,4%). Mas a produtividade dos franceses também é maior (é, aliás, uma das mais elevadas da Europa) e esse é um dos argumentos usados pelos sindicatos para defender que não deve haver alterações.

Em finais de Março, saíram à rua para protestar contra o novo Código do Trabalho 1,2 milhões de pessoas em 250 cidades francesas, segundo os organizadores – ou 390 mil, nas contas da polícia. Na semana passada, uma greve geral parou o país, e algumas marchas levaram a confrontos com a polícia.

Na próxima semana, e até ao dia 10 de Julho, a França começa a acolher o Euro 2016, campeonato europeu de futebol. Os responsáveis pelo Turismo avisaram que toda esta instabilidade está a afastar os visitantes. “Cenas do tipo guerrilha no meio de Paris, divulgadas em todo o mundo, reforçam o sentimento de instabilidade e incompreensão”, comentou à AFP Frédéric Valletoux, presidente do Comité de Turismo de Paris. A imagem de uma cidade segura já tinha sido prejudicada pelos ataques do autoproclamado Estado Islâmico, que em Novembro mataram 130 pessoas. “Ainda vamos a tempo de salvar a época turística acabando com estes bloqueios” antes do Euro 2016, adiantou.

Para o diário Libération, alinhado à esquerda, “a porta de saída existe. Falta só querer abri-la”.

Contestação na Bélgica

Também na Bélgica terça-feira foi dia de contestação. Greves e manifestações fizeram parar os serviços públicos, desde a rede de transportes a escolas.

Os sindicatos do país organizaram uma jornada contra a coligação de centro-direita dirigida por Charles Michel. O protesto visa impedir alterações à legislação que elevariam para os 67 anos a idade de reforma, e trariam desinvestimento em sectores públicos, para além de alterações fiscais consideradas demasiado favoráveis para os mais ricos e para as empresas. Também os trabalhadores ferroviários estão em greve desde 26 de Maio, contra uma alteração nos seus dias de descanso, refere o Le Monde.

As manifestações não terminarão aqui. Há mais protestos e greves gerais planeados para os dias 24 de Junho e 7 de Outubro.