Cerca de 700 migrantes podem ter morrido em três naufrágios no Mediterrâneo
"Nunca saberemos o número exacto, nunca conheceremos as suas identidades", escreveu no Twitter Carlotta Sami, porta-voz do ACNUR.
Setecentas pessoas — 40 delas crianças — poderão ter morrido na última semana na costa líbia, no naufrágio de três barcos que transportavam refugiados e imigrantes que queriam chegar à Europa.
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Setecentas pessoas — 40 delas crianças — poderão ter morrido na última semana na costa líbia, no naufrágio de três barcos que transportavam refugiados e imigrantes que queriam chegar à Europa.
”A situação e caótica, não temos a certeza sobre os números, mas acreditamos que podem ter morrido até 700 pessoas nos três naufrágios, disse à AFP Federico Fossi, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Fossi disse que num só naufrágio terão morrido 500 pessoas.
Chegados ao porto italiano de Tarento, na Sicília, os sobreviventes de um dos naufrágios contaram ao ACNUR e à organização Save the Children que o seu barco se afundou na quinta-feira em condições dramáticas, depois de ter deixado Sabrata, na Líbia.
“Nunca saberemos o número exacto, nunca conheceremos as suas identidades, mas os sobreviventes dizem que mais de 500 pessoas se afogaram”, escreveu no Twitter Carlotta Sami, outra porta-voz do ACNUR.
Na quarta-feira já tinha naufragado um barco — centenas de desaparecidos. Na sexta-feira outro — a Marinha italiana resgatou do mar 45 corpos.
A Save the Children recolheu relatos de sobreviventes que contaram ter embarcado num conjunto de duas embarcações (um barco de pesca rebocava um bote pneumático e juntos transportavam perto de 1100 pessoas).
“O pneumático começou a afundar, algumas pessoas tentaram nadar até ao outro barco, outros agarraram-se ao cabo que ligava as duas embarcações...”, contou à AFP a porta-voz da Save the Children na Sicília, Giovanna Di Benedetto.
“Não conseguíamos tirar a água do barco. Usámos as mãos, copos de plástico. Durante duas horas lutámos, mas em vão. A água começou a inundar o barco e os que estavam na frente não tiveram qualquer hipótese. Morreram mulheres, homens, crianças, muitas crianças”, contou ao jornal La Stampa uma rapariga nigeriana. O jornal ouviu outras testemunhas que contaram que o homem que comandava o grupo cortou o cabo, e a ricochete que deu matou um migrante — o homem foi detido ao chegar à Sicília.
Os responsáveis da Organização Internacional das Migrações (OIM) já tinham alertado, no final da semana, para um aumento do fluxo de pessoas na travessia do Mediterrâneo, fazendo prever o regresso aos níveis registados no ano passado. No total, numa única semana foram resgatadas mais de 13 mil pessoas do Mediterrâneo.
Porém, até ao momento, o número de mortos mantinha-se abaixo dos números registados no ano passado – uma realidade que mudou de forma drástica.
Uma das explicações para esta nova vaga de migrantes ao largo da Líbia é a chegada do tempo ameno – o mar está inesperadamente calmo para esta altura do ano. Na Líbia, estão concentradas centenas de milhares de pessoas à espera de uma oportunidade de se fazerem ao Mediterrâneo, na tentativa de entrarem num país da União Europeia.
Mas os receios de que sírios, afegãos e iraquianos, bloqueados pelo encerramento da rota dos Balcãs (com passagem da Turquia para a Grécia pelo Mediterrâneo), passem a usar a Líbia como principal rota de fuga ainda não se concretizaram. A quase totalidade dos que querem passar da Líbia para Itália é oriunda de países subsarianos.
Os centros de acolhimento já estão a ficar sobrelotados na Sicília. As autoridades italianas estão a transportar migrantes para a Calábria (Sul de Itália), onde este domingo devem chegar 135 sobreviventes e 45 corpos, diz o jornal The Guardian.
Antes da vaga desta semana, 44 mil refugiados e imigrantes tinham chegado à Europa desde o início deste ano - no mesmo período do ano passado tinham sido 47.400. Mas a grande alteração das rotas no ano passado, do Mediterrâneo Central para o Mar Egeu, deu-se a partir do início do Verão.