Avião da Egyptair sacudido por duas mudanças bruscas antes de queda vertiginosa
Autoridades da Grécia dizem que destroços encontrados não são do Airbus A320. Especialistas e governantes dizem ser pouco provável que tenha havido falhas técnicas.
Ainda é cedo para perceber o que provocou a queda de um avião da principal companhia do Egipto no mar Mediterrâneo, na madrugada de quinta-feira, quando estava prestes a chegar ao Cairo com 66 pessoas a bordo, entre as quais um cidadão português. Daquilo que se sabe sobre os últimos minutos do voo é provável que as dúvidas demorem algum tempo a ser esclarecidas – pouco depois de o piloto ter respondido aos controladores aéreos da Grécia de forma aparentemente bem-disposta, o avião foi sacudido por duas mudanças bruscas de direcção e mergulhou cerca de sete quilómetros antes de desaparecer dos radares.
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Ainda é cedo para perceber o que provocou a queda de um avião da principal companhia do Egipto no mar Mediterrâneo, na madrugada de quinta-feira, quando estava prestes a chegar ao Cairo com 66 pessoas a bordo, entre as quais um cidadão português. Daquilo que se sabe sobre os últimos minutos do voo é provável que as dúvidas demorem algum tempo a ser esclarecidas – pouco depois de o piloto ter respondido aos controladores aéreos da Grécia de forma aparentemente bem-disposta, o avião foi sacudido por duas mudanças bruscas de direcção e mergulhou cerca de sete quilómetros antes de desaparecer dos radares.
O avião Airbus A320 da companhia EgyptAir levantou voo do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, às 23h09 de quarta-feira (22h09 em Portugal continental), e deveria ter aterrado no Cairo às 3h05 da madrugada de quinta-feira (2h05 em Portugal continental). A bordo seguiam 56 passageiros e dez tripulantes, a maioria de nacionalidade egípcia (30), mas também 15 franceses e 11 outras pessoas de outras tantas nacionalidades.
"Confirmamos que estava um português a bordo deste avião que caiu, com 62 anos, inscrito no consulado de Joanesburgo, mas com residência em Lisboa. Tinha quatro filhos e era o responsável da Mota-Engil para os mercados africanos", disse à agência Lusa o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro. O mesmo governante disse que já tinha contactado familiares da vítima, transmitindo-lhes as condolências "em nome do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do primeiro-ministro".
"O nosso gabinete de emergência consular já está a manter contactos com os nossos serviços consulares e diplomáticos em França e no Egipto por forma a podermos dar o apoio necessário às diligências que se vão seguir, caso se confirme a morte de todos os passageiros, como o registo e a trasladação", disse José Luís Carneiro.
Ainda não foram encontrados destroços
Após quase 12 horas de buscas foi anunciado que tinham sido descobertos destroços na zona onde o Airbus A320 desapareceu dos radares, incluindo pedaços de plástico e pelo menos dois coletes salva-vidas, que flutuavam a cerca de 370 quilómetros da ilha de Creta.
Ao fim da tarde de quinta-feira, a companhia aérea EgyptAir publicou um comunicado onde se lia que o Ministério da Aviação Civil do Egipto tinha recebido uma comunicação oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país "a dar conta da descoberta de destroços do avião desaparecido n.º MS 804 perto da ilha de Karpathos".
Duas horas antes, a mesma companhia tinha negado essa informação: "Em relação às notícias de que foram encontrados destroços do voo da EgyptAir, a companhia contactou as autoridades responsáveis, que não confirmaram a veracidade dessa informação."
Depois de toda esta confusão de informações, o responsável pela equipa de investigação grega, Athanasios Binis, sentenciou que os coletes salva-vidas encontrados ao largo da ilha de Karpathos não são do voo MS804 da EgyptAir. "Uma inspecção aos objectos encontrados revelou que não faziam parte do aparelho", disse Athanasios Binis.
Durante várias horas, as autoridades do Egipto e a companhia aérea recusaram-se a afirmar que o avião tinha caído, dizendo que seria preciso encontrar destroços para se pudesse deixar de dizer que estava apenas "desaparecido". Mas, a meio da manhã de quinta-feira, o Presidente francês, François Hollande, disse o que todos pensavam, já que não tinha sido recebido nenhum sinal de socorro e o aparelho não tinha aterrado em nenhum aeroporto nas redondezas.
"Temia-se que este avião se tivesse despenhado. A informação que conseguimos reunir confirma que o avião efectivamente se despenhou e desapareceu", disse o Presidente francês. Quanto às causas, Hollande repetiu o que todos os outros responsáveis franceses, gregos e egípcios disseram antes e depois dele: é preciso ter cuidado com as especulações.
"Temos a obrigação de saber tudo sobre as causas. Nenhuma hipótese deve ser afastada. As autoridades gregas e egípcias devem ter todas as condições para que possamos trabalhar em conjunto com elas. É isso que irá permitir descobrir a verdade", disse Hollande.
Falha técnica pouco provável
Mas por essa altura – a meio da manhã de quinta-feira, cerca de 12 horas depois do desaparecimento do avião – já não era possível descartar várias teses de especialistas e até de alguns responsáveis políticos, mesmo que as suas frases começassem ou acabassem sempre com a ressalva de que tudo não passava de uma especulação: ao reconstituir os últimos minutos do voo, a hipótese de uma explosão a bordo era não só possível como a mais provável.
Foi isso que disse à rádio Europe 1 um antigo presidente da autoridade francesa que investiga os acidentes aéreos, Jean-Paul Troadec. "Podemos avançar algumas hipóteses. Há uma forte possibilidade de ter ocorrido uma explosão a bordo, de uma bomba ou de uma bomba activada por uma bombista suicida. A ideia de um acidente por razões técnicas com condições meteorológicas tão favoráveis é possível, mas não provável. Podemos também falar de um míssil, que foi o que aconteceu no caso do avião da Malaysia Airlines, em Julho de 2014", disse o especialista, referindo-se ao abate do voo MH17 com destino a Kuala Lumpur, na Malásia, quando sobrevoava o Leste da Ucrânia.
O ministro da Aviação Civil do Egipto, Sherif Fathy, que dava uma conferência de imprensa no momento em que foi anunciada a descoberta de destroços, começou por dizer que não era ainda possível afirmar sequer que o avião tinha caído, mas um pouco mais tarde, em declarações à agência AFP, acabou por corroborar a tese de Jean-Paul Troadec – a hipótese de um ataque terrorista "é mais provável" do que um acidente provocado por problemas técnicos ou por uma queda provocada por um dos pilotos, como aconteceu com o voo 4U9525 da companhia alemã Germanwings, em Março de 2015.
"A situação pode – e digo bem, pode, porque não quero especular – dar a entender que a probabilidade, a possibilidade, de uma acção a bordo, um ataque terrorista, é maior do que uma falha técnica. Mas eu não quero tirar conclusões precipitadas", disse o ministro egípcio.
Queda súbita
A ideia de que a causa mais provável foi uma acção deliberada e não uma falha técnica ganhou forma assim que as autoridades gregas começaram a reconstituir o voo – as comunicações com as torres de controlo, a velocidade e as bruscas variações na direcção e na altitude.
O responsável pelo espaço aéreo da Grécia, Konstantinos Lintzerakos, disse que as autoridades gregas estiveram em contacto com o piloto enquanto o avião sobrevoou a maior parte do espaço aéreo do país. Lintzerakos disse que o avião seguia a uma altitude de 37 mil pés (mais de 11 quilómetros) e a 835 quilómetros por hora, sem nunca ter sido reportada qualquer anomalia.
Um pouco mais tarde, por volta das 2h26 da madrugada (1h26 em Portugal continental), foi feita mais uma comunicação entre uma torre de controlo grega e o avião, e as autoridades do país dizem que não só o piloto respondeu como "estava bem-disposto e agradeceu ao controlador em grego" – de acordo com a EgyptAir, o piloto tinha 6275 horas de voo, incluindo 2101 aos comandos de um Airbus A320.
Mas apenas 11 minutos depois, às 2h37 (1h37 em Portugal continental), quando o Airbus A320 tinha acabado de entrar no espaço aéreo do Egipto, foram registadas duas mudanças bruscas de direcção, primeiro uma viragem de 90 graus para a esquerda e em seguida um rodopio de 360 graus para a direita, iniciando então uma vertiginosa descida dos 11 quilómetros de altitude a que seguia para cerca de três quilómetros, desaparecendo dos radares.
As operações de busca concentraram-se ao largo das ilhas gregas de Karpathos, entre Creta e Rhodes, já em espaço aéreo egípcio, a cerca de 280 quilómetros das costas do Egipto.