Vinhos de Portugal chegam à Barra da Tijuca
Num ano de crise no Brasil faz sentido apostar neste mercado? Jorge Monteiro da ViniPortugal, parceiro do evento organizado pelo PÚBLICO e O Globo, garante que sim. "Com outros países a desinvestir, é uma oportunidade para ganharmos quota de mercado". E é "o momento de avançar para São Paulo".
O Vinhos de Portugal no Rio – iniciativa dos jornais PÚBLICO e O Globo em parceria com a ViniPortugal – está de volta pelo terceiro ano consecutivo. Sessenta e seis produtores de todas as regiões vinícolas do país estão já no Rio de Janeiro para os três dias de mercado de vinhos, provas, workshops e muitas conversas em torno do vinho – a partir de amanhã e até domingo.
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O Vinhos de Portugal no Rio – iniciativa dos jornais PÚBLICO e O Globo em parceria com a ViniPortugal – está de volta pelo terceiro ano consecutivo. Sessenta e seis produtores de todas as regiões vinícolas do país estão já no Rio de Janeiro para os três dias de mercado de vinhos, provas, workshops e muitas conversas em torno do vinho – a partir de amanhã e até domingo.
Depois de no primeiro ano ter enchido o Palácio São Clemente, residência do cônsul de Portugal no Rio, e de no ano passado se ter instalado no belíssimo cenário do Jockey Club, este ano o evento muda-se para outra zona da cidade: o CasaShopping na Barra da Tijuca. O aumento do custo do aluguer do Jockey em ano de Jogos Olímpicos esteve na origem da decisão, mas, sublinham os organizadores, a mudança terá a vantagem de permitir chegar a novos públicos.
“Nunca ficámos no mesmo lugar”, diz Simone Duarte, directora do PÚBLICO para a internacionalização, e “este ano vamos estar naquele que é o maior shopping de decoração da América Latina e também um grande pólo de restauração”, na Barra da Tijuca, onde está o Parque Olímpico dos Jogos Rio 2016. A expectativa, segundo o director executivo de audiência do Globo, Maurício Lima, é de um público de cerca de dez mil pessoas - no ano passado nove mil pessoas estiveram no evento. As entradas para o Vinhos de Portugal no Rio podem ser compradas pela Internet até às 9h da manhã de sexta-feira, o dia da abertura, ou depois no local, sempre sujeitas à capacidade de lotação da sala.
O modelo é semelhante ao dos anos anteriores, com o mercado de vinhos a decorrer em dez sessões de duas horas abertas ao público (o preço de entrada é de 110 reais mais taxas) e uma destinada aos profissionais (amanhã entre as 10h e as 12h30). Volta também o “copo inteligente” que inclui um chip que permite depois receber as informações sobre os vinhos provados.
A par do mercado, decorrem durante os três dias provas, harmonizações (queijos e doces) e cursos (110 reais, com excepção das provas especiais, que custam 130 reais mais taxas) com críticos portugueses e brasileiros, além do Master of Wine brasileiro Dirceu Vianna Júnior – este ano, do lado português junta-se aos críticos do PÚBLICO Luís Lopes, director da Revista de Vinhos. Entre as provas mais procuradas estão as do Porto Clássico por Manuel Carvalho, Grandes Tintos, por Pedro Garcias, e Grandes produtores, safras históricas, na qual Dirceu Vianna Júnior vai comparar o mesmo vinho em diferentes anos de colheitas especiais.
Outra novidade que Simone Duarte destaca é o facto de este ano ter-se ampliado a venda de vinhos após os visitantes saírem do mercado. Na loja da Deli Delícia, um dos patrocinadores do evento desde o primeiro ano, estarão à venda muitos dos vinhos que os visitantes poderão provar no mercado. Os restaurantes do CasaShopping – que também é patrocinador – instauraram o sistema “rolha zero” que permite aos clientes consumirem no local uma garrafa levada por eles sem pagamento adicional.
O Vinhos de Portugal no Rio ganhou este ano novos parceiros: mais duas comissões vitivinícolas (Alentejo e Dão, que se juntam a Setúbal e ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto), a Universidade de Coimbra e, do lado brasileiro, o Senac, instituição ligada ao ensino profissional nas áreas de comércio, serviços e turismo e também patrocinador do evento.
Para além das provas especiais, há, como no ano passado, um espaço para encontros informais – o Tomar um Copo. “O número de sessões do Tomar um Copo triplicou”, refere Simone Duarte. “É uma forma de envolver mais regiões diferentes e permite o contacto com os críticos e os vinhos de forma mais descontraída do que as provas formais. Ali pode-se falar não só do vinho mas da região, do enoturismo, ao mesmo tempo que se provam sempre dois vinhos.”
É neste espaço do Tomar um Copo que vai estar presente a Universidade de Coimbra. “É a relação que a Universidade tem com o Brasil que explica a vontade de nos associarmos a este evento”, diz a vice-reitora Clara Almeida Santos. “Vamos associar a gastronomia à cultura portuguesa, neste caso através de Eça de Queirós e com a ajuda de Carlos Reis, um grande especialista mundial neste autor, e de Adriana Calcanhotto, embaixadora da Universidade de Coimbra no Brasil e, como ela diz, "por todo o mundo.”
A ideia é “dar a volta ao país, nas suas várias regiões vitivinícolas, associando a cada uma a prosa queirosiana”. Clara Almeida Santos lembra que “em todos os romances de Eça há sempre alguém que passou por Coimbra; logo em Os Maias temos o Carlos da Maia e o João da Ega que estiveram em Coimbra.” Além, claro, do próprio Eça, “apesar de ele ser muito crítico da Universidade, que no século XIX era ainda muito fradesca”. Hoje estão em Coimbra muitos alunos vindos do Brasil (são cerca de 2000), grande parte deles no curso de Direito. E, sobretudo, há imensos turistas que vêm conhecer a Universidade histórica. Daí que, segundo a vice-reitora, faça sentido esta associar-se ao Vinhos de Portugal no Rio. “Vamos partir do vinho para chegarmos a Coimbra”, afirma.
E, do ponto de vista dos produtores, continua a fazer sentido apostar no Brasil numa altura em que o país está mergulhado numa crise? Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal, não tem dúvidas que sim por todas as razões que já existiam no passado e ainda mais uma: “Portugal é uma marca forte no Brasil e neste momento é provável que as marcas com presenças menos acentuadas se retraiam. Países como a Espanha ou Itália podem estar a desinvestir porque não é um mercado tão relevante para eles como é para nós. Por isso é uma oportunidade para ganharmos quota de mercado. E, mesmo que isso não viesse a acontecer, faria sentido o investimento para atenuar eventuais perdas.”
Por enquanto, o que as estatísticas e as informações recolhidas junto dos importadores no Brasil mostram é que “não houve uma redução do consumo de vinho mas houve uma alteração dos critérios de preço”. Ou seja, os brasileiros perderam algum poder de compra e estão a optar por vinhos mais baratos. Tendo isso em conta, Jorge Monteiro diz que se estivesse no lugar do produtor “colocaria o foco de promoção numa gama ajustada à realidade que se está a viver no Brasil, com menor oferta de vinhos topo de gama e mais de gama média-alta ou média.”
Para além do estado da economia, os produtores que apostam no mercado brasileiro continuam a confrontar-se com um problema estrutural mais difícil de resolver: os custos logísticos elevados, que se somam aos impostos. “Um vinho que sai de Portugal a cinco euros é colocado à venda no Brasil a 80 ou 100 dólares”, explica Jorge Monteiro. “Numa situação económica complicada, admito que os importadores e distribuidores tenham que mexer nas suas margens.”
A grande vantagem de um evento como o Vinhos de Portugal no Rio, argumenta ainda o responsável da ViniPortugal, é que permite um contacto directo com os consumidores. “Estes eventos virados para os consumidores fazem todo o sentido. Continuamos a trabalhar o mercado mas já nos aproximamos muito dos momentos de consumo e essa é uma oportunidade para mostrar a diversidade da nossa gama de vinhos.”
Esta estratégia faz sentido, defende Jorge Monteiro, em mercados onde os vinhos portugueses já conquistaram uma quota acima dos 10%. No estado do Rio essa quota média é actualmente de 30% (sendo no Brasil de 12%). “A seguir ao Rio, onde temos uma quota significativa é no estado de São Paulo. Por isso acreditamos que está na hora de avançarmos para São Paulo. Em Salvador ou Fortaleza, por exemplo, temos quotas boas mas o mercado é exíguo. Em São Paulo estamos a falar de um grande mercado metropolitano com uma quota relevante. Devemos fazer o evento lá e o momento certo é este”, defende.