Passos Coelho já tem a sua causa
Em vez de esclarecer o país, o Governo pede explicações ao líder da oposição.
O Governo reagiu com pompa e circunstância a uma afirmação de Pedro Passos Coelho, num jantar comemorativo do 42.º aniversário do PSD realizado sábado à noite, segundo a qual o actual ministro da Educação “parece que representa outros interesses, que não são os da comunidade em geral”. Mais, Passos insinuava que Tiago Brandão Rodrigues só era ministro “formalmente” porque, “na prática, começamos a ter dúvidas que ele seja verdadeiramente o ministro da Educação”. O líder do PSD falava no contexto do conflito que opõe o governante aos colégios privados devido aos cortes previstos ao financiamento público destes estabelecimentos de ensino. O Governo reagiu no dia seguinte, pela voz de Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, exigindo explicações a Passos e qualificando as suas acusações de “inaceitáveis”. Ontem, foi a vez de a ministra da Presidência, um peso-pesado do Governo, marcar uma conferência de imprensa para tratar exclusivamente do assunto. Não apenas na óptica de pedir explicações a Passos, mas também com o objectivo de apoiar politicamente Tiago Brandão Rodrigues. Dizer que a medida anunciada a semana passada “é uma decisão de todo o Governo, baseada exclusivamente no interesse público”, é distribuir o peso da contestação por todos os ombros dos membros do Conselho de Ministros. E impedir o isolamento político do ministro da Educação.
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O Governo reagiu com pompa e circunstância a uma afirmação de Pedro Passos Coelho, num jantar comemorativo do 42.º aniversário do PSD realizado sábado à noite, segundo a qual o actual ministro da Educação “parece que representa outros interesses, que não são os da comunidade em geral”. Mais, Passos insinuava que Tiago Brandão Rodrigues só era ministro “formalmente” porque, “na prática, começamos a ter dúvidas que ele seja verdadeiramente o ministro da Educação”. O líder do PSD falava no contexto do conflito que opõe o governante aos colégios privados devido aos cortes previstos ao financiamento público destes estabelecimentos de ensino. O Governo reagiu no dia seguinte, pela voz de Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, exigindo explicações a Passos e qualificando as suas acusações de “inaceitáveis”. Ontem, foi a vez de a ministra da Presidência, um peso-pesado do Governo, marcar uma conferência de imprensa para tratar exclusivamente do assunto. Não apenas na óptica de pedir explicações a Passos, mas também com o objectivo de apoiar politicamente Tiago Brandão Rodrigues. Dizer que a medida anunciada a semana passada “é uma decisão de todo o Governo, baseada exclusivamente no interesse público”, é distribuir o peso da contestação por todos os ombros dos membros do Conselho de Ministros. E impedir o isolamento político do ministro da Educação.
A ambiguidade das palavras do líder da oposição sobre o ministro é, no mínimo, perigosa, pois os incautos poderão interpretá-la de forma lesiva para o bom nome do titular da Educação. Para bem da política, espera-se que não tenha sido essa a intenção de Passos e, nessa medida, só lhe ficaria bem vir a terreiro desfazer esse tipo de equívocos. Até porque é óbvio que o objectivo essencial das suas declarações é enfraquecer um dos ministros politicamente mais frágeis do Executivo. Não só por não ter traquejo político, mas também por dirigir um dos ministérios mais complicados onde, é bom lembrar, até antecessores bem mais experientes falharam. Daí não ser de estranhar que Tiago Brandão Rodrigues já esteja sob fogo cruzado dos lobbies do sector. Por decisões polémicas, diga-se, como no caso dos exames dos 4.º e 6.º anos ou desta agora. Depois, há a armadilha em que se deixou apanhar a propósito das reuniões trimestrais com os sindicatos da Educação para avaliação das políticas em curso, num modelo sugere uma dependência do ministro face aqueles órgãos representativos dos professores.
Ora os problemas deste governante são música celestial para os ouvidos de Passos Coelho, cujas dificuldades na oposição têm sido evidentes. Acossado por um CDS que já encontrou o seu caminho, Passos precisa desesperadamente de uma causa. Tentou fragilizar Mário Centeno, mas não encontrou aliados. Descobriu-a agora numa mistura explosiva que inclui crianças, pais, professores… e a Igreja. E o Governo ajuda porque, em vez de esclarecer o país até à exaustão, lhe pede explicações. Pior é impossível.