Salvos do esquecimento em 2015, os tronos de Santo António estão de volta
A EGEAC volta a convidar os moradores de Lisboa a decorarem um trono em homenagem ao santo mais querido de Lisboa. Nos dias 4 e 5 de Junho as obras estarão expostas nas ruas da cidade para quem as quiser ver.
Depois de terem sido resgatados do esquecimento em 2015, os Tronos de Santo António estão de volta. Sejam “alfacinhas de gema” ou “adoptados”, “religiosos devotos” ou “fervorosos descrentes”, todos estão convidados para decorar um trono e assim homenagear o santo preferido de Lisboa e ao mesmo tempo contribuir para o reavivar de uma tradição secular.
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Depois de terem sido resgatados do esquecimento em 2015, os Tronos de Santo António estão de volta. Sejam “alfacinhas de gema” ou “adoptados”, “religiosos devotos” ou “fervorosos descrentes”, todos estão convidados para decorar um trono e assim homenagear o santo preferido de Lisboa e ao mesmo tempo contribuir para o reavivar de uma tradição secular.
A iniciativa é da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), em parceria com o núcleo de Santo António do Museu de Lisboa, e insere-se na programação das Festas de Lisboa. Quem quiser participar tem que se inscrever até ao dia 15 de Maio, através da Internet ou na recepção do museu, no Largo de Santo António da Sé.
O desafio aos moradores de Lisboa para que decorassem um trono foi lançado pela primeira vez no ano passado. Nessa altura, o repto da empresa municipal resultou em 66 obras, espalhadas um pouco por toda a cidade, e num livro com fotografias de todas elas.
“Correu muito bem”, constata o coordenador do núcleo de Santo António, sublinhando que na iniciativa participaram “colectividades, lojas, muita gente individual, crianças, pessoas mais velhas”. “As pessoas gostaram muito da ideia e adoptaram-na logo”, acrescenta Pedro Teotónio Pereira com satisfação.
O responsável nota que “sempre houve” na cidade, principalmente em “bairros tradicionais” como Alfama, quem ao longo dos anos continuasse a fazer tronos, por exemplo em lojas e colectividades. Ainda assim, Pedro Teotónio Pereira reconhece que essa era “uma tradição que se ia perdendo” e que se conseguiu, com a visibilidade trazida pelas Festas de Lisboa, “relançar”. E, frisa em declarações ao PÚBLICO, fazer chegar a pessoas de diferentes classes etárias e com morada em pontos diversos de Lisboa.
Face ao sucesso alcançado em 2015, a EGEAC decidiu reincidir e convidar “crianças e adultos, indivíduos e colectividades, alfacinhas de gema ou adoptados, religiosos devotos ou fervorosos descrentes” para dar asas à sua criatividade e decorar um trono. Quem quiser pode utilizar uma estrutura base (em PVC) disponibilizada pelo Museu de Santo António, mas isso não é obrigatório.
Obrigatório sim é que o trono inclua uma imagem de Santo António e que os seus autores exponham a obra à porta de sua casa nos dias 4 e 5 de Junho. Todas as moradas, explica Pedro Teotónio Pereira, constarão de um roteiro digital, através do qual os interessados poderão ficar a saber onde se devem dirigir para ver os Tronos de Santo António.
“É mais um argumento para as pessoas passearem por Lisboa e verem os bairros enfeitados”, diz o coordenador do museu na Sé, explicando que quem conseguir fazê-lo poderá manter as suas obras no espaço público durante todo o mês de Junho. Depois de terminada a exposição está previsto o lançamento de uma publicação com fotografias dos tronos.
Com esta iniciativa assiste-se ao reavivar de “uma tradição profundamente enraizada na memória colectiva dos lisboetas”. Isso mesmo é destacado por Pedro Teotónio Pereira na obra “Tronos de Santo António”, editada em 2015 pela EGEAC. Nela o responsável lembra que o terramoto de 1755 “destruiu quase totalmente a Igreja de Santo António, resistindo apenas a cripta, o altar-mor e a imagem de Santo António que ainda hoje existe” e que “toda a população se empenhou na angariação de fundos para a sua reconstrução”.
“Conta-se que as crianças da cidade também quiseram participar, erguendo para isso pequenos tronos, ou altares, à porta das casas, pedindo o tradicional ‘cinco milreizinhos para o Santo António’”, continua Pedro Teotónio Pereira, explicando que foi assim que nasceram os tronos.
"Nos festejos de Santo António no século XVIII quase todas as casas de Lisboa tinham à sua porta o trono com a imagem de Santo António engalanados com uma profusão de velas de cera e flores. Ao longo do século XIX a tradição vai-se restringindo aos bairros populares”, constata ainda o coordenador do núcleo de Santo António do Museu de Lisboa. Ao PÚBLICO, o responsável conta ainda que em escritos do inglês William Beckford, datados do século XVIII, havia já descrições de Lisboa “cheia de pequenos altares” de homenagem a Santo António.