Dois discursos dominantes: o aziago, o da esperança
Sinceramente, não me parece que a situação do país mereça um continuado carpir.
A sustentabilidade do governo que se criou a partir das eleições de 4 de Outubro tem provocado um efeito curioso: Praticamente as diferenças partidárias anularam-se. É uma visão, porventura, simplista, mas vou tentar construir esta hipótese teórica. O linguajar decorrente no discurso da pátria está totalmente dicotomizado. Há dois linguajares predominantes: há um grupo cujo discurso, por mais ideologia escondida que tenha, é o grupo que toda a tónica do seu discurso tem um acento determinante: um discurso que não acredita neste governo como está formado e toda a lógica é desacreditar o que este governo vai fazendo, na esperança de ele a qualquer momento possa cair. Há o segundo grupo, apoiante da sustentabilidade do governo com maioria parlamentar, garantida pelo BE, pelo PCP e pelo PEV. Este grupo fala menos. Eu diria só quando é preciso. Apesar de ter maioria parlamentar, é público e notório que os primeiros têm mais vozes, cá fora e o seu discurso é sistemático e repetido. Contam com proeminentes empresários, bancários, agentes comerciais, experts em vários campos, um groso número de líderes de opinião e comentadores presentes nos mais diversos meios de comunicação social. É interessante verificar as suas principais fontes de informação e de argumentação. É um discurso fundamentalmente agoirento e pessimista. No fundo resume-se nesta máxima: Portugal, com este governo, a qualquer momento vai cair. Cair na "desgraça" económica e financeira, com o retorno à via da austeridade, imposta pela UE e o elenco dos credores. Não me interessa, por agora, discutir, os argumentos em que se baseiam, por certo, alguns até bem fundamentados. O que venho por agora chamar à atenção é o azedume permanente da sua argumentação. O seu "amor" por um patriotismo deve estar guardado para outros tempos. Nestes últimos meses foi evidente o malévolo sentido de agoiro: o Orçamento não vai passar (a Comissão Europeia vai chumbá-lo), o surrealista Programa Nacional de Reformas, o PRF terá o mesmo fim, tal como o Programa de Estabilidade (PE), e não tardam aí as anotações de rating a pôr tudo isto no lixo. Muito admirados ficaram, e disfarçadamente desolados, quando afinal a DBRS, é certo com certos avisos, mas não mandou para o lixo. Era reservadamente a única esperança que a gerigonça iria desmontar-se.
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A sustentabilidade do governo que se criou a partir das eleições de 4 de Outubro tem provocado um efeito curioso: Praticamente as diferenças partidárias anularam-se. É uma visão, porventura, simplista, mas vou tentar construir esta hipótese teórica. O linguajar decorrente no discurso da pátria está totalmente dicotomizado. Há dois linguajares predominantes: há um grupo cujo discurso, por mais ideologia escondida que tenha, é o grupo que toda a tónica do seu discurso tem um acento determinante: um discurso que não acredita neste governo como está formado e toda a lógica é desacreditar o que este governo vai fazendo, na esperança de ele a qualquer momento possa cair. Há o segundo grupo, apoiante da sustentabilidade do governo com maioria parlamentar, garantida pelo BE, pelo PCP e pelo PEV. Este grupo fala menos. Eu diria só quando é preciso. Apesar de ter maioria parlamentar, é público e notório que os primeiros têm mais vozes, cá fora e o seu discurso é sistemático e repetido. Contam com proeminentes empresários, bancários, agentes comerciais, experts em vários campos, um groso número de líderes de opinião e comentadores presentes nos mais diversos meios de comunicação social. É interessante verificar as suas principais fontes de informação e de argumentação. É um discurso fundamentalmente agoirento e pessimista. No fundo resume-se nesta máxima: Portugal, com este governo, a qualquer momento vai cair. Cair na "desgraça" económica e financeira, com o retorno à via da austeridade, imposta pela UE e o elenco dos credores. Não me interessa, por agora, discutir, os argumentos em que se baseiam, por certo, alguns até bem fundamentados. O que venho por agora chamar à atenção é o azedume permanente da sua argumentação. O seu "amor" por um patriotismo deve estar guardado para outros tempos. Nestes últimos meses foi evidente o malévolo sentido de agoiro: o Orçamento não vai passar (a Comissão Europeia vai chumbá-lo), o surrealista Programa Nacional de Reformas, o PRF terá o mesmo fim, tal como o Programa de Estabilidade (PE), e não tardam aí as anotações de rating a pôr tudo isto no lixo. Muito admirados ficaram, e disfarçadamente desolados, quando afinal a DBRS, é certo com certos avisos, mas não mandou para o lixo. Era reservadamente a única esperança que a gerigonça iria desmontar-se.
O segundo grupo nesta dicotomia discursiva para já, e no ênfase de análise que venho fazendo — a supremacia do agoiro e do pessimismo, manifestada de forma tão barata pelos fautores do primeiro discurso sobre Portugal — não desconhece a situação periclitante da situação política. Obviamente, sem ceder nos princípios que fazem parte do seu núcleo ideológico, que passam por um combate aos ditames castigadores da actual Europa, cerceando princípios identificadores de identidade de uma pátria, com medo e por isso fazendo tabu e proibindo a discussão mais do que lógica de do quadro das dívidas, vai apertando enquanto pode o governo de António Costa, mas com uma ideia muito fixa, evitar por tudo deitar abaixo o governo da gerigonça, pois ora é ele o única garante de a direita não voltar facilmente ao pode e implementar a sua política de efeitos bem conhecidos. Sem dar tréguas aos seus princípios ideológicos, o seu discurso mantém-se o mais coerente possível. A serenidade e inteligência estratégicas de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa têm sido notáveis.
Neste contexto, surge, felizmente, um presidente da República que tem uma habilidade, uma inteligência e sagacidade para estar no meio destes dois discursos, e geri-los de modo brilhante. Eu quase diria, reconhecendo a sapiência em gerência de comunicação, que, nestes primeiros tempos Marcelo Rebelo de Sousa tem exercido uma presidência comunicacionalmente. Tem sido ele quem tem mais contrariado o discurso depreciativo sobre Portugal. Tem sido ele que tem mais tem contrariado esse discurso desse enxame de aves agourentas. Por vezes, até com algum exagero, pois se é verdade que temos qualidades e talentos, não ultrapassamos muitos outros.
Obviamente, jornalismo e jornalistas distribuem-se pela caracterização deste dicotómico discurso: um altamente pessimista e sempre mais aziago; o do segundo grupo é sempre mais contido. Como já disse atrás, não tiro a razão a argumentos, porventura, até sólidos, aos agoirentos e pessimistas. E não é hoje o sentido desta minha intervenção. Mas sinceramente não me parece que a situação do país mereça um continuado carpir. Alguns deputados no estilo e linguajar utilizados nos seus discursos no Parlamento Europeu se pertencessem a agremiações que têm honras a defender já teriam sido expulsos das mesmas. E não se trata de liberdade de opinião ou expressão. Trata-se de não ultrajar dignidades pátrias.
É facilmente constatável que os jornalistas resvalam mais para o discurso do primeiro grupo. As incertezas protegem mais as actuações públicas. E provavelmente seguem a seguridade dos números e não ligam tanto a este estilo e clima de prenúncios sempre de modo prevalecente com um tom aziago. Mas deveriam preocupar-se em discernir melhor as posições.
Neste ponto de um discurso público, perdido na dicotomia de pessimista e esperançoso, sinceramente, o que me decepciona mais é a opinião pública. Hás estudos que comprovam que Portugal sempre teve uma opinião pública fraca. Sem intervenção forte, determinada. Admira-me, por exemplo, porque é que entre os leitores do PÚBLICO, não aparecem grupos, a pedir relatórios sobre situação clara do actual estado da banca portuguesa, sobre as soluções preconizadas para o BPP, BPN, CGD, BES; Banif, sobre gestores e beneficiários de empréstimos sem caução, quem são os responsáveis pelo grosso do crédito malparado e da falência desses bancos, sobre os casos de investigação policial mediáticos que se arrastam sem fim, e sobre tantos outros casos e situações que dizem respeito ao conhecimento de uma opinião pública activa e importada nas decisões que gerem a governança da cidade e do país. Talvez com atitudes destas não deixaríamos os fáceis maldizentes que prefiguram (e até parece que desejam) o afundamento do país, agoirando sempre para o virar da primeira esquina os maus tempos e até porque alguns ficariam "assustados", pois sabem bem os telhados de vidro que podem chamuscá-los.
Um diferendo entre duas jornalistas
Recebi da jornalista Diana Duarte, da RTP, uma queixa contra a jornalista Ana Cristina Pereira, a propósito de uma notícia publicada no PÚBLICO, a 25.04.2016. Trata-se de uma notícia sobre um estudante português, que terá sido vítima de ataque racista na Polónia. O caso teve ainda como consequência o afastamento de outros 15 alunos que estavam a fazer Erasmus, em Rzesgan. Li a queixa da Diana Duarte e a resposta da jornalista Ana Cristina Pereira. De qualquer modo reflecti sobre o assunto, mas cheguei à conclusão de que não sendo eu provedor dos jornalistas, mas dos leitores do PÚBLICO, a Diana Duarte se, entretanto, não chegar a acordo com a Ana Cristina Pereira, deverá apresentar a queixa ao Conselho de Redacção do PÚBLICO, a quem competirá dirimir a questão.
Provedor do Leitor