Ainda há luta no saloon, mas Trump e Clinton já preparam duelo ao pôr do Sol

Os adversários de Donald Trump no Partido Republicano têm uma das suas últimas oportunidades na próxima terça-feira. Se o magnata vencer no Indiana, a hipótese de uma convenção aberta será cada vez mais uma miragem.

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Não é segredo para ninguém que o sector mais tradicional do Partido Republicano preferia ver Donald Trump a construir arranha-céus em Manhattan e campos de golfe no Dubai do que a concorrer em seu nome à casa mais importante dos Estados Unidos. Mas, à medida que as eleições primárias se aproximam do fim, o autodenominado movimento "Never Trump" é cada vez mais um grito desesperado que vai sendo abafado a cada semana que passa, e que dificilmente impedirá um duelo Trump/Clinton nas eleições presidenciais de Novembro.

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Não é segredo para ninguém que o sector mais tradicional do Partido Republicano preferia ver Donald Trump a construir arranha-céus em Manhattan e campos de golfe no Dubai do que a concorrer em seu nome à casa mais importante dos Estados Unidos. Mas, à medida que as eleições primárias se aproximam do fim, o autodenominado movimento "Never Trump" é cada vez mais um grito desesperado que vai sendo abafado a cada semana que passa, e que dificilmente impedirá um duelo Trump/Clinton nas eleições presidenciais de Novembro.

Desta vez, o magnata esmagou os seus dois adversários nos cinco estados que foram a votos terça-feira e ficou a um passo de enterrar a discussão – Donald Trump, o homem que já ameaçava concorrer à Presidência dos EUA quando os UB40 agitavam as pistas de dança em todo o mundo com o sucesso Red Red Wine, em 1988, e que há cinco anos foi trucidado pelas piadas de Barack Obama no tradicional jantar dos correspondentes na Casa Branca, está prestes a cumprir o sonho de calar quem nunca acreditou que ele queria mesmo ser candidato.

A nomeação ainda não está matematicamente assegurada, mas o que aconteceu esta semana permite antecipar o cenário mais provável com um elevado grau de confiança.

Poucos dias depois de o senador Ted Cruz e o governador John Kasich terem feito, pela primeira vez, um acordo para tentarem travar Donald Trump, a resposta dos eleitores do Partido Republicano foi inversamente proporcional ao desejo dos seus adversários políticos – pela primeira vez desde que começaram as eleições primárias, em Fevereiro, Trump não só ganhou todas as votações realizadas num mesmo dia como venceu cada uma delas com mais de 50% dos votos.

Para piorar o cenário que ainda é acalentado pelo movimento anti-Trump no interior do Partido Republicano, a principal alternativa ao magnata do imobiliário, Ted Cruz, ficou em 3.º lugar em quatro dos cinco estados, atrás do governador John Kasich.

Entre os 54,4% no Maryland e os 63,8% em Rhode Island, Trump arrebatou também as votações no Delaware (60,8%), no Connecticut (57,7%) e na Pensilvânia (56,7%).

Mais importante do que isso, o candidato populista que tem baseado a sua campanha numa retórica de divisão e contra o que considera ser o discurso politicamente correcto, somou pelo menos mais 109 delegados, deixando apenas cinco para John Kasich e três para Ted Cruz. No total, Trump tem agora 954 delegados e faltam-lhe apenas 283 para atingir os mágicos 1237 – o número de delegados que fecha a porta a qualquer combate pela nomeação durante a convenção do partido.

Ora, se o melhor que o establishment do Partido Republicano tem para o representar nas primárias é Ted Cruz (o candidato anteriormente conhecido como anti-establishment) ou John Kasich (o candidato que tem menos delegados do que Marco Rubio, que já suspendeu a campanha há um mês e meio), é fácil antever um caminho muito difícil para quem ainda tenta impedir a nomeação de Donald Trump.

Os olhos da liderança do Partido Republicano estão agora postos na próxima terça-feira, nas primárias no estado do Indiana, que pode ser a última grande oportunidade para que Trump não chegue à convenção com os tais 1237 delegados – e ser arrastado para uma luta com Ted Cruz e John Kasich pela vitória em várias rondas de votações.

Com 57 delegados em jogo (e com a maioria deles a ser entregue ao candidato mais votado), John Kasich aceitou não lutar pela vitória no Indiana para aumentar as hipóteses de Ted Cruz, o que serviria para refrear os ânimos de Donald Trump. Mas mesmo que perca no Indiana, o magnata tem praticamente garantidas vitórias em Nova Jérsia (51 delegados e o vencedor fica com todos eles) e na Virgínia Ocidental (34 delegados distribuídos de forma proporcional). E ainda falta o colosso Califórnia, a 7 de Junho, com a maioria dos seus 172 delegados a ser atribuída ao vencedor, e onde Trump tem liderado as sondagens há vários meses.

No discurso de vitória na noite de terça-feira, o magnata fez questão de passar a mensagem de que tudo está resolvido: "Sem dúvidas que considero ser o presumível nomeado. O senador Cruz e o governador Kasich deviam sair da corrida. Não têm qualquer caminho para a vitória. Devíamos sarar as feridas do Partido Republicano, unir o Partido Republicano. Eu sou um unificador."

A política externa de Trump

E é essa imagem que Trump começa a querer transmitir, apesar de garantir que nunca será um político tradicional. Num sinal dessa mudança moderada de um candidato considerado por muitos como extremista, Trump marcou para esta quarta-feira um discurso sobre política externa, onde contou com a ajuda de um equipamento que sempre disse desprezar: o teleponto.

Durante o discurso, Trump fez desfilar as suas propostas de sempre com uma nova roupagem – uma linguagem mais polida para vestir as velhas ideias.

"Deixámos que os nossos rivais e adversários pensassem que podem fazer tudo o que querem. E podem", disse o candidato, numa variação da frase "A América já não vence em nada" que repete nos seus comícios. "Numa Administração Trump, nenhum americano irá sentir que as suas necessidades estão em segundo plano. Eu serei o maior defensor da América", continuou, num discurso proferido no Hotel Mayflower, em Washington DC.

A questão no Partido Republicano ainda está um pouco embrulhada, mas a corrida pela nomeação no Partido Democrata ficou ainda mais clara nas primárias desta semana.

Mesmo sem imitar o domínio de Donald Trump nos cinco estados, a favorita Hillary Clinton venceu quatro, com margens confortáveis, e aumentou ainda mais a distância para o senador Bernie Sanders no número de delegados.

No caso do Partido Democrata, o número mágico para a nomeação é 2383 e Clinton tem agora 1650 contra os 1348 do seu único opositor. Estes são os delegados conquistados durante as primárias, que estão obrigados a votar nos candidatos que vencem em cada estado, mas o Partido Democrata vai levar também à sua convenção mais de 700 superdelegados – congressistas, governadores e funcionários do partido que podem votar de acordo com a sua consciência, e que na sua esmagadora maioria preferem Hillary Clinton (519 contra 29, de acordo com a contagem mais recente).

Para além de ter limpado o pó à palavra "socialismo", o senador Bernie Sanders tem conseguido unir milhões de eleitores do Partido Democrata e independentes, a maioria jovens brancos com formação académica. Mas esse entusiasmo contra os banqueiros de Wall Street e os vícios do financiamento partidário nos EUA não tem chegado para compensar a vantagem de Clinton entre as minorias e as mulheres.

No discurso de vitória, Clinton concentrou-se mais no provável duelo contra Trump nas eleições gerais, mas deixou também uma mensagem para os eleitores de Bernie Sanders. Sem nunca sugerir publicamente que o seu adversário deveria desistir, para não alienar os fervorosos apoiantes do senador, a candidata olhou em frente, para além da corrida à nomeação que deverá ter de disputar até ao fim: "Independentemente de apoiarem o senador Sanders ou de me apoiarem a mim, são mais as coisas que nos unem do que as que nos separam."

Apesar do desejo de Hillary Clinton de ficar com o caminho livre o mais depressa possível para se concentrar nas eleições gerais, Bernie Sanders está apostado em levar a sua mensagem mais à esquerda até à convenção do partido, em Julho – ainda que não consiga influenciar de forma significativa o programa do Partido Democrata, o senador do Vermont deverá conquistar um lugar de destaque na convenção, para garantir que a sua luta por uma revolução política fica bem gravada no eleitorado norte-americano.