Uma “tempestade” de notícias
Que efeitos são ocasionados na “percepção do mundo” junto da “opinião pública”?
Há umas duas semanas que andamos sob uma “tempestade” de notícias. Os acontecimentos sucedem-se e, mediaticamente, dão origem a este “ciclone de notícias”. Naturalmente, jornais e outros media regozijam, pois é desta matéria-prima que eles vivem. A notícia-bomba, até por ter escala mundial, foi sem dúvida a revelação dos jornalistas reunidos no Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, no qual se integram dois jornalistas portugueses, Mickael Pereira (Expresso) e Rui Araújo (TVI) pelos dados que possuíam para revelar sobre os “Documentos do Panamá” (ou seja, uma “mina de ouro” sobre os tão falados e tão escondidos offshores do mundo financeiro). Mas, como provedor do Leitor e pela particular atenção que devo dedicar ao espólio informativo que “alimenta” os media, assisti a um turbilhão de notícias disjuntivas sobre uma percepção global a obter na leitura dos acontecimentos que compõem este clima de contrastes, mas que também tem que ver, numa certa harmonia mental, com a coesão social. Claro que o levantar destas questões é um procedimento aceite para quem este mundo, em que vamos vivendo, não inspira segurança nenhuma. Obviamente, para aqueles que vivem no consumo desenfreado da mediaticidade dos acontecimentos, é provável que “cheire” a consideração de estilo bacoco, mas a verdade é que eu, depois de uns dias em que este “ciclone” de notícias (obviamente, eco de uma carrilada de acontecimentos da vida corrente) varreu todos os veículos da informação, gostava de saber que efeitos são ocasionados na “percepção do mundo” nas mentes do “grande público”, ou até mais redutoramente junto da dita "opinião pública". Uma reflexão que me parece importante para quem tem a responsabilidade do “governo político da cidade” e para quem, como os media, têm uma quota-parte nessa responsabilidade. Não é, por isso, uma reflexão de que um jornal, dito e assumido de referência, como é o caso do PÚBLICO, se possa pôr de fora.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há umas duas semanas que andamos sob uma “tempestade” de notícias. Os acontecimentos sucedem-se e, mediaticamente, dão origem a este “ciclone de notícias”. Naturalmente, jornais e outros media regozijam, pois é desta matéria-prima que eles vivem. A notícia-bomba, até por ter escala mundial, foi sem dúvida a revelação dos jornalistas reunidos no Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, no qual se integram dois jornalistas portugueses, Mickael Pereira (Expresso) e Rui Araújo (TVI) pelos dados que possuíam para revelar sobre os “Documentos do Panamá” (ou seja, uma “mina de ouro” sobre os tão falados e tão escondidos offshores do mundo financeiro). Mas, como provedor do Leitor e pela particular atenção que devo dedicar ao espólio informativo que “alimenta” os media, assisti a um turbilhão de notícias disjuntivas sobre uma percepção global a obter na leitura dos acontecimentos que compõem este clima de contrastes, mas que também tem que ver, numa certa harmonia mental, com a coesão social. Claro que o levantar destas questões é um procedimento aceite para quem este mundo, em que vamos vivendo, não inspira segurança nenhuma. Obviamente, para aqueles que vivem no consumo desenfreado da mediaticidade dos acontecimentos, é provável que “cheire” a consideração de estilo bacoco, mas a verdade é que eu, depois de uns dias em que este “ciclone” de notícias (obviamente, eco de uma carrilada de acontecimentos da vida corrente) varreu todos os veículos da informação, gostava de saber que efeitos são ocasionados na “percepção do mundo” nas mentes do “grande público”, ou até mais redutoramente junto da dita "opinião pública". Uma reflexão que me parece importante para quem tem a responsabilidade do “governo político da cidade” e para quem, como os media, têm uma quota-parte nessa responsabilidade. Não é, por isso, uma reflexão de que um jornal, dito e assumido de referência, como é o caso do PÚBLICO, se possa pôr de fora.
1.Vejamos então muito sumariamente este “cacharolete” de notícias para dar sentido às reflexões que entendo introduzir. Tivemos de tudo: um ministro que promete chapadas e depois se demite; a demissão de um chefe de Estado-Maior do Exército, por razões ligadas ao Colégio Militar, por acertos de conceitos de comportamentos, habilitados na Constituição, mas porventura ainda pouco enquadrados militarmente – e, diga-se em abono da verdade, também no “universo mental” de parte do povo”; tivemos, segundo o PÚBLICO, a semana horribilis de António Costa; o caso de Lacerda Machado, o que representava, em certas diligências litigantes, o nosso primeiro-ministro e até as resolvia, mas não tinha papel assinado para o fazer; tivemos a proposta, en passant, numa entrevista jornalística do primeiro-ministro para a eventual criação de um “banco mau”, uma proposta difícil de colher apoio junto de quem já pensa que todos os bancos são “maus”; tivemos, com a descoberta da “falha grave”, o reacender do "braço-de-ferro” entre o Governo, principais forças políticas e o governador do Banco de Portugal (aliás, este a evidenciar uma desfaçatez, hipocrisia, e forma de mentir exasperantes com marca europeia); tivemos a única discussão política, no Parlamento, entre Catarina Martins (BE) e António Costa – aliás, uma polémica parlamentar interessantíssima e expressiva para perceber a que intensidade e inteligente gestão levam os fundamentos da “geringonça”; tivemos a ida de Costa à Grécia e a assinatura de um documento, porventura, premonitório, para uma Europa de amanhã (se houver!), mas que muitos dos nossos “observadores domésticos” consideraram desafiador e comprometedor para os compromissos com os “mandantes” da Europa actual e com os nossos financiadores; tivemos o primeiro Conselho de Estado do nosso novel Presidente com um convidado sempre pronto a nos “assustar”. A nível do desporto, tivemos a brilhante participação do Benfica na Champions, mas também uma notícia a que a imprensa liga pouco, embora seja importante começar a ligar e explicar: a Agência Mundial Antidopagem (WADA) proibiu o Laboratório de Antidopagem de Portugal de fazer qualquer análise nesta área. E, à escala internacional, convém não esquecermos a saga de luta pela liberdade política «amordaçada» em Angola, bem como o pedido de Angola ao FMI (também acontece com países ricos), ou ainda a iminente declaração, no Brasil, do impeachment de Dilma, em que a construção de um muro separador entre as facções “golpe” ou “tarefa patriótica” para a anunciada manifestação é bem a demonstração de como já está perigosamente reduzida a cacos a coesão social de um povo que tem muito a dizer e contar ao mundo. Entretanto, quase já ninguém dá pela ida do Papa ao fim da tarde de sábado a Lesbos, para chamar a atenção para a “maior catástrofe humanitária após a Segunda Guerra Mundial”, ou pelas demissões de ministros de outros países, por falta de segurança no aeroporto de Bruxelas, ou por efeitos dos “Documentos do Panamá".
2. Gostava de saber (excelente caso de estudo para os investigadores da área) que género de disrupção de apreensão mental este turbilhão de notícias causa, porventura, no “grande público” – principalmente sobre os efeitos da coesão social. Eu bem sei que, para o “grande público”, as notícias de maior efeito são, porventura, o homicídio ou roubo praticados ali onde eles vivem, ou então o resultado do dinheiro dos cartões que as TV passam as tardes a oferecer-lhes. Por outro lado, sei igualmente que falar de opinião pública é falar de uma componente social dividida em estratos diversificados: haverá aqueles que, de ipad ou tablets sempre em punho, são frenéticos consumidores de notícias e fazem desta incessante fonte municiadora de acontecimentos o seu próprio mundo de entretenimento; haverá aqueles que olham para tudo isto com outra circunspecção: uns com certa perplexidade escondida sobre qual o futuro que nos está reservado; outros com aquela superioridade de que nada perturba o “seu mundo”.
3. Mas também não me é estranho verificar como os próprios jornais de referência (caso do PÚBLICO que me diz respeito) “sofrem” abalos na sua orientação. É um período em que um jornal de referência não pode embalar no frenesim das notícias e em que a ordenação cuidada da disposição na paginação acrescenta ou tira valor à própria notícia. Por exemplo: como me chamava à atenção o leitor Carlos A. F. Moura, é inadmissível que o PÚBLICO no dia da divulgação do caso “Documentos do Panamá» noticie o facto em mais de um terço da primeira página com uma enorme fotografia de Putin com o título «Putin e dezenas de líderes mundiais e seus familiares implicados em escândalo de corrupção. Só há um português (!!!) envolvido». E depois remeta apenas para secção Mundo (pp. 22/23) o desenvolvimento da notícia. Por outro lado, não pode cair em conexões fáceis, conforme acusa o leitor José Manuel Faustino, nomeando pessoas, cujos nomes podem satisfazer de imediato o voyeurismo de “fechadura de porta”, como lhe chamava Roland Barthes, mas que devem aguardar melhor justificação.