Depois de semana difícil para Governo, eles só querem que os deixem trabalhar
Nem cinco minutos foram precisos para o Governo de António Costa ter um ministro e dois secretários de Estado novos. Seguiram-se os cumprimentos e as declarações de circunstância. Tudo começara com um abraço entre o primeiro-ministro e João Soares, que deixa o Governo passados apenas cinco meses.
O primeiro-ministro António Costa entra na Sala das Bicas, no Palácio de Belém, acompanhado do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e dirige-se de imediato a João Soares, o ministro da Cultura que agora deixa o cargo, passados cinco meses de governação e várias polémicas. Sorri e abraça-o, cumprimentando também a ex-secretária de Estado, Isabel Botelho Leal. A seguir entra o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Um pesado candelabro marca o centro sala, ao fundo, a secretária com os dois livros que serão assinados pelos três novos membros do Executivo: o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes; o seu secretário de Estado, Miguel Honrado; e o da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo.
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O primeiro-ministro António Costa entra na Sala das Bicas, no Palácio de Belém, acompanhado do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e dirige-se de imediato a João Soares, o ministro da Cultura que agora deixa o cargo, passados cinco meses de governação e várias polémicas. Sorri e abraça-o, cumprimentando também a ex-secretária de Estado, Isabel Botelho Leal. A seguir entra o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Um pesado candelabro marca o centro sala, ao fundo, a secretária com os dois livros que serão assinados pelos três novos membros do Executivo: o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes; o seu secretário de Estado, Miguel Honrado; e o da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo.
Ao contrário de João Soares e de Botelho Leal, o antecessor de João Paulo Rebelo, João Wengorovius Meneses, que pediu demissão "em profundo desacordo" com o ministro da Educação, não comparece à cerimónia de tomada de posse, que não durou mais do que cinco minutos e terá procurado trazer uma nota de serenidade a uma semana que não correu bem ao executivo socialista.
João Soares e Isabel Botelho Leal saíram sem falar com os jornalistas, depois de cumprimentarem os novos titulares da pasta: Luís Filipe Castro Mendes, até aqui embaixador de Portugal junto do Conselho da Europa, em Estrasburgo, e Miguel Honrado, que agora troca a presidência da administração do Teatro Nacional de D. Maria II pelo Palácio da Ajuda.
Declaração de intenções
Foi precisamente há uma semana e um dia que João Soares prometeu no Facebook umas “salutares bofetadas” ao crítico Augusto M. Seabra e ao cronista Vasco Pulido Valente, ambos do PÚBLICO. Um episódio que acabaria por culminar no seu pedido de demissão, na manhã do dia 8, pedido que o primeiro-ministro aceitou de imediato e, disse-o o próprio Costa, “naturalmente”.
Na origem da “polémica das bofetadas” está um artigo de Augusto M. Seabra publicado no site do PÚBLICO e no suplemento Ípsilon que tece críticas à actuação de João Soares nos seus primeiros quatro meses de governação. Nele, fazendo referência à suborçamentação da Cultura e a episódios como o do afastamento de Lamas do Centro Cultural de Belém (CCB) ou a nomeação de José Pacheco Pereira para a administração de Serralves, Seabra acusa o então ministro de exercer o cargo com um “estilo de compadrio, prepotência e grosseria”.
Na cerimónia desta quinta-feira não houve espaço para recordar polémicas, apenas para cinco minutos de respostas aos jornalistas, na sua maioria em jeito de declaração de intenções. Castro Mendes garantiu que tudo fará para “trazer a cultura ao quotidiano dos cidadãos”, “tanto nos grandes centros como a nível local”, criando “alianças” entre as instituições públicas e as autarquias, fundações e outras entidades ligadas à sociedade civil. E isto sem deixar de apoiar os criadores e os produtores espalhados pelo país.
Confrontado com a sacramental pergunta sobre o orçamento previsto para a Cultura – que já reconheceu ser pequeno, num encontro informal com jornalistas em Estrasburgo, na terça-feira – o novo ministro disse que “ninguém [no Governo] está satisfeito com o orçamento que tem”, a começar pelo primeiro-ministro. “Direi que a segunda pessoa a não estar satisfeita é o senhor ministro das Finanças”, acrescentou. O que lhe interessa, disse, é trabalhar mantendo-se fiel aos seus “ideais e convicções”: “Sabemos que o que fazemos, fazemos nos limites do possível, dentro das contingências que a realidade que enfrentamos nos permite.”
Ao PÚBLICO, o novo titular da Cultura preferiu não responder a perguntas sobre “dossiers quentes” como o da chamada colecção Miró, do extinto BPN, e o que envolve o acordo entre o Estado e o empresário Joe Berardo, que está prestes a chegar ao fim (em Dezembro de 2016) e que permitiu ter um museu de arte moderna e contemporânea a funcionar no CCB nos últimos dez anos. “Não sou pessoa para começar a dizer coisas antes de ter examinado com cuidado os dossiers”, concluiu, despedindo-se em seguida dos jornalistas, como quem pede alguma tranquilidade depois de uma semana intensa para o governo, com uma frase que traz à memória um primeiro-ministro que foi duas vezes Presidente da República: “Agora tenho de me ir embora, porque tenho de começar a trabalhar.”
Um séquito cultural
A cerimónia de tomada de posse foi curta, mas a fila de convidados à espera de vez para cumprimentar os novos ministro e secretários de Estado era longa. E marcada pelo mundo da Cultura. Referências absolutas como o filósofo Eduardo Lourenço; directores de teatros nacionais e municipais (Tiago Rodrigues, do D. Maria II, Tiago Guedes do Rivoli); poetas como Fernando Pinto do Amaral e Nuno Júdice; o director-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Silvestre Lacerda; o programador António Pinto Ribeiro; o director do Museu Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel; as deputadas socialistas Edite Estrela, Inês de Medeiros e Gabriela Canavilhas; a vereadora da Cultura de Lisboa, Catarina Vaz Pinto; a directora da Companhia Nacional de Bailado, Luísa Taveira; e toda a administração do CCB, com Elísio Summavielle à cabeça, que há bem pouco tempo substituiu António Lamas na presidência da instituição, num dos episódios mais polémicos do curto consulado de João Soares.
Com uma longa carreira literária, reconhecida sobretudo pela poesia, e diplomata há mais de quatro décadas, Luís Filipe Castro Mendes, 66 anos, estava desde 2012 em Estrasburgo e antes representara Portugal em Paris junto da UNESCO, o braço das Nações Unidas para a Educação e a Cultura, substituindo no posto Manuel Maria Carrilho. Livros e património são áreas que deverá conhecer bem. Miguel Honrado, o seu secretário de Estado, é um gestor cultural de 50 anos com uma formação em História e uma vasta experiência nas artes performativas e no serviço público. Foi Honrado quem disse aos jornalistas que ambos se conhecem há já muito tempo – “temos uma relação de grande confiança, de grande amizade” – e que Castro Mendes é “a pessoa certa no lugar certo”.
À comunicação social, o secretário de Estado da Juventude e do Deporto disse apenas que estava “entusiasmado com o desafio” e “desejoso de começar a trabalhar”. Não respondeu a perguntas e, antes de sair, limitou-se a citar um dos seus professores: “Por hoje é tudo e por tudo é hoje.”