Bélgica acredita ter capturado o “homem do chapéu”
Operações dos últimos dias resultaram em três acusações de actividades terroristas. Homem detido em Bruxelas e alvejado na perna fez parte da rede que assassinou o Ahmed Massoud em 2001. Marcha de domingo foi cancelada.
As autoridades esperam apenas pela correspondência nas amostras de ADN para anunciarem categoricamente terem capturado o terceiro atacante do aeroporto de Bruxelas, ou o “homem do chapéu” avistado pelas câmaras de videovigilância ao lado dos dois bombistas-suicidas que se explodiram na manhã de terça-feira. A procuradoria federal não perdeu tempo e acusou-o já este sábado de homicídios e tentativa de homicídios terroristas.
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As autoridades esperam apenas pela correspondência nas amostras de ADN para anunciarem categoricamente terem capturado o terceiro atacante do aeroporto de Bruxelas, ou o “homem do chapéu” avistado pelas câmaras de videovigilância ao lado dos dois bombistas-suicidas que se explodiram na manhã de terça-feira. A procuradoria federal não perdeu tempo e acusou-o já este sábado de homicídios e tentativa de homicídios terroristas.
A confirmarem-se as suspeitas, o terceiro atacante é Fayçal Cheffou. Foi capturado na noite de quinta-feira enquanto circulava com o seu carro diante o edifício da procuradoria-federal belga, no centro de Bruxelas, perto do Palácio da Justiça. A investigação ligou-o ao “homem do chapéu” quando o taxista que transportou os atacantes ao aeroporto o reconheceu em fotografias. Cheffou fugiu antes de os seus dois companheiros se fazerem explodir. Depositou uma mala pejada de explosivos, mas esta não detonou no momento certo.
As autoridades conhecem já Fayçal Cheffou, identificado como um homem “perigoso” e denunciado várias vezes à polícia por tentar recrutar imigrantes belgas para as fileiras jihadistas do grupo Estado Islâmico. O seu “activismo” — termo do diário belga Le Soir — levou-o a várias detenções administrativas, sem nunca ter sido condenado. Cheffou ficou também conhecido na Internet pelo seu trabalho como “jornalista independente”: publicou uma reportagem sobre a falta de alimento nocturno para prisioneiros muçulmanos em Bruxelas no período do Ramadão.
Fayçal Cheffou não foi o único acusado este sábado de actividades terroristas. A procuradoria federal acusou do mesmo crime um homem identificado como Aboubakar A., detido também na noite de quinta-feira mas cuja ligação aos atentados em Bruxelas se desconhece. Um terceiro sujeito foi acusado do mesmo: Rabah N., capturado na sexta-feira, na sequência das operações antiterrorismo em França, que permitiram travar um plano “avançado” de atentado contra Paris e detiveram um jihadista próximo de Abdelhamid Abaaoud, figura central da rede jihadista envolvida nos ataques de Novembro e de terça-feira.
A mais recente vaga de operações franco-belgas culminou numa sexta-feira caótica em Bruxelas. Foram detidas três pessoas: uma delas foi primeiro alvejada e revistada por um robô de desminagem antes de ser capturada, numa estação de eléctrico em Schaerbeek. Revelou-se este sábado que este detido é um Abderahmane Ameuroud, conhecido jihadista que combateu nos anos 1990 no Afeganistão e fez parte da rede que planeou o assassínio do líder oposicionista aos talibã Ahmed Shah Massoud, em 2001. Foi condenado pela justiça francesa a sete anos de prisão, em 2005. Não está acusado de qualquer crime, mas as autoridades belgas pediram mais 24 horas para o interrogar.
Cancelada marcha de domingo
Os organizadores da “marcha contra o medo” decidiram neste sábado adiá-la indefinidamente, depois dos apelos públicos do burgomestre de Bruxelas e do ministro belga do Interior, que pediram que a marcha não se realizasse este domingo de forma a preservar meios policiais para as investigações e operações desencadeadas pela investigação aos atentados. “Concordamos totalmente com o pedido das autoridades para que adiássemos este projecto para uma data futura”, afirmou a organização do evento, que pretendia ser uma demonstração de desafio aos atentados terroristas e para a qual se esperavam milhares de pessoas.
Já o aeroporto internacional de Bruxelas continuará encerrado a voos de passageiros pelo menos até terça-feira, dia em que a sociedade gestora admite uma reabertura parcial, o que seria a primeira vez que isso aconteceria desde que a zona de embarques foi atingida por vários explosivos. O anúncio, feito este sábado, coincide com o fim dos “trabalhos de investigação” no local dos atentados de terça-feira, onde morreram 11 pessoas.
“A retoma da actividade de passageiros não acontecerá antes de terça-feira, dia 29”, anunciou a direcção do aeroporto, num comunicado à imprensa, adiantando que as suas equipas de engenheiros e técnicos só puderam aceder à zona das explosões na sexta-feira. A direcção tinha inicialmente previsto que o aeroporto estivesse encerrado até ao final de domingo.
As duas primeiras explosões atingiram dois pontos opostos da zona de embarque, o que alastrou os estragos — houve uma terceira, a da mala depositada pelo “homem do chapéu”, que se detonou já depois do edifício ter sido evacuado. O aeroporto abrirá com medidas reforçadas de segurança.