E se a Europa começasse pelo óbvio?
Um comissário europeu desabafou ontem: "Se não é agora que vamos melhorar a nossa cooperação, não sei quando será!”
Antes de se conseguir “resolver” a Síria, a Líbia e já agora o Médio Oriente, e antes de se ir à origem do financiamento do terrorismo, como o petróleo e as antiguidades, ou – ainda mais complexo – às causas do terrorismo, a União Europeia pode começar por usar as armas e as ferramentas que tem.
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Antes de se conseguir “resolver” a Síria, a Líbia e já agora o Médio Oriente, e antes de se ir à origem do financiamento do terrorismo, como o petróleo e as antiguidades, ou – ainda mais complexo – às causas do terrorismo, a União Europeia pode começar por usar as armas e as ferramentas que tem.
É deprimente reler as intervenções públicas dos últimos anos de Jean-Claude Juncker sobre a necessidade de as polícias e os serviços secretos “cooperarem mais”. Ou sobre a importância de se criar um sistema comum de registo de passageiros aéreos, porque “28 sistemas nacionais seria uma manta de retalhos com buracos” ao longo dos últimos meses.
Como sempre acontece no day after, esta terça-feira Juncker repetiu: “É cada vez mais óbvio que temos de melhorar a cooperação entre os nossos serviços secretos.” O sound bite foi este: A União Europeia precisa de uma “união de segurança”.
Em Novembro do ano passado, no dia a seguir ao ataque terrorista de Paris, Juncker lembrou que a Europa pede “mais cooperação” entre os Estados-membros desde 2001: “Uma semana depois dos ataques de Nova Iorque, nós, chefes de Estado europeus, prometemos fazer com que os nossos serviços secretos funcionassem melhor e trabalhassem de forma concertada. Nada foi feito.”
Mas esta história é mais antiga. Em Outubro de 1999, Juncker disse no Conselho Europeu de Tampere, Finlândia, que era urgente “melhorar a cooperação entre os Estados-membros contra crimes como o terrorismo”. Foi então feito um apelo – e estávamos ainda antes dos ataques na Europa e até antes do 11 de Setembro – para a “criação de equipas de investigações comuns” e a “criação de uma task force de Chefes de Polícia Europeus”.
Esta terça-feira, claro, foi também dia de se anunciar uma cimeira extraordinária dos ministros do Interior. O comissário europeu Dimitris Avramopoulos, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros grego, disse de manhã: “Propus hoje uma cimeira extraordinária dos ministros do Interior, que se realizará muito em breve, talvez já dentro de dois dias...” Para discutir o quê? Quase exasperado, o comissário respondeu: “Estamos no pico de duas crises – segurança e migração. As duas sobrepõem-se, mas não podem ser confundidas. Se não é agora que vamos melhorar a nossa cooperação, não sei quando será!”
Em Novembro do ano passado, a seguir aos ataques de Paris, os ministros do Interior da União também se reuniram numa cimeira extraordinária. O que decidiram? “Reforçar a cooperação das polícias e dos serviços de informação” e usar “ferramentas” já disponíveis. O exemplo dado? O registo de identificação de passageiros (PNR, na sigla em inglês), um sistema que, a ser criado, armazenará toda a informação das viagens aéreas feitas na União.
Esta é a triste história de uma organização que não consegue partilhar informação que pode salvar a vida dos seus cidadãos, mas que se espia entre si, cheia de desconfiança e rancor, e a seguir partilha esses dados com a CIA...