Aung San Suu Kyi escolhe um fiel conselheiro para Presidente da Birmânia
A Nobel da Paz não conseguiu negociar com os militares o fim da cláusula que a impede de chegar à chefia de Estado.
Um conselheiro de longa data de Aung San Suu Kyi vai ser o primeiro Presidente democraticamente eleito da Birmânia, não tendo a líder histórica da oposição conseguido negociar com os militares a mudança na Constituição que lhe permitiria ser ela a chefe de Estado.
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Um conselheiro de longa data de Aung San Suu Kyi vai ser o primeiro Presidente democraticamente eleito da Birmânia, não tendo a líder histórica da oposição conseguido negociar com os militares a mudança na Constituição que lhe permitiria ser ela a chefe de Estado.
Htin Kyaw, de 69 anos, licenciado em Economia, escritor e filho de um dos fundadores da Liga Nacional para a Democracia (NLD, na sigla original), tem a vitória assegurada uma vez que o seu partido domina 80% da câmara baixa do Parlamento.
A eleição do Presidente é um processo complicado na Birmânia. A Constituição manda que o chefe de Estado seja escolhido de entre um grupo proposto pelos deputados da câmara alta e baixa. Htin Kyaw, foi anunciado esta quinta-feira, é o candidato da Liga pela câmara baixa, e Henry Van Thio, que pertence à minoria étnica Chin, pela câmara alta. Os vencedores de cada câmara, assim como um candidato dos militares (que têm lugar cativo no Parlamento) passam a uma segunda votação em que é escolhido o Presidente. Os candidatos "derrotados" serão os vice-presidentes.
Como a Liga venceu as legislativas de Novembro do ano passado por larga margem, Kyaw tem a eleição assegurada, e Thio será um dos vice-presidentes notam os correspondentes do Guardian e da BBC no país. A líder da Liga explicou que pretende criar um governo de unidade nacional, com representação das minorias do país - mas fez saber que nada pode fazer em relação à minoria muçulmana perseguida rohingya, o que lhe valeu críticas internacionais, entre elas do Prémio Nobel da Paz (como ela) Dalai Lama.
O outro vice-presidente será o representante da União para a Solidariedade e Desenvolvimento, o partido liderado por ex-militares que surgiu quando a Junta que governou o país durante 50 anos passou o poder a um governo civil, em 2011.
Apesar de ser a líder do maior partido, Aung San Suu Kyi não pode ser candidata ao cargo de Presidente devido a uma emenda feita à Constituição. A emenda 59F diz que quem tiver filhos estrangeiros não pode ser chefe de Estado; esta alteração foi aprovada pela antiga maioria para impedir que Aung San Suu Kyi, viúva de um cidadão britânico e mãe de dois filhos britânicos, governasse a Birmânia, acusa a Liga.
A escolha de Kyaw, dizem as análises, revela que Suu Kyi não conseguiu chegar a acordo com os militares para anular a emenda 59F. Por isso, sublinha a BBC, num país onde não há primeiro-ministro e quem governa é o Presidente - a actual Constituição redigida pelos militares reserva para estes as pastas da Defesa, Interior e Fronteiras -, espera-se que Kyaw seja em primeiro lugar um porta-voz da vontade ou das decisões de Aung San Suu Kyi.
"Ela conhece Htin Kyaw desde sempre. Ele é um membro fiel do partido e esteve ao lado de Suu Kyi quando ela foi libertada da prisão domiciliária, em 2010. A sua qualidade mais importante é a sua capacidade de obedecer a ordens. Aung San Suu Kyi já deixou claro que ainda que não tenha o título, será ela a mandar", lê-se da análise de Jonah Fisher, da BBC.
Apesar de a União ainda não ter anunciado o seu candidato (fala-se do general Thet Swe, antigo chefe da Marinha), e de o Parlamento ainda não ter marcado uma data para a votação, um deputado disse à Reuters que a eleição do novo Presidente será na próxima segunda-feira. O mandato do actual Presidente, o ex-general Thein Stein, termina a 1 de Abril.
Num comunicado publicado esta quinta-feira na página da Liga na Internet, Aung San Suu Kyi pediu aos apoiantes que aceitem as escolhas do partido: "Este é um passo importante para implementar os desejos e expectativas dos eleitores que tão entusiasticamente votaram na NLD".