A esquerda da esquerda francesa diz “Basta!” a Hollande e a Valls

Martin Aubry lidera a ofensiva contra as políticas “à direita” do Governo francês e exige um novo rumo no Eliseu.

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Hollande em campanha ao lado de Aubry em 2012 PHILIPPE HUGUEN/AFP

A presidente da câmara de Lille, Martine Aubry, e outras personalidades da esquerda francesa publicaram nesta quarta-feira um artigo de opinião contra o Presidente francês, François Hollande, e o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, que ilustra bem as profundas divisões que se fazem sentir no campo socialista.

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A presidente da câmara de Lille, Martine Aubry, e outras personalidades da esquerda francesa publicaram nesta quarta-feira um artigo de opinião contra o Presidente francês, François Hollande, e o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, que ilustra bem as profundas divisões que se fazem sentir no campo socialista.

“Não é apenas o fracasso da legislatura que se perfila, mas um enfraquecimento durável da França que se antevê e, evidentemente, também da esquerda”, escrevem os autores deste texto publicado no Le Monde. Entre os signatários encontram-se nomes do Partido Socialista francês, como Benoît Hamon, ex-ministro de Valls, mas também da Europa Ecologia (como é o caso de Daniel Cohn-Bendit)  e de vários outros intelectuais próximos da antiga dirigente máxima do PS francês.

A 14 meses da eleição presidencial, e num momento em que se discute uma polémica reforma do Código do Trabalho, os signatários dizem “Basta!” . Num apelo que se destina a ser uma petição popular, exigem uma mudança radical da linha governativa, sob pena de uma mais do que previsível derrota em 2017, que, segundo eles, será tanto política como moral.

Entre outras políticas, o texto critica o projecto de retirar a nacionalidade francesa aos autores de crimes terroristas e a reforma em curso do código de trabalho. Os signatários referem também “o indecente discurso de Munique” de Manuel Valls, que criticou a política migratória de Angela Merkel. “Não, ela não colocou a Europa em perigo, ela salvou a Europa. Salvou-a da desonra que teria acontecido se tivesse fechado completamente as portas” aos refugiados, escrevem os signatários.

Depois da viragem social-liberal do Presidente em Janeiro de 2014, seguida da viragem securitária depois dos atentados de 2015, a maioria governativa tem sido regularmente confrontada por movimentos de contestação.

A oposição entre Martin Aubry e a dupla Hollande-Valls é pública, mas nunca as críticas foram tão violentas.

E acontece numa altura em que a popularidade de Hollande voltou a cair para mínimos históricos (depois de uma subida após os atentados de Paris). De tal forma que o Presidente se arrisca a não passar à segunda volta em 2017, a menos que consiga os votos de todos os movimentos de esquerda, incluindo os ecologistas e a esquerda radical.

Várias figuras destes movimentos mais à esquerda do PS estão a desafiálo a alinhar na realização inédita de primárias à esquerda abertas a todos os candidatos deste campo, para encontrar uma figura forte e unificadora para ganhar as presidenciais de 2017.