Países que não querem receber refugiados têm plano B para fechar fronteiras

Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia querem erguer muros na Bulgária e Macedónia para encerrar a UE, porque não confiam que a Grécia trave imigrantes.

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Refugiados na fronteira da Áustria com a Eslovénia Leonhard Foeger/REUTERS

Os países da Europa Central querem criar uma segunda fronteira na Europa, uma “linha de defesa” com muros e arame farpado, ao longo da Bulgária e da Macedónia, que efectivamente deixe de fora a Grécia, por onde têm entrado os refugiados e imigrantes que procuram auxílio e uma vida melhor na União Europeia. É esse o plano B combinado entre os líderes da Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia, para levar à cimeira europeia de quinta e sexta-feira.

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Os países da Europa Central querem criar uma segunda fronteira na Europa, uma “linha de defesa” com muros e arame farpado, ao longo da Bulgária e da Macedónia, que efectivamente deixe de fora a Grécia, por onde têm entrado os refugiados e imigrantes que procuram auxílio e uma vida melhor na União Europeia. É esse o plano B combinado entre os líderes da Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia, para levar à cimeira europeia de quinta e sexta-feira.

Este plano B tem um prazo para se concretizar: o dia 17 de Março, quando se realiza a próxima reunião do Conselho Europeu, diz o site Euractiv, especializado em informação sobre a UE. Estes quatro países, conhecidos como "o grupo de Visegrado", estão dispostos a apoiar a Bulgária e a Macedónia a construir uma nova fronteira para tentar tornar a Europa estanque, se as medidas actualmente propostas não derem mostras de reduzir, de forma clara, a corrente de refugiados e imigrantes que continua a fluir para a Europa, provenientes sobretudo da guerra na Síria, que entram na Grécia através da Turquia e seguem para norte, pela rota dos Balcãs.

“Estamos confiantes de que o plano de acção acordado entre a União Europeia e a Turquia vai funcionar. E gostaria que os nossos colegas gregos nos fizessem uma surpresa agradável”, afirmou o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, citado pela Reuters. “Mas tenho de admitir que estou muito pessimista. Por isso é que discutimos um plano B, que passa por garantir a segurança das fronteiras da Macedónia e da Bulgária”, explicou.

Os primeiros-ministros da Macedónia e da Bulgária foram convidados para a reunião do grupo de Visegrado. Mas o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borissov, não pareceu muito convencido com a proposta de encerrar as suas fronteiras – tem estado a ser pressionado pela chanceler alemã, Angela Merkel, dizem publicações búlgaras, citadas pelo Euractiv.

Quanto à Macedónia, já erigiu duas linhas de vedação de metal com arame farpado no topo na fronteira, nos locais mais usados pelos imigrantes. E tem sido fortemente incentivada pela Áustria – um país que no Verão passado recebeu muitos refugiados, mas que agora está a pôr os travões a fundo – a aumentar as barreiras, tal como a Eslovénia. Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros austríaco, Sebastian Kurz, avisou as autoridades macedónias para que se preparassem para “parar completamente” o fluxo de imigrantes, porque Viena faria o mesmo em breve.

A Áustria, que até ao fim do Verão estava entre os países mais acolhedores dos refugiados, está a querer pôr em prática ao longo da rota dos Balcãs aquilo a que a ministra do Interior, Johanna Mikl-Leitner, chamou “o efeito dominó”. “É importante que cada país restrinja progressivamente o fluxo [de pessoas] na sua fronteira, e que o façamos em concordância uns com os outros”, disse ao jornal austríaco Kurier.

Merkel contra

Para a chanceler alemã, Angela Merkel, cujo país acolheu mais de um milhão de refugiados no ano passado e faz previsões de vir a acolher pelo menos meio milhão em 2016, estas ideias de cerrar fronteiras são perigosas. “Vou lutar com todas as minhas forças na cimeira pelo acordo entre a União Europeia e a Turquia como a única forma de resolver estes problemas”, afirmou, em Berlim, reagindo à reunião do grupo de Visegrado.

 “Devemos abandonar a abordagem turco-europeia com a qual estamos a tentar combater as causas da fuga [de pessoas para a UE] e melhorar a protecção das fronteiras exteriores? Ou vamos fechar as fronteiras gregas, macedónias, e búlgaras, com todas as consequências que isso terá para a Grécia, a UE no seu todo e o espaço Schengen?”, perguntou a chanceler.

A resposta para Merkel é clara, embora o grande número de refugiados lhe esteja a causar problemas políticos – tanto na Alemanha como na UE. Aliás, reconheceu que na cimeira não serão discutidas de novo as quotas de repartição de refugiados na Grécia e Itália por outros países europeus. “Seria ridículo que, tendo recolocado apenas mil dos 160 mil que acordámos recolocar em 2015, fôssemos decidir novas quotas”, afirmou.

A Grécia, que está a ser ameaçada de suspensão do espaço Schengen, sob uma chuva de críticas por não se esforçar o suficiente para impedir que milhares de imigrantes alcancem território europeu, passou ao ataque, pela voz do ministro adjunto dos Assuntos Europeus, Nikos Xydakis, numa entrevista ao jornal húngaro Népszabadsàg, crítico do Governo de Viktor Orbán. “É estranho que de Budapeste – que está a atacar Atenas – nunca tenhamos recebido nem um único cobertor ou tenda ao abrigo do Mecanismo de Protecção Civil da UE, pelo menos até ao fim de Janeiro.”

A Hungria enviou cinco guardas de fronteira para a missão da agência Frontex no mar Egeu, disse, “mas ao mesmo tempo enviou 100km de arame farpado e uma unidade de polícias e militares para a Macedónia, para construir uma vedação junto à fronteira com a Grécia”, disse o ministro. “Isto é uma decisão política que consideramos um acto hostil por parte da Hungria. A Grécia, pelo contrário, trata a Hungria como um país amigo, que é nosso aliado na NATO e nosso parceiro na UE”, afirmou Xydakis.