Coreia do Norte dá sinais de preparar lançamento de satélite ou míssil

Observação satélite detecta movimentações em estação de testes de onde Pyongyang lançou o seu único satélite em órbita. Japão já alertou navios de intercepção de mísseis.

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Foi de Sohae que o regime lançou o seu primeiro satélite no espaço. A estação foi entretanto melhorada. Bobby Yip/Reuters

Enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas prepara novas sanções contra a Coreia do Norte pelo seu teste nuclear do início do mês, responsáveis norte-americanos e japoneses indicam que o regime está a preparar uma nova provocação para as próximas semanas, sob a forma do lançamento de um satélite ou míssil balístico.

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Enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas prepara novas sanções contra a Coreia do Norte pelo seu teste nuclear do início do mês, responsáveis norte-americanos e japoneses indicam que o regime está a preparar uma nova provocação para as próximas semanas, sob a forma do lançamento de um satélite ou míssil balístico.

Japão e EUA detectaram movimentações no maior local norte-coreano de testes à sua – ainda incipiente – tecnologia de propulsão, no passado utilizada para o lançamento de satélites. Os dois aliados no Pacífico não estão certos sobre para que tipo de ensaio prepara o regime, mas o exército japonês lançou nesta sexta-feira um alerta aos seus navios de intercepção para o risco de um míssil norte-coreano tentar atingir o país.

O ministro dos Negócios Estrangeiros comunicou-o durante a manhã a John Kerry, o secretário de Estado norte-americano. “Não podemos negar a possibilidade de a Coreia do Norte tentar novas acções provocatórias”, disse Fumio Kishida aos jornalistas, já depois do telefonema ao homólogo norte-americano.

Pyongyang está sob constante observação por satélite. “Há indicações de que se estão a preparar para um tipo qualquer de lançamento”, disse um responsável norte-americano à AFP. “Pode ser um satélite ou veículo espacial – há muitos palpites. A Coreia do Norte faz isto periodicamente: movimentam coisas de trás para a frente.”

O regime está impedido pelas Nações Unidas de testar qualquer tipo de tecnologia balística ou nuclear, embora ao longo dos anos tenha sucessivamente ignorado as proibições. Sempre que o faz, os países com assento permanente no Conselho de Segurança endurecem as sanções. É o que discutem agora como resposta ao que o regime norte-coreano diz ter sido a explosão de uma bomba de hidrogénio, no início de Janeiro – algo consensualmente desmentido por especialistas, dado o pequeno impacto da detonação.

A Coreia do Norte conseguiu pela primeira vez pôr um satélite em órbita no final de 2012. O regime alega ter-se tratado de uma operação científica, mas a comunidade internacional encarou-o como um teste encapotado a mecanismos de propulsão que possam no futuro lançar um míssil de longo ou médio alcance armado com uma ogiva nuclear.

“O nosso receio é que no momento de fazerem um lançamento espacial, acabem por usar os mesmos componentes de um ICBM [míssil balístico intercontinental] ”, explica à AFP um segundo responsável norte-americano.

Por enquanto, as movimentações na estação de lançamento de Sohae – na parte ocidental do país, perto da fronteira com a China – sugerem que os preparativos do regime estão ainda numa fase inicial, embora responsáveis japoneses defendam a possibilidade de acontecer no espaço de uma semana. Os norte-coreanos têm reconstruído a estação de forma a conseguirem lançar mecanismos maiores e com mais carga.

Fracturas nas sanções
O debate sobre novas sanções ao regime prossegue com as habituais fracturas. China e Rússia, os dois grandes aliados de Pyongyang no Conselho de Segurança, aprovaram sanções mais duras sempre que os norte-coreanos violaram as proibições, com testes nucleares ou balísticos. Mas fizeram-no com versões mais brandas do que desejariam os aliados ocidentais.

Pequim reagiu à explosão da suposta bomba de hidrogénio num tom menos amigável do que o costume, o que parecia fazer antever uma ronda de sanções também mais duras do que o habitual. Mas as divisões entre China e Estados Unidos sobre como lidar com o regime pária mantiveram-se na visita desta semana de John Kerry a Pequim.

“As sanções não são um fim em si mesmas”, disse o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros numa conferência de imprensa com Kerry, depois do norte-americano ter defendido com veemência a imposição de regras duras contra Pyongyang.

“O nosso objectivo deve ser o de fazer regressar o tema nuclear na Península da Coreia à mesa de negociações”, concluiu Wan Yi, referindo-se às discussões multilaterais interrompidas em 2012 e que os Estados Unidos se recusam a reavivar até que o regime destrua o arsenal nuclear que já construiu.

Apesar dos sinais de que o regime se prepara para nova infracção das regras das Nações Unidas, a imprensa nacional norte-coreana anunciou esta sexta-feira o envio de uma delegação diplomática a Moscovo para tentar negociar uma posição mais amigável da Rússia no Conselho de Segurança – Moscovo e Pequim têm poder de veto sobre qualquer decisão. A agência de notícias sul-coreana Yonhap escreve que uma outra equipa de Pyongyang viajou para Pequim depois da visita de John Kerry.