Aliados procuram contenção militar da Coreia do Norte

Coreia do Sul e Japão pensam em novos sistemas de defesa antimíssil. China pode permitir sanções mais duras contra o regime, desde que não provoquem a sua queda.

Foto
Militar sul-coreano num campo de treino perto da zona desmilitarizada que separa o Sul do Norte Kim Hong-ji/Reuters

À medida que as Nações Unidas discutem novas sanções contra o regime norte-coreano, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul negoceiam em conjunto medidas próprias para conterem a ameaça nuclear de Pyongyang, que na quarta-feira detonou uma bomba nuclear, alegando, duvidosamente, que se tratava de uma bomba de hidrogénio.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

À medida que as Nações Unidas discutem novas sanções contra o regime norte-coreano, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul negoceiam em conjunto medidas próprias para conterem a ameaça nuclear de Pyongyang, que na quarta-feira detonou uma bomba nuclear, alegando, duvidosamente, que se tratava de uma bomba de hidrogénio.

O Presidente norte-americano conversou separadamente com os líderes de Estado japonês e sul-coreana. “Concordaram em trabalhar juntos para forjar uma resposta internacional forte e unida contra o novo comportamento perigoso da Coreia do Norte”, como anunciou a Casa Branca, em comunicado.

A estratégia desta frente conjunta está ainda a ser esboçada, mas um alto-responsável militar sul-coreano admitiu esta quinta-feira à Reuters que está a ser discutido o envio de “armamento estratégico” norte-americano para o país. A Casa Branca respondeu ao final do dia e desmentiu que os EUA estivessem a negociar o reforço do sistema de defesas antimíssil em Tóquio e Seul, como também sugerem analistas. 

O envio de armamento norte-americano seria um tema sensível para uma região já instável. Os Estados Unidos têm 28 mil militares na Coreia do Sul e quase 47 mil no Japão. Somam-se a já acesa disputa territorial no Mar do Sul da China – que divide Washington, Pequim e Tóquio – e a imprevisibilidade de uma resposta do regime norte-coreano.  

Foto

“Qualquer agravamento na região ou resposta exagerada pode levar facilmente não apenas a um conflito entre a Coreia do Sul e do Norte, mas também arrastar a China, os Estados Unidos e o Japão para um confronto”, alerta Anthony Cordesman, especialista em política de Defesa baseado em Washington.

A Administração norte-americana não se desviou até agora daquilo que diz ser o seu plano de “paciência estratégica” sempre que tem de lidar com provocações da Coreia do Norte. Três dos quatro ensaios nucleares do regime aconteceram sob a vigilância de Barack Obama, mas o Presidente dos Estados Unidos preferiu sempre uma resposta contida e nunca deixou de exigir que Pyongyang destruísse primeiro o seu arsenal atómico antes que se pudessem retomar as negociações interrompidas em 2012.

O que é uma bomba de hidrogénio e por que devemos temê-la 

A estratégia é criticada por especialistas em desarmamento nuclear, que argumentam que o Norte não abrirá nunca mãos das armas que já construiu e que é preferível congelar os programas norte-coreanos antes de se modernizarem – desde que começaram as sanções, a Coreia do Norte conseguiu reduzir o tamanho dos mísseis, testar disparos subaquáticos e novos mecanismos balísticos. Em público, os aliados ocidentais insistem numa outra táctica que até agora não parece ter dado resultados: “mais extensas e significativas sanções”, como anunciou o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A eficácia de novas medidas depende da vontade da Rússia e China, os aliados norte-coreanos no Conselho. As relações entre Pyongyang e Pequim estão cada vez mais frágeis, o que abre a possibilidade de sanções mais duras para os norte-coreanos. Mas Bonnie S. Glaser, investigadora do Center for Strategic and International Studies (CSIS), avisa que há um limite para a ira chinesa: “É pouco provável que a China apoie acções que levem ao colapso económico e político [da Coreia do Norte], que resultem numa reunificação das Coreias e o potencial envio de tropas norte-americanas para perto da fronteira.”

Guerra dos altifalantes
A Coreia do Sul retoma na sexta-feira a emissão de propaganda anti-regime nos altifalantes que tem na fronteira com o Norte. A prática levou os vizinhos a um pé de guerra, em Agosto. Trocaram ambos disparos de artilharia pela primeira vez em cinco anos.

As Coreias acabaram por negociar o fim das emissões numa rara maratona de negociações. O Norte lamentou a explosão de uma mina que mutilou dois soldados sul-coreanos – a razão do início da propaganda anti-regime – e o Sul silenciou os altifalantes. Mas não os desmontou e afirmou que qualquer acção provocatória poderia reacender as emissões.

A estratégia enfurece o regime – os seus líderes dizem que são uma “ameaça ao seu sistema”. Os equipamentos de Seul atingem quase 20 quilómetros durante a noite e cerca de metade dessa distância de dia. Insultam o líder norte-coreano, Kim Jong-un, dizendo que o seu “regime incompetente tenta enganar o mundo com as suas mentiras tristes”; falam da prosperidade das democracias liberais, da importância dos direitos humanos, tocam música pop coreana e, entre outras coisas, apelam à reunificação da Península. 

Foto