Papa em visita arriscada a África pela reconciliação e pelo diálogo entre religiões

Às preocupações com a segurança no Quénia e no Uganda, soma-se a violência na República Centro-Africana, última etapa da deslocação que pode ainda ser cancelada.

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O Quénia será o primeiro país africano a ser visitado por Francisco Goran Tomasevic/Reuters

Anuncia-se como a mais arriscada das 11 viagens já realizadas pelo Papa, mas também como uma das mais importantes do pontífice que escolheu a Igreja dos mais pobres e que, quase três anos depois de ter sido eleito, visita pela primeira vez a “periferia do mundo”. No Quénia, Uganda e na República Centro-Africana, onde a preocupação com a segurança será constante, Francisco quer falar da luta contra a pobreza e a corrupção, mas sobretudo de reconciliação e da necessidade absoluta de diálogo entre cristãos e muçulmanos.

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Anuncia-se como a mais arriscada das 11 viagens já realizadas pelo Papa, mas também como uma das mais importantes do pontífice que escolheu a Igreja dos mais pobres e que, quase três anos depois de ter sido eleito, visita pela primeira vez a “periferia do mundo”. No Quénia, Uganda e na República Centro-Africana, onde a preocupação com a segurança será constante, Francisco quer falar da luta contra a pobreza e a corrupção, mas sobretudo de reconciliação e da necessidade absoluta de diálogo entre cristãos e muçulmanos.

Francisco aterra nesta quarta-feira em Nairobi, a capital queniana que foi nos últimos anos palco de atentados reivindicados pelos extremistas somalis das Al-Shabbab, incluindo o assalto a um centro comercial que há dois anos terminou com a morte de 137 pessoas. Apesar do risco – que se repete no Uganda, visado em 2010 por um atentado que matou 76 pessoas –, o Papa viajará sempre em veículos abertos, sob o olhar ansioso de milhares de polícias e soldados.

“Um pesadelo de segurança”, admitiu o jornal queniano The Standard, enquanto o Nation lembra que, ao contrário do que aconteceu com a recente visita do Presidente norte-americano, Barack Obama, o Governo convidou os habitantes a sair à rua para receber o Papa. Entre os momentos mais delicados estará a deslocação a Kangemi, bairro muito pobre nos arredores da capital, ou a missa que celebrará na véspera na universidade de Nairobi, onde são esperadas mais de um milhão de pessoas.

Mais difícil será a visita a Bangui, a capital de um país devastado por um conflito sectário que desde 2013 provocou cinco mil mortos – às atrocidades cometidas pelas forças Séleka, coligação de rebeldes muçulmanos que governou o país entre Março e Dezembro de 2013, seguiram-se outras iguais cometidas pelas milícias antibalaka, maioritariamente cristãs. As Nações Unidas têm 12 mil capacetes azuis na República Centro-Africana, a que se juntam 900 soldados franceses, mas a violência regressou nos últimos meses à capital, ao ponto de Paris ter desaconselhado a visita, temendo riscos para a segurança do Papa e dos fiéis que o esperam.

Num gesto inédito, o chefe da segurança do Papa foi enviado a Bangui para avaliar a situação e o Vaticano admite que a visita pode ser cancelada em cima da hora, ou reduzida a uma breve escala no aeroporto, sob controlo dos militares franceses. “Para o Papa seria uma derrota. Ele pensou na República Centro-Africana desde o momento em que decidiu ir a África”, disse à AFP um colaborador. Francisco planeou uma visita à grande mesquita da capital, no coração de um bairro muçulmano que é palco frequente de violência, a um centro de deslocados de guerra e à catedral de Bangui, onde pretende antecipar as celebrações do Jubileu da Misericórdia, que começam na semana seguinte em Roma.

“Quero apoiar o diálogo inter-religioso a fim de encorajar a coexistência pacífica no vosso país. Eu sei que ela é possível, porque somos todos irmãos e irmãs”, disse Francisco no vídeo que enviou aos centro-africanos antes da visita,  durante a qual se esperam palavras fortes de repúdio pela violência cometida em nome da religião, mas também apelos à reconciliação como único caminho para a paz. “Esta visita será, antes de mais, um grande consolo para um país que se sente tão esquecido pelo mundo”, disse ao National Catholic Reporter Jean-Claude Nzembele, superior de uma ordem religiosa que passou vários anos na RCA. Andrea Tornielli, veterano jornalista do La Stampa, sublinha que nas três etapas desta visita "à periferia do mundo" não faltarão oportunidades para o Papa ir ao encontro “dos mais pobres entre os pobres”, momentos que, prevê, Francisco aproveitará para denunciar a exclusão social e a concentração das riquezas do continente nas mãos de uns poucos.