Países dos Balcãs já só deixam entrar sírios, afegãos e iraquianos

Começou a triagem das dezenas de milhares de pessoas que continuam a chegar às fronteiras da União Europeia. Imigrantes económicos mandados para trás.

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Refugiados e imigrantes continuam a chegar à Europa, sobretudo às ilhas gregas BULENT KILIC/AFP

Entram os dos países em guerra no Médio Oriente e os do Afeganistão. São mandados para trás todos os outros, oriundos de África e da Ásia. Quatro países balcânicos — Sérvia, Croácia, Macedónia e Eslovénia decidiram só aceitar no seu território pessoas que consideram refugiados, mandando para trás os classificados como imigrantes económicos.

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Entram os dos países em guerra no Médio Oriente e os do Afeganistão. São mandados para trás todos os outros, oriundos de África e da Ásia. Quatro países balcânicos — Sérvia, Croácia, Macedónia e Eslovénia decidiram só aceitar no seu território pessoas que consideram refugiados, mandando para trás os classificados como imigrantes económicos.

Na prática, esta nova política significa que deixam entrar nas suas fronteiras — na verdade passar, a esmagadora maioria refugiados quer seguir viagem — sírios, iraquianos e afegãos. O caminho fica vedado a paquistaneses, marroquinos, congolenses e naturais do Sri Lanka, do Bangladesh, da Libéria ou do Sudão.

A necessidade de se fazer uma triagem às centenas de milhares de pessoas que chegaram e continuam a chegar à Europa — este ano, e até ao momento, 900 mil, segundo os números das Nações Unidas — foi mencionada pela primeira vez pela chanceler alemã, com o argumento de que a UE não pode absorver toda a gente e que é preciso dar prioridades a quem precisa mesmo de refúgio.

Em Agosto, Angela Merkel disse que era preciso definir quem tem direito a obter asilo na União Europeia e quem não tem direito a ele — estes, disse, deveriam ser repatriados com brevidade.

As declarações de Merkel nunca passaram a proposta, nunca foram discutidas oficialmente pelos Estados-membros, até devido aos problemas que a solução implica. Por exemplo, o que fazer com milhares de pessoas que já estão na Europa, em trânsito, ou como dizer à Itália e sobretudo à Grécia, onde chegam todos, refugiados e imigrantes, que têm de ficar com os “indesejados” e repatriá-los?

Porém, avançaram para esta solução os quatro Estados balcânicos, que já tinham aderido a outras decisões unilaterais como o encerramento de fronteiras (Eslovénia e Croácia). Mas outros países, como a Hungria, a Alemanha ou a Suécia, já encerraram também as suas fronteiras, totalmente ou temporariamente.

 “Desde o meio-dia [de quarta-feira] que as autoridades sérvias só autorizam a entrada no país de refugiados sírios, afegãos e iraquianos”, disse à AFP Melita Sunjic, uma porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o organismo que alertou para o que se estava a passar. O Governo da Macedónia, adiantou a porta-voz, emitiu uma lista de países cujos cidadãos não podem entrar, nem sequer apenas para transitar para outro Estado: Marrocos, Sri Lanka, Sudão, Libéria, Congo e Paquistão.

A Sérvia passou a exigir um documento de identificação — que muitos não têm — ou, na sua falta, uma declaração do governo da Grécia (o ponto de partida da maioria que opta pela rota das Balcãs para chegar aos destinos desejados) a atestar a nacionalidade do refugiado.

Os refugiados e imigrantes passam da Grécia para os países balcânicos com o objectivo de prosseguir para a Alemanha ou Suécia, os dois países preferidos. Berlim, em Outubro, tinha anunciado que não consideraria os afegãos como refugiados. Bastou um destes países fechar a porta aos imigrantes económicos para que todos os outros o fazerem, provocando um efeito dominó — nenhum quer ficar com pessoas que mais ninguém recebe dentro das suas fronteiras.

Além dos problemas humanitários que se acumulam, a decisão adensou a crispação entre países vizinhos. Na noite de terça para quarta-feira, a polícia sérvia mandou de volta 200 pessoas que as autoridades da Macedónia alojaram num centro em Tabanovce. Porém, relatava o jornal The Telegraph, as cem pessoas que se seguiram não tiveram a mesma sorte. Passaram a noite ao relento, disseram elementos da Cruz Vermelha, que foi autorizada a prestar assistência ao grupo e que pediu uma solução rápida para o problema, pois o mau tempo agrava-se.

“Não vamos permitir que pessoas que não podem seguir caminho entrem na Sérvia. Temos de proteger o nosso país e foi por isso que tomámos medidas recíprocas em relação aos que a Eslovénia e a Croácia não querem”, disse à Reuters o responsável do Governo sérvio para a questão do fluxo migratório, Aleksandar Vulin.

Na Croácia, o Governo deu ordens para a polícia de fronteiras não aceitar o regresso de 162 pessoas rejeitadas pela Eslovénia. Um porta-voz da polícia eslovena, Drago Menegalija, confirmou à AFP que só é permitida a passagem a pessoas provenientes “de países onde há conflitos militares”. Nos últimos dias vimos chegar cada vez mais gente que acreditamos serem imigrantes económicos. Por esse motivo, e de acordo com a legislação da UE — disse — tentámos sem sucesso encontrar uma solução informal para os reenviar para a Croácia”. Não explicou onde estão mais estas 162 pessoas que ninguém quer.