Lisboa-Estoril em 10 paragens
Filmes que não deve perder, entre 6 e 15 de Novembro, na edição do Lisbon & Estoril Film Festival
L’Accademia delle Muse
De José Luis Guerín
Competição. Casino Estoril, 6ª, 13, 16h; Cinema Medeia Monumental Sala 1, Sáb. 14, às 17h
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L’Accademia delle Muse
De José Luis Guerín
Competição. Casino Estoril, 6ª, 13, 16h; Cinema Medeia Monumental Sala 1, Sáb. 14, às 17h
Quando um professor de literatura italiano em Barcelona inicia uma “experiência pedagógica” sobre as musas, os poetas e o amor, isso é o novo filme do espanhol José Luis Guerín – uma alta comédia romântico-filosófica sobre amor, paixão, traição, poesia, linguagem, machismo e feminismo, uma ficção que parece um documentário mas que é um registo documental de um trabalho de ficção. Talvez seja o melhor filme do seu autor, é certamente um dos filmes do ano.
Montanha
De João Salaviza
Competição. Cinema Medeia Monumental Sala 4, Dom. 8, 18h45 (Apresentação com João Salaviza e elenco); Casino Estoril, 2ª 9, 19h00
Salaviza continua embalado pela infância e adolescência, como nas suas anteriores curtas-metragens. Mas na sua primeira longa eleva-se num cume rarefeito de jogos entre a exposição cruel à luz e a protecção das sombras, lugar onde as personagens se sentem protegidas. É um filme de um sereno esplendor – abstracto, se não tivermos medo da palavra. Utiliza o bairro dos Olivais, em Lisboa, como cenário para a cavalgada (anti-)heróica de um adolescente que testa o território urbano em busca de um sopro épico que nunca (lhe) acontece.
45 Years
De Andrew Haigh
Fora de competição. Cinema Medeia Monumental Sala 1, Dom. 8, 16h30
Depois de uma história sobre um coup de foudre – Weekend (2011) -, uma história sobre um coup de théatre. Ali era um jovem par gay, aqui é um maduro casal hetero, mas nada disso importa: 45 Years continua uma forma sedutora de individualizar personagens na paisagem (toque, também, dos episódios que Haigh dirigiu para série Looking). E até parece uma hipótese de fechar o que tinha ficado em aberto naquele anterior filme. Mas nada aqui se fecha, na verdade: o que acontece a Charlotte Rampling e a Tom Courtenay depois do fim do amor?
Anomalisa
De Charlie Kaufman/Duke Johnson
Fora de competição. Cinerma Medeia Monumental Sala 4; Sexta 6, às 22h (Filme de Abertura)
Charlie Kaufman escusa-se a falar sobre os filmes sempre que sente que estão a pedir-lhe que os explique, mas por mais excêntrica que seja a postura, este é o menos anómalo dos seus filmes: um pedaço de intimidade que não se apoia em excentricidade, sem adereços, descarnadamente humana. Técnica de animação stop motion ao serviço do existencialismo. Está para os outros filmes de Kaufman como o Fantastic Mr. Fox , também filme “de bonecos”, para os de Wes Anderson: reencontro rarefeito com o núcleo de uma obra.
Heart of a Dog
De Laurie Anderson
Fora de competição CCB Centro Cultural de Belém, Sáb. 14, às 21h30 (Apresentação de Laurie Anderson)
Um cão é um animal empático, e o coração de Heart of a Dog é a empatia. Toca-nos. Filme-ensaio hipnótico, não é substancialmente diferente do que Laurie Anderson faz nas performances com as histórias, imagens e com a música do violino. Há mesmos violino, há mais referências privadas, a mãe e os irmãos, Lou Reed, o seu companheiro. E não podia ser menos narcísico. E há Lolabelle, o cão, que morreu e que sabia tocar piano. Sai-se daqui tocado pela aventura das palavras a tentarem dar forma ao mundo.
Minha Mãe
De Nanni Moretti
Fora de competição. Cinema Medeia Monumental Sala 4, 6ª, 6, 19h30 (Filme de Abertura, com a presença de Nanni Moretti) Casino Estoril: 6ª, 6, 23h30; Cinema Medeia Monumental Sala 4, 6ª, 6, às 00h; Cinema Medeia Monumental Sala 4, Dom. 15, 14h
Depois do Quarto do Filho, Nanni Moretti mergulha de cabeça no “quarto da mãe”, e arranca o seu melhor filme desde aquela obra-prima de 2001 – a história de uma realizadora em crise (fabulosa Margherita Buy) que a morte anunciada da sua mãe lança para um questionamento de tudo que a rodeia. Como sempre em Moretti, Minha Mãe cruza o público e o privado, o político e o pessoal, mas fá-lo com uma reencontrada graça e emoção.
Right Now, Wrong Then
De Hong Sangsoo
Fora de competição. Cinema Medeia Monumental Sala 4. Domingo 15, às 18h30
Leopardo de Ouro em Locarno, Right Now, Wrong Then cristaliza na perfeição o método que tornou o coreano Hong Sangsoo num dos autores centrais do cinema congemporâneo. São duas leituras de um mesmo acontecimento – o encontro casual entre um cineasta maçado e uma artista curiosa – consoante o homem decida, a dada altura, falar verdade ou contar uma mentira. Para quem não conhece (e por cá serão bastantes), a introdução ao universo de Hong é ideal.
11 Minutes
De Jerzy Skolimowski
Competição. Cinema Medeia Monumental Sala 1, Sábado 7, 19h20 (com a presença de Jerzy Skolimowski); Casino Estoril, 6ª 13, às 18h
Há realizadores especialistas na pornografia da redenção: usam as “histórias cruzadas” para fabricar epifanias. Este podia ser esse tipo de filme – várias personagens e uma praça de Varsóvia - e por isso Skolimowski rebenta com isso. Se há algo à espera, não é a redenção, é a destruição. É o que vibra nos 11 minutos da vida de personagens que se cruzam, colam ou interceptam pela energia que desencadeiam - como motivos, linhas de força abstractas. Isso culmina num electrizante a apocalíptico final - já não há sequências de acção assim, e este nem sequer é um action movie.
La Loi du Marché
De Stéphane Brizé
Fora de competição. Cinema Medeia Monumental Sala 4; 2ª, 9, 22h (Com apresentação de Vincent Lindon)
Vincent Lindon, desempregado, inicia o processo de cursos de formação, de aconselhamento profissional, com vista ao mercado de trabalho. Uma história de aniquilação: uma série de blocos, de sequências, em que a câmara fica a ver, a dar conta da subtil ocupação do corpo e da mente da personagem de Lindon pelas leis do mercado. Um dos filmes do ano.
Rabin the Last Day
De Amos Gitai
Fora de competição. Cinema Medeia Monumental Sala 1, Sáb. 14, 22h (Com apresentação de Amos Gitai)
Amos Gitai disse que filmou Rabin, the Last Day não apenas como realizador, mas também como cidadão israelita. Misturando material de arquivo, episódios reconstituídos e entrevistas, tudo a partir dos tiros de Yigal Amir que mataram Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, a 4 de Novembro de 1995, é impulsionado por um movimento coral, que implica realizador e actores num mesmo horizonte moral e politico. É um trabalho sobre a memória e sobre o presente, é grave, solene, plúmbeo. E é o anti-docudrama.