Mais 26 refugiados encontrados num camião na Áustria
São da Síria, do Afeganistão e do Bangladesh. Três crianças estavam em estado crítico e os médicos dizem que "não aguentariam muito mais tempo".
Um porta-voz da polícia austríaca, David Furtner, disse que os refugiados foram encontrados com vida "por muito pouco", depois de as equipas médicas terem dito que eles "não aguentariam muito mais tempo".
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um porta-voz da polícia austríaca, David Furtner, disse que os refugiados foram encontrados com vida "por muito pouco", depois de as equipas médicas terem dito que eles "não aguentariam muito mais tempo".
O camião foi travado numa operação da polícia na localidade de St. Peter am Hart, no distrito austríaco de Braunau am Inn, com vista para a Alemanha – a cidade de Simbach am Inn, já no estado alemão da Baviera, fica a apenas oito quilómetros, e até Munique são mais 130.
O condutor ainda acelerou quando foi abordado pela polícia, mas acabou por ser detido mais à frente. As autoridades dizem que se trata de um cidadão romeno de 29 anos. Entre os 26 refugiados há pessoas nascidas na Síria, no Afeganistão e no Bangladesh.
Na quinta-feira, a polícia austríaca foi alertada para a presença de um outro camião na berma de uma auto-estrada no estado de Burgenland, que faz fronteira com a Hungria. Quando as portas foram abertas, as equipas médicas não conseguiram sequer perceber quantos corpos tinham à sua frente, devido ao estado de decomposição – no início podiam ser 20, 30, 40 ou 50, ninguém sabia muito bem o que dizer; as contas finais revelaram-se ainda piores, com 71 pessoas mortas, provavelmente por asfixia, entre elas quatro crianças, oito mulheres e 59 homens.
A caça ao condutor desse camião começou de imediato, e acabou por levar à detenção de três búlgaros e um afegão na Hungria. Os três homens estão detidos desde quinta-feira e ficaram a saber este sábado que vão permanecer na cadeia para que a investigação possa continuar, com o objectivo de chegar aos verdadeiros responsáveis – os senhores das redes do tráfico de refugiados, que controlam a chamada rota dos Balcãs, no Leste da Europa, e a rota do Mediterrâneo, onde cada vez mais pessoas morrem afogadas em naufrágios ou asfixiadas nos porões dos barcos.
Sabe-se que o camião encontrado na quinta-feira tinha partido da cidade de Kecskemét, a 80 quilómetros de Budapeste, em direcção a Sul, até à fronteira com a Sérvia. Foi daí que começou a viagem para a Áustria, durante a qual os 71 refugiados acabariam por morrer.
A acusação "está focada no tráfico humano cometido por uma organização criminosa, incluindo tortura de pessoas, com o objectivo de obter ganhos financeiros", disse Gabor Schmidt, procurador do Ministério Público da Hungria. Se vierem a ser julgados, os quatro detidos podem ser condenados a penas de dois a 16 anos de prisão por tráfico de pessoas, e serão depois acusados de homicídio na Áustria, onde o camião foi encontrado.
A confusão entre os países da União Europeia, com os seus governos e populações com diferentes atitudes – e proximidade – em relação aos refugiados e migrantes, tem levado à tomada de medidas avulsas, muitas vezes com motivações aparentemente contraditórias. Enquanto a Hungria está prestes a concluir a construção de um muro com quatro metros de altura e 175 quilómetros de comprimento, para impedir a entrada de uma média de 3000 refugiados por dia, a Alemanha decidiu suspender o Regulamento de Dublin, e permitir que centenas de milhares de sírios peçam asilo no país – segundo as normas da União Europeia, um refugiado só tem direito a pedir asilo no primeiro país a que chegou, o que deixa a Grécia e a Itália a lidarem quase sozinhas com o drama.
A chanceler alemã, Angela Merkel, está também a tomar a iniciativa para alterar a forma como a União Europeia tem lidado com o fluxo de refugiados e migrantes. Segundo a revista alemã Der Spiegel, a Comissão Europeia prepara-se para apresentar um plano, defendido pela Alemanha, com o objectivo de ajudar financeiramente os países africanos de onde mais pessoas tentam escapar a guerras e perseguições, com a condição de que esses países voltem a receber os migrantes a quem não seja concedido asilo, e que lhes garantam boas condições no regresso.
A maioria dos refugiados e migrantes que tentam chegar à Europa através do Mediterrâneo partem da Líbia, no Norte de África, um país com um governo reconhecido internacionalmente, com sede em Tobruk, perto do Egipto, e outro em Trípoli, apoiado por várias milícias islamistas. A fragmentação do país, com parcelas de território controladas por inúmeros grupos armados, tem também alimentado a presença do autoproclamado Estado Islâmico.
Em 2014, a Alemanha era o país europeu com mais pedidos de asilo concedidos (202.815). O Reino Unido, onde a discussão sobre a entrada de migrantes e refugiados tem sido particularmente acesa, tinha concedido 31.945, e Portugal 445. Nenhum país europeu estava entre os dez com mais refugiados: a Turquia concedeu 1.587.374 pedidos; o Paquistão 1.505.525; e o Líbano 1.154.000.