Fear the Walking Dead e os zombies de Verão chegam este domingo a Portugal
Série estreou-se simultaneamente esta madrugada nos EUA e na TV portuguesa e repete esta segunda-feira à noite no AMC. O fascínio pelos mortos-vivos, o vídeos do passado e os filmes do futuro.
Começam este domingo as seis semanas que vão mostrar o surto de mortos-vivos que se torna no apocalipse zombie que desde 2010 atormenta os sobreviventes de The Walking Dead. Esta série, um dos maiores sucessos de audiências dos últimos anos na televisão por subscrição, é uma produção original do canal americano AMC que passa e continuará a passar na Fox em Portugal.
Mas Fear the Walking Dead, uma espécie de prequela (é apresentada como uma “companion series”), estará a partir desta madrugada em exclusivo no canal AMC português – presente na Cabovisão e Meo. Às 2h30 das noites de domingo para segunda, com repetição às segundas às 22h30, o canal aposta forte na experiência ainda rara de exibição simultânea nos EUA e em Portugal.
Rick Grimes, que durante o apocalipse estava em coma e acordou, e nós com ele, em Outubro de 2010, para um novo mundo cheio de Walking Dead, nunca passou por isto.
Na nova série de seis episódios ainda não sabemos bem em que momento estamos, mas há sinais de que o sítio onde estamos, Los Angeles, não vive num tempo muito distante da actualidade. A nova família de protagonistas é ainda um conjunto de vítimas sedentárias numa cidade embalada pelo som das sirenes - com o volume sugestivamente no máximo. Na Los Angeles paciente-zero de Fear the Walking Dead tocam telemóveis, matraqueiam helicópteros e até o genérico grita mais alto. Já o grupo de caçadores-recolectores de Rick, Daryl ou Michone de Walking Dead vive no silêncio das florestas e refúgios arruinados da Geórgia.
Um antes e depois da civilização criados por Robert Kirkman no seu universo de comics e séries televisivas – a nova série não tem base em livros, é 100% nova. “Estamos a construir uma ala na casa”, descreve o autor na revista Entertainment Weekly.
Nick (Frank Dillane, filho do actor Stephen Dillane – o Stannis de Guerra dos Tronos – e que foi o jovem Tom Riddle em Harry Potter) é um heroinómano em torno de quem uma família moderna se tenta encaixar. Na fisicalidade da sua interpretação, é quase um walker – movimenta-se ferido pelo mundo. A mãe Madison (Kim Dickens), o padrasto Travis (Cliff Curtis) e a outra adolescente da família (Alycia Debnam-Carey) são a porta de entrada para a mistura de terror, desmoronamento da vida-como-a-conhecemos e drama humano que aí vem.
Primeiro, além de uma abertura eficaz, há o ocasional zombie (será mesmo?) num dos parques mais conhecidos de Los Angeles, um ataque que se torna viral na Internet mas enfrenta cepticismo… Para Robert Kirkman “Fear the Walking Dead é um óptimo aperitivo para a sexta temporada” de Walking Dead (estreia-se na Fox a 12 de Outubro), cuja narrativa tem um engenho essencial – a ausência da tecnologia, que a devolve a um tempo mais lento, à intransponibilidade das distâncias, ao pasto da incomunicabilidade. Em East LA, os habitantes contemporâneos lêem Jack London e estão todos ligados, mas não se apercebem de nada (e alguma da crítica considera isso implausível).
Todos à excepção de um nerd borbulhento – “Ninguém vai para a universidade, ninguém vai para onde pensa ir”, resmunga no primeiro episódio - parecem demasiado focados na sua vida para admitir que os “casos em cinco Estados” e a “gripe” que está a esvaziar rapidamente o liceu podem ser o princípio do fim. “O que raio se está a passar?”, desespera-se finalmente Madison quando o novo normal lhe morde os calcanhares. No episódio seguinte, que a imprensa americana já viu, o plano do drama familiar abre-se agora mais sobre uma comunidade que parece não se consciencializar da mudança que se abate na sua vida de boleias para a escola, manifestações e engarrafamentos.
Para Kirkman, o ambiente desta prequela tem “a mistura excitante de incerteza e do inevitável”, descreve à Entertainment Weekly. Os espectadores “conhecem este mundo”. Sabemos “as regras”. Como os matar, o que evitar, como os iludir, que a infecção é generalizada. E que, pelo meio, esse conceito difuso de “natureza humana” leva também umas dentadas. “As nossas personagens não sabem e isso cria uma tensão e uma sensação de temor na experiência de espectador”, acredita o autor desta saga de mortos-vivos que com Dave Erickson é produtor executivo e argumentista do primeiro e do sexto episódio.
Os mortos-vivos vêm aí
Foi Erickson que garantiu na última Comic-Con que para já não estão previstas aparições de personagens de Walking Dead na série prequela, cuja segunda temporada está já garantida para 15 episódios no Verão de 2016. Fear the Walking Dead será sempre exibida antes de e até começarem novas temporadas da série-mãe.
The Walking Dead é o programa pós-apocalíptico de maior sucesso na televisão – nos últimos 15 anos, é a grande transição do género zombie do cinema e dos comics para o pequeno ecrã. É obviamente precedido por aquela que será a estreia cinematográfica dos mortos-vivos, White Zombie (1932, de Victor Halperin e com Bela Lugosi) e pelo incontornável George Romero e seus comentários sobre a sociedade de classes na década de 1960, passando por Sam Raimi e os seus Evil Dead (1981) e, mais recentemente, pela sangria de filmes como 28 Dias Depois (2002), a comédia Shaun of the Dead (2004), ou massificado World War Z, entre muitos outros. Em Fevereiro chega, por exemplo, o filme Pride and Prejudice and Zombies, a adaptação produzida por Natalie Portman do romance de 2009 de Seth Grahame-Smith com argumento co-escrito por David O. Russell (Golpada Americana, Três Reis).
Tão pop quanto Michael Jackson provou com o vídeo de Thriller em 1983 e com dezenas de milhões a fazerem de Walking Dead a série mais vista de sempre do cabo dos EUA, o fascínio pelos zombies enraizar-se-á na nossa vontade de exercitar aptidões de sobrevivência primárias? No prazer culpado de uma boa pilhagem quando tudo se desmorona? Na igualdade forçada pelo crash das estruturas de autoridade e abolição da sociedade de classes? Max Brooks, autor de World War Z e de The Zombie Survival Guide, defende que através deles enfrentamos alguns medos. Da morte, claro. Mas também do mundo.
“Não podemos dar um tiro na cabeça à crise financeira – podemos fazer isso a um zombie”, disse Brooks, filho de Mel Brooks e Anne Bancroft, à CNN em 2009, meses antes de se falar de Walking Dead e na altura da estreia de outra comédia, Zombieland, nos cinemas. Em 2013, já com World War Z e a sua estrela Brad Pitt nas salas, Brooks concretizava no New York Times: “Desde 2001, as pessoas têm estado amedrontadas”. Fala dos atentados de 11 de Setembro, da guerra do Iraque, das pilhagens, violações e ausência de autoridades no pós-furacão Katrina, das “cartas com antraz”, do aquecimento global, da crise financeira ou da gripe das aves. “Acho que as pessoas sentem que o sistema está a colapsar”. A ficção-científica, argumentava no New York Times, é uma boa forma de processar a ansiedade.
Isso e agrupar. Como o solitário adolescente de Fear the Walking Dead que está ciente de que os mortos-vivos vêm aí, perante uma catástrofe do género, há “força nos números”. É uma tese que o original Walking Dead defende, segundo os investigadores Joshua D. Ambrosius e Joseph M. Valenzano, da Universidade de Dayton, no seu artigo científico dedicado à série – “a família é o que mais importa no fim de contas – e no fim do mundo”.
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Começam este domingo as seis semanas que vão mostrar o surto de mortos-vivos que se torna no apocalipse zombie que desde 2010 atormenta os sobreviventes de The Walking Dead. Esta série, um dos maiores sucessos de audiências dos últimos anos na televisão por subscrição, é uma produção original do canal americano AMC que passa e continuará a passar na Fox em Portugal.
Mas Fear the Walking Dead, uma espécie de prequela (é apresentada como uma “companion series”), estará a partir desta madrugada em exclusivo no canal AMC português – presente na Cabovisão e Meo. Às 2h30 das noites de domingo para segunda, com repetição às segundas às 22h30, o canal aposta forte na experiência ainda rara de exibição simultânea nos EUA e em Portugal.
Rick Grimes, que durante o apocalipse estava em coma e acordou, e nós com ele, em Outubro de 2010, para um novo mundo cheio de Walking Dead, nunca passou por isto.
Na nova série de seis episódios ainda não sabemos bem em que momento estamos, mas há sinais de que o sítio onde estamos, Los Angeles, não vive num tempo muito distante da actualidade. A nova família de protagonistas é ainda um conjunto de vítimas sedentárias numa cidade embalada pelo som das sirenes - com o volume sugestivamente no máximo. Na Los Angeles paciente-zero de Fear the Walking Dead tocam telemóveis, matraqueiam helicópteros e até o genérico grita mais alto. Já o grupo de caçadores-recolectores de Rick, Daryl ou Michone de Walking Dead vive no silêncio das florestas e refúgios arruinados da Geórgia.
Um antes e depois da civilização criados por Robert Kirkman no seu universo de comics e séries televisivas – a nova série não tem base em livros, é 100% nova. “Estamos a construir uma ala na casa”, descreve o autor na revista Entertainment Weekly.
Nick (Frank Dillane, filho do actor Stephen Dillane – o Stannis de Guerra dos Tronos – e que foi o jovem Tom Riddle em Harry Potter) é um heroinómano em torno de quem uma família moderna se tenta encaixar. Na fisicalidade da sua interpretação, é quase um walker – movimenta-se ferido pelo mundo. A mãe Madison (Kim Dickens), o padrasto Travis (Cliff Curtis) e a outra adolescente da família (Alycia Debnam-Carey) são a porta de entrada para a mistura de terror, desmoronamento da vida-como-a-conhecemos e drama humano que aí vem.
Primeiro, além de uma abertura eficaz, há o ocasional zombie (será mesmo?) num dos parques mais conhecidos de Los Angeles, um ataque que se torna viral na Internet mas enfrenta cepticismo… Para Robert Kirkman “Fear the Walking Dead é um óptimo aperitivo para a sexta temporada” de Walking Dead (estreia-se na Fox a 12 de Outubro), cuja narrativa tem um engenho essencial – a ausência da tecnologia, que a devolve a um tempo mais lento, à intransponibilidade das distâncias, ao pasto da incomunicabilidade. Em East LA, os habitantes contemporâneos lêem Jack London e estão todos ligados, mas não se apercebem de nada (e alguma da crítica considera isso implausível).
Todos à excepção de um nerd borbulhento – “Ninguém vai para a universidade, ninguém vai para onde pensa ir”, resmunga no primeiro episódio - parecem demasiado focados na sua vida para admitir que os “casos em cinco Estados” e a “gripe” que está a esvaziar rapidamente o liceu podem ser o princípio do fim. “O que raio se está a passar?”, desespera-se finalmente Madison quando o novo normal lhe morde os calcanhares. No episódio seguinte, que a imprensa americana já viu, o plano do drama familiar abre-se agora mais sobre uma comunidade que parece não se consciencializar da mudança que se abate na sua vida de boleias para a escola, manifestações e engarrafamentos.
Para Kirkman, o ambiente desta prequela tem “a mistura excitante de incerteza e do inevitável”, descreve à Entertainment Weekly. Os espectadores “conhecem este mundo”. Sabemos “as regras”. Como os matar, o que evitar, como os iludir, que a infecção é generalizada. E que, pelo meio, esse conceito difuso de “natureza humana” leva também umas dentadas. “As nossas personagens não sabem e isso cria uma tensão e uma sensação de temor na experiência de espectador”, acredita o autor desta saga de mortos-vivos que com Dave Erickson é produtor executivo e argumentista do primeiro e do sexto episódio.
Os mortos-vivos vêm aí
Foi Erickson que garantiu na última Comic-Con que para já não estão previstas aparições de personagens de Walking Dead na série prequela, cuja segunda temporada está já garantida para 15 episódios no Verão de 2016. Fear the Walking Dead será sempre exibida antes de e até começarem novas temporadas da série-mãe.
The Walking Dead é o programa pós-apocalíptico de maior sucesso na televisão – nos últimos 15 anos, é a grande transição do género zombie do cinema e dos comics para o pequeno ecrã. É obviamente precedido por aquela que será a estreia cinematográfica dos mortos-vivos, White Zombie (1932, de Victor Halperin e com Bela Lugosi) e pelo incontornável George Romero e seus comentários sobre a sociedade de classes na década de 1960, passando por Sam Raimi e os seus Evil Dead (1981) e, mais recentemente, pela sangria de filmes como 28 Dias Depois (2002), a comédia Shaun of the Dead (2004), ou massificado World War Z, entre muitos outros. Em Fevereiro chega, por exemplo, o filme Pride and Prejudice and Zombies, a adaptação produzida por Natalie Portman do romance de 2009 de Seth Grahame-Smith com argumento co-escrito por David O. Russell (Golpada Americana, Três Reis).
Tão pop quanto Michael Jackson provou com o vídeo de Thriller em 1983 e com dezenas de milhões a fazerem de Walking Dead a série mais vista de sempre do cabo dos EUA, o fascínio pelos zombies enraizar-se-á na nossa vontade de exercitar aptidões de sobrevivência primárias? No prazer culpado de uma boa pilhagem quando tudo se desmorona? Na igualdade forçada pelo crash das estruturas de autoridade e abolição da sociedade de classes? Max Brooks, autor de World War Z e de The Zombie Survival Guide, defende que através deles enfrentamos alguns medos. Da morte, claro. Mas também do mundo.
“Não podemos dar um tiro na cabeça à crise financeira – podemos fazer isso a um zombie”, disse Brooks, filho de Mel Brooks e Anne Bancroft, à CNN em 2009, meses antes de se falar de Walking Dead e na altura da estreia de outra comédia, Zombieland, nos cinemas. Em 2013, já com World War Z e a sua estrela Brad Pitt nas salas, Brooks concretizava no New York Times: “Desde 2001, as pessoas têm estado amedrontadas”. Fala dos atentados de 11 de Setembro, da guerra do Iraque, das pilhagens, violações e ausência de autoridades no pós-furacão Katrina, das “cartas com antraz”, do aquecimento global, da crise financeira ou da gripe das aves. “Acho que as pessoas sentem que o sistema está a colapsar”. A ficção-científica, argumentava no New York Times, é uma boa forma de processar a ansiedade.
Isso e agrupar. Como o solitário adolescente de Fear the Walking Dead que está ciente de que os mortos-vivos vêm aí, perante uma catástrofe do género, há “força nos números”. É uma tese que o original Walking Dead defende, segundo os investigadores Joshua D. Ambrosius e Joseph M. Valenzano, da Universidade de Dayton, no seu artigo científico dedicado à série – “a família é o que mais importa no fim de contas – e no fim do mundo”.