O género Revolução Cultural
A Revolução Cultural chinesa é aqui um “género”, coisa cristalizada que em tudo nega o fulgor e a implicação turbulenta dos filmes dos colegas de Zhang da Academia de Pequim, Chen Kaige e Tian Zhuangzhuang.
No final dos anos 80, essa geração começaria a impor-se nos festivais internacionais. Qual o trauma que feria esses filmes? Os anos da Revolução Cultural, precisamente, a delação, a rasura da memória. Qual era, também, a sua contradição? O facto de ter sido condenada a filmar para o Ocidente, para os festivais, já que os filmes permaneciam interditos na China – a avidez na recepção internacional era impregnada pelo exotismo e não se pode isentar esse cinema de corresponder com chinoiserie.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No final dos anos 80, essa geração começaria a impor-se nos festivais internacionais. Qual o trauma que feria esses filmes? Os anos da Revolução Cultural, precisamente, a delação, a rasura da memória. Qual era, também, a sua contradição? O facto de ter sido condenada a filmar para o Ocidente, para os festivais, já que os filmes permaneciam interditos na China – a avidez na recepção internacional era impregnada pelo exotismo e não se pode isentar esse cinema de corresponder com chinoiserie.
The partial view '~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_CINEMA.cshtml' was not found. The following locations were searched:
~/Views/Layouts/Amp2020/ARTIGO_CINEMA.cshtml
ARTIGO_CINEMA
Zhang começou por trabalhar como director de fotografia de Chen Kaige, a quem se deve um dos momentos cinematograficamente incontornáveis do cinema da Revolução Cultural, Adeus Minha Concubina (1993), filme em que por interpostas personagens o realizador fazia a sua catarse (como jovem maoista denunciara o pai como inimigo do povo). Outro momento, intensíssima obra-prima, é O Papagaio de Papel Azul (1994), de Tian Zhuangzhuang: sem a convulsão operática do filme de Chen Kaige, progridia com uma silenciosa implacabilidade.
Esse filme foi a condenação de Tian Zhuangzhuang, obrigado a exilar-se da indústria, a que regressaria em 2001 com Springtime in a Small Town mas prisioneiro, ou refugiado, no esteticismo. Chen Kaige, esse, também foi desaparecendo no academismo. Nos dois casos, o talento queimou-se. Já Zhang Yimou sobreviveu (-lhes). Deu o passo de director de fotografia a cineasta, mas ainda assim continuou a pintar e a decorar com tecidos, filmando passados longínquos como se quisesse falar de outras coisas e épocas mas nunca explicitando.
É hoje cineasta oficial, e alguns dos seus filmes exibem a mecânica luzidia de uma proeza - dirigiu as cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim (2008). A “sua” Revolução Cultural, em Regresso a Casa – história de sacrifício e de loucura, uma família destruída –, já só existe, precisamente, como conjunto de peças necessárias ao mecanismo. É coisa cristalizada (como um “género”), assente numa espécie de utilitarismo que em tudo nega o fulgor e a implicação turbulenta dos filmes dos colegas de Zhang da Academia de Pequim, Chen Kaige e Tian Zhuangzhuang.