Um outro tipo de filme de abertura
19 filmes em competição. Italianos em força, os americanos Gus Van Sant e Todd Haynes, os asiáticos Hou Hsiao Hsien e Jia Zhangke, cinco franceses. Entre os quais La Tête haute, de Emmanuelle Bercot, um drama social, um outro tipo de filme de abertura.
Talvez possa favorecer a sua cinematografia, congratulam-se, ajudar à memória de uma tradição que a televisão ajudou a desertificar até níveis de aridez dramáticos: Mia Madre, ou as eternas dúvidas de Moretti, Il racconto dei racconti, de Garrone, La giovinezza, de Sorrentino, filme sobre a “fealdade” depois de A Grande Beleza. Só o primeiro é falado em italiano, note-se. Os outros dois têm super-casts internacionais e são falados em inglês: Michael Caine, Jane Fonda, Harvey Keitel estão no filme de Sorrentino; Salma Hayek, Vincent Cassel, John C. Reilly no de Garrone.
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Talvez possa favorecer a sua cinematografia, congratulam-se, ajudar à memória de uma tradição que a televisão ajudou a desertificar até níveis de aridez dramáticos: Mia Madre, ou as eternas dúvidas de Moretti, Il racconto dei racconti, de Garrone, La giovinezza, de Sorrentino, filme sobre a “fealdade” depois de A Grande Beleza. Só o primeiro é falado em italiano, note-se. Os outros dois têm super-casts internacionais e são falados em inglês: Michael Caine, Jane Fonda, Harvey Keitel estão no filme de Sorrentino; Salma Hayek, Vincent Cassel, John C. Reilly no de Garrone.
Será “tendência”? The Lobsters, do grego Yorgos Lanthimos, tem Colin Farrell, Rachel Weisz, Léa Seydoux e outra vez John C. Reilly. Fica mais intrigante ainda esta história de humanos obrigados a acasalar em 45 dias ou então são transformados em animais. É realizada por um cineasta que em pouco tempo fixou o seu lugar num mapa: “o género de filmes em que não se compreende tudo”, como dizia Thierry Frémaux, delegado-geral do festival, como se exibisse uma tolerada bizarria. E em Louder Than Bombs, do norueguês Joachim Trier, encontramos Jesse Eisenberg, Amy Ryan, Gabriel Byrne e David Strathairn.
Maior do que a embaixada italiana na competição é a francesa: cinco filmes, um deles logo a abrir e em concurso e a romper com uma certa ideia de filme de abertura, a de algo que raramente tem interesse artístico e funciona como manobra mediática para lançar um blockbuster e povoar a gala de abertura de estrelas. Esse filme é La Tête haute, de Emmanuelle Bercot, com Catherine Deneuve e Benoît Magimel, um drama social. Tem-se enfatizado que é a segunda vez na história de Cannes que um filme de abertura é realizado por uma mulher, depois de Un homme amoureux, de Diane Kurys, em 1978, o ano em que Maurice Pialat recebeu a Palma de Ouro por Sob o Sol de Satanás e agradeceu os assobios dizendo que se não gostavam dele, ele também não gostava deles. Mas espera-se que a programação de La Tête haute não seja um outro programa; que seja mesmo cinema e não apenas uma certa ideia de cinema de autor.
“Belle année française”. como disse Frémaux? Os novos de Arnaud Desplechin, Trois Souvenirs de ma jeunesse, e de Philippe Garrell, L’Ombre des Femmes, fizeram como Miguel Gomes e as suas Mil e uma Noites, preferiram a Quinzena dos Realizadores depois daquilo que a Selecção Oficial lhes queria oferecer. Ficaram no concurso Jacques Audiard, com Erran, Maïwenn com Mon Roi, que tem como actriz Emmanuelle Bérco, a realizadora do filme de abertura, La Loi du Marché, de Stéphane Brizé, Marguerite et Julien, de Valerie Donzelli, e La Vallée de l’amour, de Guillaume Nicloux, com Huppert/Depardieu – eis um grande reencontro, 40 anos depois de Les Valseuses, 24 depois de Loulou de Pialat.
E agora, a Ásia: The assassin do taiwanês Hou Hsiao-Hsien (filme de artes marciais); Mountains May Depart de Jia Zhangke (a China contemporânea, de novo, depois de A Touch of Sin); Notre Petite Soeur de Hirokazu Kore-Eda.
Na lista dos 19 filmes em concurso: Macbeth do australiano Justin Kurzel, com Michael Fassbender e Marion Cotillard; Le fils de Saul do húngaro Laszlo Nemes (se calhar, um acontecimento: dois dias na vida de um Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus obrigados a dar assistência aos nazis na máquina de extermínio); Sicario de Denis Villeneuve; The Sea of Trees, de Gus Vant Sant, sobre o encontro entre um americano que se quer suicidar (Matthew McConaughey) e um, igualmente perdido, japonês (Ken Wanatabe), no Monte Fuji - Van Sant, como Moretti, já venceu uma Palma de Ouro; Carol, de Todd Haynes, com Cate Blanchett e Rooney Mara – Haynes recebeu o prémio da melhor contribuição artística por Velvet Goldmine na edição de Cannes 1998.
O júri da competição é presidido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Isabella Rossellini, filha de Ingrid Bergman (o cartaz desta edição), preside ao júri da secção Un Certain Regard, cuja abertura será feita por Naomi Kawase e onde estão seleccionados os romenos The Tresaure, de Corneliu Porumboiu, e One Floor Below, de Radu Muntean, o tailandês Cemetery of Splendour, de Apichatpong Weerasethakul (Palma de Ouro em 2010 com O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores) ou Brillante Mendoza, com Taklub. Love de Gaspar Noé será exibido na Sessão da Meia Noite, e o cartaz, em versão hardcore e em versão para (quase) todos, as duas exuberantemente inundadas por fluidos humanos, já faz parte da petite histoire desta 68.ª edição. Para a História de Cannes 2015 ficará certamente a homenagem a Manoel de Oliveira, com a exibição de Visita ou memórias e confissões, o filme que o cineasta deixou para ser exibido postumamente e que teve a sua estreia mundial no Teatro Municipal do Rivoli, Porto.