Suspeito de ataque no Texas foi investigado por ligações à jihad
Elton Simpson, um norte-americano nascido no Illinois e residente no Arizona, foi morto pela polícia à porta de um centro onde decorria um concurso sobre caricaturas de Maomé.
Os dois atacantes chegaram de carro às imediações do centro de espectáculos e conferências Curtis Culwell, na cidade texana de Garland, pouco antes das 19h de domingo (1h desta segunda-feira em Portugal continental).
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Os dois atacantes chegaram de carro às imediações do centro de espectáculos e conferências Curtis Culwell, na cidade texana de Garland, pouco antes das 19h de domingo (1h desta segunda-feira em Portugal continental).
Já fora do veículo, dispararam contra um segurança privado, ferindo-o sem gravidade. Seguiu-se uma troca de tiros com a polícia, que durou pouco tempo – cerca de 15 segundos depois, os dois atacantes foram mortos e os seus corpos ficaram estendidos na rua durante a noite, enquanto as autoridades tentavam perceber se havia explosivos no automóvel através de um robô controlado à distância.
A intervenção da polícia foi rápida porque já estava em curso uma operação de segurança, liderada por uma equipa das forças especiais SWAT, para tentar travar possíveis ataques.
Nos dias que antecederam a realização do evento surgiram várias ameaças nas redes sociais, principalmente em contas no Twitter ligadas a movimentos jihadistas. Numa delas, com o nome @servantjihadee1 (entretanto removida), apelava-se aos "irmãos" de Garland que se dirigissem ao centro de espectáculos "com as suas armas de fogo, bombas ou facas".
Uma ameça conhecida
Uma outra conta no Twitter (@atawaakul), também removida nas últimas horas, terá sido usada por Elton Simpson para reivindicar a autoria do ataque, cerca de meia hora antes do tiroteio, com a palavra-chave #texasattack: "Eu e o irmão que está comigo prestamos fidelidade ao Comandante dos Fiéis. Que Alá nos aceite como mujahedin." Comandante dos Fiéis é uma referência a Abu Bakr al-Baghdadi, líder do autoproclamado Estado Islâmico.
Na manhã de segunda-feira, agentes do FBI fizeram buscas num apartamento em Phoenix, no estado do Arizona, onde moravam Elton Simpson e Nadir Soofi.
A ligação de Simpson ao jihadismo já tem uma década, e culminou em 2011 com uma condenação a três anos de prisão, com pena suspensa, por falsos testemunhos prestados no âmbito de uma investigação do FBI. O tribunal federal do Arizona considerou provado que Elton Simpson discutiu a possibilidade de viajar para a Somália, mas não encontrou provas suficientes que sustentassem a acusação do Governo de que ele pretendia juntar-se à milícia islamista Al-Shabab.
As equipas que estão a investigar o tiroteio de domingo à noite não avançaram hipóteses sobre os motivos que terão levado os dois homens a chegarem armados ao centro Curtis Culwell. Lá dentro decorria um polémico concurso para a atribuição de um prémio monetário no valor de 10.000 dólares ao autor do "melhor cartoon" que representasse Maomé.
O evento foi organizado por Pamela Geller, uma conhecida blogger e presidente da American Freedom Defense Initiative – um grupo que se apresenta como defensor do direito à liberdade de expressão mas que é acusado pela organização não-governamental norte-americana Southern Poverty Law Center de ser extremista e de incitar ao ódio contra os muçulmanos.
Convidado especial
O orador convidado foi o político holandês Geert Wilders, fundador do Partido da Liberdade e conhecido pelas suas declarações anti-islão. Wilders já foi alvo de um processo por incitamento ao ódio, por ter chamado terrorista a Maomé e ter comparado o Corão ao Mein Kampf, de Adolf Hitler.
No discurso de abertura da primeira edição do "Concurso e Exposição de Arte sobre Maomé", Wilders não defraudou os seus seguidores, proferindo várias declarações contra o islão: "O islão declarou guerra à nossa civilização judaico-cristã. O islão e a liberdade são totalmente incompatíveis."
Num evento destinado a premiar um cartoon sobre Maomé, o político holandês recordou o massacre no jornal satírico francês Charlie Hebdo, em Janeiro passado, afirmando que os seus cartunistas "foram assassinados por seguidores da religião do ódio".
"Sinto orgulho em dizer que a nossa cultura, a cultura judaico-cristã, é muito superior à cultura islâmica", declarou.
A notícia do tiroteio chegou à sala do centro Curtis Culwell quando já todos os oradores tinham terminado os seus discursos, e Geert Wilders já tinha saído do edifício.
O momento foi captado em vídeo porque o evento estava a ser transmitido em directo no YouTube pela organização The United West, que no seu site proclama dedicar-se "à defesa e ao progresso da civilização ocidental contra o ataque violento do islão da sharia [lei islâmica]".
Cerca de uma hora e meia depois do início da transmissão, um agente da SWAT entra no auditório e informa que houve um tiroteio, e diz que todos os presentes vão ser levados para uma zona "mais segura". A primeira pergunta vinda da audiência é recebida com uma gargalhada geral: "Os suspeitos eram muçulmanos?"