Detidos dois contrabandistas entre os sobreviventes do naufrágio no Mediterrâneo

Entre as centenas de mortos estão crianças e adultos de nove países africanos. Sobreviventes ficarão em liberdade e devem pedir asilo em Itália.

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Sobreviventes à chegada do porto de Catania. A Cruz Vermelha avançou que estavam "em choque" Alessandro Bianchi/Reuters

“Duas pessoas estão agora detidas no seguimento do testemunho dos sobreviventes”, avançou o procurador italiano Giovanni Salvi aos jornalistas. “O capitão, de origem tunisina, e um homem de nacionalidade síria”, avançou. As acusações chegaram na manhã desta terça-feira: o capitão será acusado de homicídio múltiplo por negligência e os dois por auxílio à imigração ilegal. 

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“Duas pessoas estão agora detidas no seguimento do testemunho dos sobreviventes”, avançou o procurador italiano Giovanni Salvi aos jornalistas. “O capitão, de origem tunisina, e um homem de nacionalidade síria”, avançou. As acusações chegaram na manhã desta terça-feira: o capitão será acusado de homicídio múltiplo por negligência e os dois por auxílio à imigração ilegal. 

Os dois contrabandistas foram identificados como sendo Mohammed Ali Malek, o capitão de 27 anos, e Mahmud Bikhit, o segundo elemento, de 25 de anos. Dos procuradores italianos surgiu também a informação de que a embarcação em que seguiam os imigrantes embateu contra o navio comercial de bandeira portuguesa que tentava socorrê-la. Terá sido essa colisão que fez com que os viajantes se tivessem deslocado no interior do navio, deslocando o peso para um dos lados e causando o seu naufrágio. 

Quanto ao resto dos sobreviventes, as autoridades italianas garantem que as 25 pessoas serão postas em liberdade. “Serão identificados depois de receberem cuidados médicos e esperamos que peçam asilo [em Itália]” disse Giovanni Salvi.

A Cruz Vermelha italiana esperou a chegada dos sobreviventes ao porto de Catania. “Estão completamente chocados, continuam a repetir-se, dizendo que são os únicos sobreviventes”, disse à BBC Francesco Rocca, o presidente da Cruz Vermelha italiana. Deste grupo, apenas três pessoas receberam cuidados médicos e uma será hospitalizada.

Este foi o maior desastre migratório no Mediterrâneo de que há memória. Os relatos divergem e ainda não há dados definitivos para o número de mortos. As primeiras informações davam conta de que seguiam 700 pessoas a bordo do navio que naufragou, mas acredita-se agora que tenham viajado, no mínimo, 800 pessoas. Contudo, como afirma a Organização Internacional das Migrações (OIM) no seu website, há testemunhos que apontam para que estivessem a bordo 950 pessoas. Só 24 corpos foram ainda recolhidos.

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) comprometeu-se com um número mínimo de mortos: “Podemos dizer que 800 pessoas morreram”, afirmou uma porta-voz da ACNUR, citada pelo Guardian.  

Entre os desaparecidos estão várias crianças, com idades entre os dez e os 12 anos, que viajavam sem companhia de adultos, segundo a OIM, e que terão ficado aprisionados no interior do navio quando este se virou. O diário britânico Guardian cita uma fonte da assistência humanitária em Catania que diz que a idade média dos sobreviventes andará à volta dos 25 anos. 

O porta-voz italiano para a OIM deu uma lista dos países que, acredita, compunham o grupo de viajantes: Gâmbia, Costa do Marfim, Somália, Eritreia – cerca de 150, diz a ACNUR –, Mali, Tunísia, Serra Leoa, Bangladesh e Síria. Segundo o Guardian, todos os que iam a bordo eram homens.  

Na manhã desta terça-feira prosseguiam as operações de resgate de mais três embarcações que desde domingo enviaram pedidos de socorro. Todas transportavam pessoas a tentarem a travessia do Mediterrâneo e a entrada na Europa. Entre os três, estima-se que viajassem cerca de 500 pessoas. Um veleiro com cerca de 80 pessoas encalhou na costa grega, em Rodes. Morreram pelo menos duas pessoas. E duas embarcações – um barco com 300 pessoas e um bote que transportava entre 100 a 150 pessoas – corriam o risco de naufragar à margem da costa líbia. Estima-se que, no mínimo, tenham morrido 20 pessoas.

Como resposta aos desastres migratórios no Mediterrâneo, a Comissão Europeia anunciou na segunda-feira a ampliação dos programas de segurança e patrulha marítima e aprovou também medidas de perseguição das redes criminosas de traficantes.