Garraiada com anões vestidos de estrunfes causa polémica
Votação no portal da vila mostra que os habitantes não vêem com bons olhos a realização do evento, mas a organização considera não existir nenhum problema
A edição deste ano da tradicional festa da Vaca das Cordas, em Ponte Lima, está envolta em polémica. Tudo porque o programa das festas inclui uma garraiada protagonizada por anões vestidos de estrunfes com origem na Colômbia, no México em Espanha. O espectáculo, inédito por terras limianas, é organizado por Pedro Moita e pretende ser uma manifestação de “humor tauromáquico”, com uma componente lúdica. “As pessoas falam por desconhecimento. O espectáculo é acrobático e não há maus-tratos nem de pessoas nem de animais”, considera.
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A edição deste ano da tradicional festa da Vaca das Cordas, em Ponte Lima, está envolta em polémica. Tudo porque o programa das festas inclui uma garraiada protagonizada por anões vestidos de estrunfes com origem na Colômbia, no México em Espanha. O espectáculo, inédito por terras limianas, é organizado por Pedro Moita e pretende ser uma manifestação de “humor tauromáquico”, com uma componente lúdica. “As pessoas falam por desconhecimento. O espectáculo é acrobático e não há maus-tratos nem de pessoas nem de animais”, considera.
O organizador considera que o espectáculo ensina às crianças que “as incapacidades não são uma limitação”. Para si, trata-se de “entretenimento” e refere que são os próprios “anões que querem participar”. Aníbal Varela, da Associação Vaca das Cordas, organizadora do evento, corrobora a opinião e diz que se trata de “um número artístico”. Não percebe a contestação e diz “lamentar as mentalidades”, até porque “não é a primeira vez que [este tipo de números] se realiza em Portugal”.
Uma votação num portal dedicado ao concelho indica que 80% dos 252 votantes considera a realização do número uma má ideia. João Araújo, habitante de Ponte de Lima e também ele anão, considera o espectáculo “desumano” porque “as pessoas vão rir-se da condição e não do espectáculo em si”. Para o limiano, a ideia é “muito medíocre” e, apesar de ser presença assídua na festa da terra, pensa não ir este ano. “É uma desvirtuação da tradição”, refere.
Céu Seabra, responsável pelo núcleo de nanismo da associação Raríssimas, discorda da realização deste tipo de eventos. “Não nos opomos a que as pessoas se predisponham para este tipo de espectáculos, mas considero que existe um aproveitamento da condição física”, explica. A responsável da associação ressalva que “as pessoas têm de se afirmar, independentemente da sua condição” e que este tipo de iniciativas representa um passo atrás na luta pela igualdade de direitos. “Antes é que a condição era utilizada como motivo de espectáculo, nomeadamente, nas áreas circenses”, refere.
Apesar da recente polémica, a realização do evento não parece estar em causa. Pedro Moita diz que “apenas faltam resolver problemas logísticos”, até porque “as licenças e o aval da câmara estão já assegurados”. Até ao momento, o PÚBLICO não conseguiu entrar em contacto com o executivo limiano.
Aníbal Varela considera exagerada a polémica e diz que o número de vozes discordantes não “representa a totalidade da vontade dos habitantes do concelho de Ponte de Lima”. Mas considera que o burburinho “acabou por trazer publicidade à festa”.
Já Pedro Moita mostra-se indignado com as reacções. “Os próprios anões é que gostam. Eles têm vida própria, são perfeitamente normais, e não percebo porque protestam”, considerando que os que criticam “não têm cultura nem consideração”. O organizador anuncia que já há procura de bilhetes e que “existem famílias que pedem 12 a 15 bilhetes”. João Araújo não se surpreende que o evento tenha muita gente a assistir mas espera que não se torne uma tradição.
”Se fosse anunciado um grupo heterogéneo, nada contra. Mas são anunciados pela sua condição e isso pode levar à chacota”, avisa Céu Seabra. O espectáculo está marcado para dia 21 de Junho, e, apesar da diversão garantida pela organização, a garraiada está a dividir os habitantes de Ponte de Lima.
Texto editado por Ana Fernandes