Mathieu Amalric, o cineasta do lado do gineceu
Foi o produtor português Paulo Branco que apresentou La Chambre Bleue em Cannes
Com La Chambre Bleue (secção Un Certain Regard), Cannes chama de novo Mathieu Amalric, a quem em 2010 deu o prémio de realização por Tournée. Nessa edição Mathieu subiu ao palco do Palácio dos Festivais com as generosas artistas de “burlesque” mas já sem o bigode que usava no filme e que era inspirado no do produtor Paulo Branco.
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Com La Chambre Bleue (secção Un Certain Regard), Cannes chama de novo Mathieu Amalric, a quem em 2010 deu o prémio de realização por Tournée. Nessa edição Mathieu subiu ao palco do Palácio dos Festivais com as generosas artistas de “burlesque” mas já sem o bigode que usava no filme e que era inspirado no do produtor Paulo Branco.
Desta vez foi Paulo Branco que subiu ao palco para apresentar o novo filme aos exibidores franceses, já que Amalric está a filmar em Londres. O produtor brincou: finalmente vingou-se e teve enfim o seu público. Foi Branco, aliás, que explicou que La Chambre Bleue nasceu no compasso de espera de um projecto de envergadura a que Amalric se quer atirar, nem mais nem menos do que Le Rouge et le Noir, adaptação de Stendhal.
“Urgência”, foi a palavra que utilizou para caracterizar o desafio. Um filme, adaptação de uma novela de Georges Simenon, para ser rodado rapidamente, para ir sendo descoberto enquanto se rodava. Tem pouco mais de uma hora (que ele tivesse cuidado e não se ficasse por uma curta, ter-lhe-á dito Branco). É curioso comparar com Tournée: Amalric (também intérprete) continua a tactear a sua fantasia, as mulheres, nesta caso a amante que o devora (personagem interpretada por Léa Drucker, que é a sua companheira na vida). Ficam dois cadáveres no caminho, o da mulher dele e o do marido dela.
É de facto uma longa-metragem ameaçada pela curta. Não porque dure apenas uma hora e quinze minutos, mas porque parece estar feita antes de se fazer. Como se se limitasse a fechar o redondo círculo que foi desenhado. Pelo contrário, havia uma opulência na forma como Tournée se abria generosa e vertiginosamente à fuga. Por isso se falou de A Morte de um Apostador Chinês, de Cassavetes, menos como referência ou citação e mais por aquela forma de alguém estar metido com a sua perda – um fascínio de Amalric, o filme de Cassavetes, está na origem da associação cinema-mulheres.
Já La Chambre Bleue trilha caminho ocupado. É Truffaut, não o de La Chambre Verte, mas o de A Mulher do Lado ou Finalmente Domingo! - Léa Drucker tem um lado devorador que evoca a Fanny Ardant com que Truffaut fantasiou nesses filmes. Mas é um exercício previsível, com menos vida do que se esperaria. Que venha lá esse Le Rouge et le Noir…