Robert Wilson veio cá "raptar" um desenhador de luz
Rui Monteiro, 25 anos, está prestes a partir em digressão com aquele que é um dos maiores nomes da criação contemporânea mundial. Copenhaga, Paris, Praga, Craiova, Moscovo...
1988, corria o mês de Agosto. Em Nova Iorque, o gigante Robert Wilson acabava de apresentar a sua versão da peça “Le Martyre de Saint Sebastien” na Metropolitan Opera House, com música de Claude Debussy. Nesse mês, em Braga, nascia Rui Monteiro.
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1988, corria o mês de Agosto. Em Nova Iorque, o gigante Robert Wilson acabava de apresentar a sua versão da peça “Le Martyre de Saint Sebastien” na Metropolitan Opera House, com música de Claude Debussy. Nesse mês, em Braga, nascia Rui Monteiro.
Vinte e cinco anos depois, as suas histórias cruzam-se. 2014 ficará marcado na vida de Rui como o ano em que partiu numa digressão com aquele que é um dos maiores nomes da criação contemporânea mundial — aquele que é encenador, coreógrafo, intérprete, desenhador de som e de luz, artista multimédia, pintor, escultor, dramaturgo... Copenhaga, Paris, Praga, Craiova e Moscovo são os sítios por onde vai passar. “Madama Butterfly” e “1914” já confirmadas.
Rui Monteiro é desenhador de luz, trabalha como freelancer. “Durante uma temporada menos ocupada, decidi construir um site e mandar emails para as pessoas com quem gostaria de trabalhar internacionalmente. Só porque não perdia nada. Qual não foi o meu espanto quando passados cinco minutos tinham chegado as primeiras respostas. Passados dois dias já todos me tinham respondido. O Robert era a minha primeira opção”, diz ao P3 com um sorriso largo.
“Disseram que viram o meu portfolio, no site. Disseram que gostaram muito e que queriam conversar comigo.”
O caminho até à (sua) luz começou na Academia Contemporânea do Espectáculo, no Porto, durante o curso de Som e Luz. Terminou em 2008. Se estás no escuro em relação ao que faz um desenhador de luz, o Rui explica: “Um desenhador de luz concebe o conceito da iluminação de um espectáculo, e depois também a parte técnica: do trabalho no papel (o desenho técnico) até à parte do palco, onde existem as montagens, as afinações, a programação…”. Disse-nos que há muito poucos em Portugal.
Estagiou em Lisboa durante um ano, como técnico. Foi então que percebeu o queria mesmo fazer. Despediu-se e voltou para o Norte – a “base”, como refere – para trabalhar como freelancer. Entretanto trabalhou maioritariamente com o Teatro Bruto, no Porto, e foi-se dividindo entre a invicta e a capital. Até agora nunca esteve sem trabalho.
"Fugir" não é o seu desejo: “Portugal é tão pequenino, as condições de vida estão cada vez piores, e, sendo a distância da Europa tão pequena, porque não manter a residência aqui e poder ir trabalhar lá fora? Podemos ir daqui a Paris quase tão rápido como daqui a Lisboa [falámos no Porto], é só uma questão de percepção.” E acrescenta: “Não quero de todo fugir daqui, não quero dar razão àquele senhor [Pedro Passos Coelho]!”
Perguntamos-lhe como é ser freelancer em Portugal. “É uma luta constante, de todos os dias. Temos que aprender a reinventar-nos e a ser empreendedores, porque o governo cada vez menos apoia as artes. Agora até consigo planear com alguns meses de antecedência, mas no início, era viver o dia-a-dia”, conta-nos Rui.
Sobre o seu futuro mentor, Rui não poupa elogios: “Ele é uma enorme referência, tanto na encenação como nas artes plásticas. Dá importância e relevância à iluminação em cena. É uma personagem incontornável, definitivamente.”
Rui conseguiu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, que engloba a viagem, a estadia e dinheiro para a subsistência.
Um é mundialmente é conhecido, o outro está a começar a dar os primeiros passos – quase 50 anos os separam. Enquanto para um o mundo é a sua casa, para o outro esta será a sua primeira experiência de trabalho internacional.
Rui Monteiro ainda se “belisca": “Foi tudo tratado por email, por isso agora ainda estou naquela fase: será que isto é mesmo real? Será que vou chegar lá e não vai estar ninguém?”.