O Gang de Hollywood
Eles têm 17 anos, vivem nos subúrbios de Hollywood e com um desejo, que a reality tv alimenta, de fazerem parte de Hollywood. Através da net, acedem às moradas das estrelas, sabem as horas em que elas estão ausentes das casas; e é essa a oportunidade para lá entrarem, mergulharem nos guarda-roupas, trazerem uma peça favorita - e, se for o caso, dali saírem com o carro da vedeta. Foi isso o que aconteceu na realidade entre 2008 e 2009. Os golpes desse grupo de adolescentes que ficou conhecido por The Bling Ring chegaram aos três milhões de dólares. Acabaram por ser apanhados, embora custe a acreditar - e vendo o filme custa a acreditar - que tamanho domínio das tecnologias tenha estado a par de uma enorme ingenuidade durante a execução (nem uma máscara, nem um par de luvas para impedir impressões digitais... E eram os primeiros a alardear os feitos no Facebook.) É fácil perceber que o roubo nunca foi o motivo, mas o facto de durante duas horas poderem viver outras vidas. E agora Sofia: vê-se pertencer a um mundo à parte, como membro de uma espécie de aristocracia que acabou. Em contacto com a fama desde cedo, amiga de designers, ela própria designer, casada com a pop, fashionista, é de uma tradição diferente, que não a dos tablóides e da reality tv e do trash. Isso talvez seja a pedra de toque deste filme: olhar “moral” sobre o “mundo de excesso” que tenta adolescentes, que se alimenta deles e que os alimenta - sim, tem algo de filme de vampiros, e nunca se pensou que isso iria caber no mundo de Sofia. Sofia já admitiu que face às personagens teve de se esforçar por criar qualquer coisa próximo da empatia. Esse caminho da antipatia inicial para chegar a um olhar à altura das personagens é qualquer coisa de mais denso e complexo do que a nostalgia prêt-a-porter de filmes anteriores da realizadora, e deixa um travo grave a amargo em The Bling Ring. Este olhar para a sociedade americana podia pertencer, por exemplo, a um filme de Todd Solondz - o que nunca se pensou que um dia iria caber no mundo de Sofia.
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Eles têm 17 anos, vivem nos subúrbios de Hollywood e com um desejo, que a reality tv alimenta, de fazerem parte de Hollywood. Através da net, acedem às moradas das estrelas, sabem as horas em que elas estão ausentes das casas; e é essa a oportunidade para lá entrarem, mergulharem nos guarda-roupas, trazerem uma peça favorita - e, se for o caso, dali saírem com o carro da vedeta. Foi isso o que aconteceu na realidade entre 2008 e 2009. Os golpes desse grupo de adolescentes que ficou conhecido por The Bling Ring chegaram aos três milhões de dólares. Acabaram por ser apanhados, embora custe a acreditar - e vendo o filme custa a acreditar - que tamanho domínio das tecnologias tenha estado a par de uma enorme ingenuidade durante a execução (nem uma máscara, nem um par de luvas para impedir impressões digitais... E eram os primeiros a alardear os feitos no Facebook.) É fácil perceber que o roubo nunca foi o motivo, mas o facto de durante duas horas poderem viver outras vidas. E agora Sofia: vê-se pertencer a um mundo à parte, como membro de uma espécie de aristocracia que acabou. Em contacto com a fama desde cedo, amiga de designers, ela própria designer, casada com a pop, fashionista, é de uma tradição diferente, que não a dos tablóides e da reality tv e do trash. Isso talvez seja a pedra de toque deste filme: olhar “moral” sobre o “mundo de excesso” que tenta adolescentes, que se alimenta deles e que os alimenta - sim, tem algo de filme de vampiros, e nunca se pensou que isso iria caber no mundo de Sofia. Sofia já admitiu que face às personagens teve de se esforçar por criar qualquer coisa próximo da empatia. Esse caminho da antipatia inicial para chegar a um olhar à altura das personagens é qualquer coisa de mais denso e complexo do que a nostalgia prêt-a-porter de filmes anteriores da realizadora, e deixa um travo grave a amargo em The Bling Ring. Este olhar para a sociedade americana podia pertencer, por exemplo, a um filme de Todd Solondz - o que nunca se pensou que um dia iria caber no mundo de Sofia.