A fotografia e o papel vão casar outra vez?

A edição "Out Of The Phone" é a "mobile photography" a caminhar na direcção do bom e velho papel. O P3 entrevistou Richard Koci Hernandez, vencedor de um EMI e "crente fervoroso no processo de impressão"

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Out Of The Phone é uma espécie de "rewind". A editora, fundada por Pierre Le Govic, pretende "dar vida" ao profundo universo da "mobile photography" (fotografia com dispositivos móveis). E "dar vida" significa mergulhar e trazer essa dimensão futurista para o bom e velho papel. A colecção #onthestreets conta agora com "Downtown", com a assinatura Richard Koci Hernandez (@koci no Instagram, onde os passos das pessoas que fotografa são seguidos por quase 170 mil pessoas).

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Out Of The Phone é uma espécie de "rewind". A editora, fundada por Pierre Le Govic, pretende "dar vida" ao profundo universo da "mobile photography" (fotografia com dispositivos móveis). E "dar vida" significa mergulhar e trazer essa dimensão futurista para o bom e velho papel. A colecção #onthestreets conta agora com "Downtown", com a assinatura Richard Koci Hernandez (@koci no Instagram, onde os passos das pessoas que fotografa são seguidos por quase 170 mil pessoas).

O P3 conversou com um "crente fervoroso no processo de impressão e da conversão das imagens digitais em papel". "Não acho que só porque uma coisa é nova, brilhante e reluzente deve eclipsar uma prática do passado", sublinha o produtor multimédia, vencedor de um EMI (os Óscares da indústria televisiva) e professor de Novos Media do curso de Jornalismo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.

P3 — Out Of The Phone. Isto é o presente: Instagram em papel...

Koci — O Instagram é sem dúvida o presente tecnológico, mas acredito que ainda estamos em transição. Ainda valorizamos muitas das nossas práticas históricas e ao mesmo tempo adoptamos e desenvolvemos práticas novas. Eu adoro a tecnologia, mas certamente não acho que só porque uma coisa é nova, brilhante e reluzente deve eclipsar uma prática do passado.

P3 — A que te referes especificamente?

Koci — Refiro-me à tradição das obras em papel. É uma tradição valiosa que eu espero e sobretudo acredito que transportaremos para o futuro por muitas gerações, porque nada bate ou ultrapassa a ligação emocional táctil que temos com um objecto quando podemos interagir fisicamente com ele. É por isso que continuo a ser um crente fervoroso no processo da impressão e da conversão das imagens digitais em papel.

P3 — Essa batalha faz mais sentido do que a outra, entre a fotografia analógica e a digital?

Koci — É-me indiferente o modo como as imagens são captadas, ou seja se o dispositivo que capta a imagem fixa ou em movimento é um filme analógico ou um composto de zeros e uns digitais. Mas acho que é aceitável e necessário transformar imagens fixas em objectos.

P3 — E a introdução de vídeo no Instagram, é aceitável ou necessária?

Koci — Considero a introdução do vídeo no Instagram uma progressão simples, que de resto mimetiza outros processos históricos, da iconografia digital para a iconografia em movimento. Uma progressão natural. Acolho-a, como acolho todas as novas tecnologias, com um optimismo cuidadoso no que diz respeito à sua utilidade como forma de jornalismo visual e de comunicação.

P3 — Qual será a próxima surpresa do futuro da comunicação de massas?

Koci — Aprendi a não tentar sequer remotamente prever o que pode vir, porque a tecnologia está sempre dois passos à frente do que eu acho que vai acontecer. Se me aventurasse a adivinhar, diria que a tecnologia “para vestir” e ecrãs mais pequenos em óculos e relógios são certamente uma nova vaga que irá dominar. Mas acima de tudo é minha firme convicção que o que seguramente veio para ficar é um muito bem oleado sistema de comunicação visual.

P3 — Qual deve ser o papel do jornalismo numa rede tão específica como é o Instagram?

Koci — O papel do jornalismo, na minha opinião, deve continuar a ser aquele que está inscrito nos seus princípios fundadores, apesar das mudanças tecnológicas e das novas redes e plataformas. É minha convicção que o jornalismo escrito ou visual deve usar as novas plataformas como praças onde pode anunciar as manchetes do dia exactamente como os ardinas faziam no passado. Só que agora a praça é virtual e está na Internet, em plataformas como o Instagram, o Facebook e um sem número de outras redes sociais. O jornalismo tem de se apresentar e de se praticar na praça digital. E de continuar a ser imperdoável na sua busca de uma história ou da verdade. É preciso continuar a abrir caminho através de pilhas de dados e factos não-lineares e lamacentos, avaliar da sua veracidade e da sua validade para perceber, tanto quanto possível, se debaixo de tudo isso realmente há uma história, e depois apresentá-la com transparência, originalidade e honestidade. Esta descrição transcende o tempo,  a tecnologia, o "software" e as redes sociais. Permanecerá constante e deve por isso ser disseminada em todas as plataformas do futuro, sejam elas quais forem.