Boas intenções
A ligeireza com que compacta um tema complexo, dando a sensação reconfortante de que foi problematizado: eis Mira Nair, cineasta de origem indiana a viver em Nova Iorque, o world cinema como celebração ecuménica e a dançar também ausência de estilo - ausência de cor por querer favorecer todas as cores. Isto a propósito de "O Fundamentalista Relutante".
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A ligeireza com que compacta um tema complexo, dando a sensação reconfortante de que foi problematizado: eis Mira Nair, cineasta de origem indiana a viver em Nova Iorque, o world cinema como celebração ecuménica e a dançar também ausência de estilo - ausência de cor por querer favorecer todas as cores. Isto a propósito de "O Fundamentalista Relutante".
Às tantas, o protagonista, um jovem paquistanês que acaba de triunfar em Wall Street quando acontece o 11 de Setembro (Riz Ahmed), vê-se dividido entre a escolha do campo a que pertencer: o país que adoptou, que ele admira, ou o país de origem, a sua herança, a sua cultura, incluído o apelo do fundamentalismo. Do outro lado, há um jornalista que encarnou numa missão (Liev Schreiber) e essa é a personagem que representa o olhar e os preconceitos ocidentais sobre “o outro” - que é como o paquistanês se começa a sentir, o que o impele a reencontrar o seu mundo, a sua “cor”.
"O Fundamentalista Relutante" podia ser, então, a aprendizagem do olhar: a personagem de Schreiber a não ver nada do essencial sobre a personagem de Ahmed. Mas para o dilema ser cinematograficamente relevante, e não apenas um tópico de discussão a registar no barómetro da “actualidade”, era preciso que o filme fosse fracturante na experiência que proporciona, em vez de a servir numa bandeja. Ou seja: que Mira Nair escolhesse, ela própria, um território cinematográfico e não refugiasse o olhar nas boas intenções.