Elas estão a restaurar 45 obras de arte do Parlamento Europeu

O trabalho da empresa portuense 20|21 vai dividir-se entre Porto, Bruxelas e Luxemburgo e inclui uma obra de Julião Sarmento

Foto
Alice Barcellos

Entre quadros, pincéis, tintas e outros utensílios, as profissionais da empresa de conservação e restauro de arte contemporânea 20

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Entre quadros, pincéis, tintas e outros utensílios, as profissionais da empresa de conservação e restauro de arte contemporânea 20

21, no Porto, têm por estes dias o atelier cheio: estão a restaurar as obras de arte do Parlamento Europeu.

Um trabalho que não surgiu por acaso. Há dois anos, a

20
Foto
Alice Barcellos

21 concorreu a um concurso público internacional para “fazer a inventariação do estado de conservação da colecção do Parlamento”, diz Marta Palmeira, uma das sócias-gerentes da empresa.

Foto
Alice Barcellos

Depois de terem ganho o concurso, estiveram um mês entre Estrasburgo, Luxemburgo e Bruxelas a fazer a avaliação do estado de conservação de 601 obras de arte. No relatório final, “propusemos uma série de alterações para que obras pudessem estar o melhor possível no Parlamento”, refere Marta Palmeira.

Foto
Alice Barcellos

No fim do ano passado, a empresa concorreu a um novo concurso, desta vez direccionado para o restauro de 45 obras prioritárias. Sem “grandes expectativas”, mas sabendo que eram a empresa “que melhor conhece as obras de arte do Parlamento”, Marta Palmeira e Joana Correia, a outra sócia-gerente da

20

21, resolveram concorrer e mais uma vez ganharam.

“Da primeira vez foi mais emocionante porque foi o nosso primeiro grande trabalho internacional e para um cliente bastante importante. Desta vez, estamos a restaurar obras e vai ser na mesma um grande desafio para nós”, conta Marta Palmeira.

Um desafio que se vai dividir entre Porto, Bruxelas e Luxemburgo. A primeira etapa decorre no atelier até Maio, num trabalho minucioso de restauro dos quadros. A segunda etapa vai estar mais centrada em esculturas, algumas de grandes dimensões, localizadas nas instalações do Parlamento. “O processo vai demorar cerca de meio ano, entre as obras que vieram para cá e depois a nossa ida para Bruxelas e Luxemburgo, que vai durar cerca de um mês e meio, dois meses, durante o Verão”, conta Marta Palmeira.

A equipa de especialistas da empresa já está familiarizada com as instalações do Parlamento Europeu, devido ao trabalho realizado há dois anos. “Estivemos um mês entre Estrasburgo, Luxemburgo e Bruxelas. O trabalho consistia em ver as obras uma a uma, em fazer a avaliação do estado de conservação, ver quais eram os danos e ver também quais eram os factores de risco do local onde as obras estavam”, descreve a restauradora da 20

21.

Julião Sarmento e José de Guimarães

As obras que estão a ser agora restauradas pela empresa, no Porto, apresentam “danos similares”, como “sujidade e algumas deformações, resultantes das condições que não são óptimas porque elas não estão num museu [grande parte das obras encontra-se em gabinetes e espaços comuns], alguns rasgões e pequenas lacunas”, explica Marta Palmeira.

“O atelier está cheio neste momento. As obras vieram embaladas e o que estamos a fazer é desembalar à medida que estamos a restaurar e depois voltamos a embalar porque não temos muito espaço para as acondicionar”, refere Marta Palmeira, sublinhando que o trabalho foi facilitado pelo “levantamento do estado de conservação” das obras feito pela empresa há dois anos. “Estamos a seguir a proposta e a fazer os tratamentos que são necessários em cada uma das obras”, diz.

Com uma colecção centrada “na segunda metade do século XX” e focada nos “artistas europeus”, Joana Correia destaca a presença do alemão Jörg Immendorff e do escocês Peter Doig. A única obra de um artista português que vai ser intervencionada pela 20

21 é de Julião Sarmento que “não veio para Portugal porque tem umas dimensões que não o permitiam”, explica Joana Correia, destacando também na colecção do Parlamento uma escultura de José de Guimarães, que, no entanto, não vai ser restaurada.

No fim do Verão, a equipa da 20

21 regressa a Portugal com um trabalho de peso no portefólio. “Esperamos que se uma instituição como o Parlamento Europeu nos deu trabalho e nos reconheceu, muitas outras vejam isso como uma boa oportunidade para trabalhar connosco”.