00.30 - A Hora Negra
Começa a ser preocupante a associação Kathryn Bigelow/Mark Boal. O que ainda se disfarçava na colaboração anterior, Estado de Guerra, ocupa agora quase todo o filme. A saber: uma pretensa “objectividade jornalística” do argumento, a descrição de um processo (a caça a Osama Bin Laden), que resulta, afinal, numa ausência de ponto de vista e na incapacidade de dramatizar e de criar personagens que interessem; e que pareçam interessar-se. O que este filme tem no seu centro, Maya/Jessica Chastain, nem sequer é uma incógnita: não há nada ali a interrogar o espectador nem sequer a interrogar-se. Se o gongórico artigo de Naomi Wolf, no Guardian, a comparar Bigelow com Leni Riefenstahl (ambas como veículos da propaganda de um “regime”) é, acima de tudo, um gesto de exibicionismo da autora do texto, ele surge talvez como sintoma de um mal estar desencadeado pela neutraliade de 00.30 - A Hora Negra: aquilo de que o filme parece só ser capaz ou o território onde se refugia? A lógica do docudrama está a entorpecer o cinema de Bigelow. Que aqui só dá sinais vitais na meia-hora final (o ataque ao “complexo” de Bin Laden), onde se vislumbram mais personagens do que em todo o filme. Eis o mistério: onde está Kathryn Bigelow?
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Começa a ser preocupante a associação Kathryn Bigelow/Mark Boal. O que ainda se disfarçava na colaboração anterior, Estado de Guerra, ocupa agora quase todo o filme. A saber: uma pretensa “objectividade jornalística” do argumento, a descrição de um processo (a caça a Osama Bin Laden), que resulta, afinal, numa ausência de ponto de vista e na incapacidade de dramatizar e de criar personagens que interessem; e que pareçam interessar-se. O que este filme tem no seu centro, Maya/Jessica Chastain, nem sequer é uma incógnita: não há nada ali a interrogar o espectador nem sequer a interrogar-se. Se o gongórico artigo de Naomi Wolf, no Guardian, a comparar Bigelow com Leni Riefenstahl (ambas como veículos da propaganda de um “regime”) é, acima de tudo, um gesto de exibicionismo da autora do texto, ele surge talvez como sintoma de um mal estar desencadeado pela neutraliade de 00.30 - A Hora Negra: aquilo de que o filme parece só ser capaz ou o território onde se refugia? A lógica do docudrama está a entorpecer o cinema de Bigelow. Que aqui só dá sinais vitais na meia-hora final (o ataque ao “complexo” de Bin Laden), onde se vislumbram mais personagens do que em todo o filme. Eis o mistério: onde está Kathryn Bigelow?