Bandex é música (e política) para os nossos ouvidos
É a arte da "songificação" no YouTube. Lá temos a estrela pop Ana Drago, kuduro com Pedro Passos Coelho, música pimba a acompanhar Alberto João Jardim e as poupanças de Cavaco. E “Mentiras”, uma balada de José Sócrates
A primeira regra é não dizer mentiras. A segunda é “songificar” — mais do que musicar — vídeos do YouTube. A terceira é falar a sério das poupanças de Cavaco Silva, dos recibos verdes e dos senhores que só prometem aos jovens um futuro pior, do buraco financeiro da Madeira e de Pedro Passos Coelho. A quarta é esquecer todas as regras.
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A primeira regra é não dizer mentiras. A segunda é “songificar” — mais do que musicar — vídeos do YouTube. A terceira é falar a sério das poupanças de Cavaco Silva, dos recibos verdes e dos senhores que só prometem aos jovens um futuro pior, do buraco financeiro da Madeira e de Pedro Passos Coelho. A quarta é esquecer todas as regras.
“Quem é que criou os recibos verdes?/ Quem é que aumentou as propinas?/ Quem é que disse aos jovens: Não pensem em ter futuro/ Não pensem em estudar/ Não estudem!” Foi uma intervenção de Ana Drago numa reunião plenária. É o refrão do teledisco “Um futuro pior” com quase 100 mil visitas no canal Bandex no YouTube.
Bandex é Nuno Gelpi. “Tudo aconteceu de uma forma espontânea durante a manifestação de Março”. Já lá vai um ano. Gelpi, agora na grelha da Speaky.TV (“duas vezes por mês, mas a coisa é flexível porque pode aparecer uma entrevista impossível de recusar”), pega em conteúdos do YouTube, transforma-os e volta a colocá-los na mesma montra. “Tudo começa e acaba no YouTube”. Nada se perde. “Limitado?”, perguntamos nós. “Ilimitado”, respondeu ele. “Há lá muito mais coisas do que na televisão”, completou Gelpi, que nem sequer tem uma televisão. “Isso é o mais engraçado”.
Não compramos música, vemos vídeos
O músico (Barry White Gone Wrong, Os Três Marias, fol&ar, Bandex...) e produtor de 37 anos começou a colocar músicas no YouTube “porque as pessoas deixaram de comprar música, mas vêem muitos vídeos”. “Temos de nos adaptar. Em vez de me queixar, em vez de esperar por uma produtora, avancei”. E continua a brincar a sério “porque tem sido um meio eficaz”.
E aí encaixa o sucesso de bilheteiras “Um futuro pior”. (“Ana Drago responde num tom certeiro a um deputado qualquer do PSD. Entretanto, Passos Coelho chama piegas às pessoas que se queixam, mesmo se estiverem a passar por grandes dificuldades, como é o conhecido caso do presidente Cavaco”), o poliglota José Sócrates “En Guardia” e a “Vantagem Financeira” com Fernando Nobre e Judite de Sousa (“Eu estou aqui para ganhar”, diz ele, “vantagem financeira”, diz ela).
“É uma maneira de comunicar como outra qualquer”, diz ele. É uma maneira de comunicar diferente de todas as outras, dizemos nós — entretanto fomos espreitar o trabalho dos Gregory Brothers, criadores do projecto Auto-Tune The News e Songify This, bem como da aplicação de iPhone Songify. “Serve para divulgar música e expressar ideias que são óbvias”, explica Nuno Gelpi em conversa com o P3.
Não se admirem se um dia virem o CD canal Bandex. Com “O Farsola” (Pedro Passos Coelho num dueto “bizarro, mas orelhudo” com Miguel Portas), com “Africana” (kuduro e um dueto mexido entre Passos Coelho e Diogo Leite “cada um com o seu delírio”), “Cambalacho” (música pimba e Alberto João Jardim) e “Foi na rua” (vídeo-canção de protesto com Jel, Marcelo Rebelo de Sousa e uma “participação especial” de Miguel Sousa Tavares e da imperatriz Leopoldina do Brasil).
E ainda “As minhas poupanças” (dele, de Cavaco Silva) e “A Visita” do presidente (onde é dez vezes repetida a palavra “cancelou” a visita à escola). As montagens? “Algumas são muito. Muito rápidas. Outras estão guardadas no frigorífico à espera de amadurecer”, diz Nuno Gelpi. "Songificamos" mais uma? “Mentiras”, a balada de José Sócrates. “A primeira regra é não dizer mentiras”.