Kent Sheely, o Robert Capa dos jogos de computador
Invadiu o Day of Defeat não como um soldado, mas na pele de um fotojornalista. Não corre risco de vida, mas poucos têm misericórdia do seu avatar
Na vida real, Kent Sheely é um artista digital. No mundo virtual, o artista — que muniu estrelas de cinema de “zappers” Nintendo — transforma-se num fotojornalista, num Robert Capa dos jogos de computador. Percorre o mesmo campo minado, mas para registar. No futuro, disse Kent ao P3, esta brincadeira pode vir a ser uma profissão.
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Na vida real, Kent Sheely é um artista digital. No mundo virtual, o artista — que muniu estrelas de cinema de “zappers” Nintendo — transforma-se num fotojornalista, num Robert Capa dos jogos de computador. Percorre o mesmo campo minado, mas para registar. No futuro, disse Kent ao P3, esta brincadeira pode vir a ser uma profissão.
O que chegou primeiro, a fotografia ou os jogos?
Os jogos vieram definitivamente primeiro. Comecei no Atari quando eu era muito novo e quando os jogos eram mais simples. Cresci e interessei-me pela arte e pela fotografia. Só há alguns anos é que estabeleci a ligação entre as fotografias do mundo real e as imagens dos mundos virtuais.
Não queres ser soldado nem "sniper". Preferes subverter o jogo...
Às vezes, a melhor maneira de descobrir ideias novas é quebrar as regras. Nos jogos de guerra, o jogador pode escolher o papel a desempenhar. Eu queria contar a história e não participar nela. Nas batalhas reais do passado algumas pessoas escolheram não lutar, mas carregavam câmaras para contar o que se estava a passar.
És fã do Robert Capa. O que procuras nas tuas reportagens?
Como o Capa, eu queria estar na linha da frente e capturar a brutalidade do conflito para documentá-lo tão objectivamente quanto possível. O jogo imita a severidade da guerra, e eu quis imitar o acto de capturar essa severidade. Deliberadamente coloco o meu avatar em risco de morte apenas para capturar um único momento. Confesso que me senti um pouco culpado por fingir ser um homem cuja dedicação ao fotojornalismo lhe custou a vida.
É perigoso? Tens alguma forma de dizer que és neutro?
Os jogos como o "Day of Defeat" (DoD) são muito competitivos. Os jogadores dificilmente se desviam do objectivo, que é matar o máximo de soldados possível. Avisava sempre através do "chat" de voz o que estava ali a fazer, mas a maior parte dos jgadores considerava-me um alvo fácil. Por isso passei a jogar como se estivesse num campo de batalha, procurando os melhores esconderijos, as janelas com melhor ângulo... Penso que essa técnica influenciou muito o resultado final.
Tecnicamente como funciona a tua “máquina fotográfica”?
Ajustei o menu do DoD à minha medida. Coloquei a função “screenshot” na tecla de disparo do rato, transformando o gatilho da arma no botão de disparo da minha máquina fotográfica. Também modifiquei a aparência de forma a dar a ideia do visor de uma objectiva. As fotos são armazenadas no disco do meu computador e são tratadas no "Photoshop".
Já tomaste de assalto o Grand Theft Auto. Qual é a tua próxima aventura?
Afastei-me momentaneamente da fotografia virtual. Agora procuro explorar outras formas de traduzir imagens e conceitos da cultura de jogos de computador. Utilizo formas mais tradicionais e analógicas como a pintura e a escultura. Mas conto voltar ao fotojornalismo.
O fotojornalismo de jogos de computador pode ser uma profissão?
Vi os jogos passarem de um "hobby" de "geeks" a uma indústria gigantesca. Há torneios transmitidos na televisão e na Internet, com milhares de espectadores. Acredito que operadores de câmara e fotógrafos seriam papéis fascinantes para acrescentar aos jogos no futuro.