Contágio
É como se Soderbergh filmasse “Contágio” com desprezo pelo “filme catástrofe”: é que mostra tanto o osso do género, que mais parece a denúncia de um “bluff”. Uma série de actores mais ou menos vedetas (Matt Damon, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow - a tempo só de ser o “paciente zero” de uma epidemia e de lhe dobrarem o escalpe na autópsia -, Kate Winslet ou Marillon Cotillard), não mais do que o tempo necessário para eles atravessarem o ecrã e fazerem o seu número, informação, números, números e informação globais, e epidemia à solta. O mau da fita, para além do vírus, é um blogger (Jude Law, seco que nem um tronco, por isso ficava muito bem como o robô de “A.I.”), e a net é aqui o embrião de oportunismo: enquanto há gente honesta a tentar encontrar a vacina, Jude vai construindo a reputação de (falso) profeta. Tudo a correr, para meter os sinais do mundo ali dentro. (Mas falta aqui o fatalismo com que o filme-catástrofe - e pensamos nos 70s - juntava vedetas de um tempo que acabara, e era sempre um “all star cast”, e as fazia explodir.) Para voltar ao desprezo, “Contágio” é o filme de um cínico: aproveitando-se de um género que manifestamente não respeita.
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É como se Soderbergh filmasse “Contágio” com desprezo pelo “filme catástrofe”: é que mostra tanto o osso do género, que mais parece a denúncia de um “bluff”. Uma série de actores mais ou menos vedetas (Matt Damon, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow - a tempo só de ser o “paciente zero” de uma epidemia e de lhe dobrarem o escalpe na autópsia -, Kate Winslet ou Marillon Cotillard), não mais do que o tempo necessário para eles atravessarem o ecrã e fazerem o seu número, informação, números, números e informação globais, e epidemia à solta. O mau da fita, para além do vírus, é um blogger (Jude Law, seco que nem um tronco, por isso ficava muito bem como o robô de “A.I.”), e a net é aqui o embrião de oportunismo: enquanto há gente honesta a tentar encontrar a vacina, Jude vai construindo a reputação de (falso) profeta. Tudo a correr, para meter os sinais do mundo ali dentro. (Mas falta aqui o fatalismo com que o filme-catástrofe - e pensamos nos 70s - juntava vedetas de um tempo que acabara, e era sempre um “all star cast”, e as fazia explodir.) Para voltar ao desprezo, “Contágio” é o filme de um cínico: aproveitando-se de um género que manifestamente não respeita.