David Penela, o ladrão de caras

Ele rouba. Narizes, queixos, marcas fortes. E transforma tudo em gatafunhos. Temos provas

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“Roubo”. Assume-o ao P3 sem peso na consciência. David Penela, ladrão de caras. Culpado. Entra no comboio – Ermesinde-Porto-Ermesinde mais estação, menos estação –, liga a música, abre o bloco e absorve. “Aponto, registo”, disfarça. Rouba. Temos provas.

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“Roubo”. Assume-o ao P3 sem peso na consciência. David Penela, ladrão de caras. Culpado. Entra no comboio – Ermesinde-Porto-Ermesinde mais estação, menos estação –, liga a música, abre o bloco e absorve. “Aponto, registo”, disfarça. Rouba. Temos provas.

Vítimas preferidas: “Pessoas mais idosas, caras mais fortes e rugosas, formas fortes”. O modus operandi é clássico de um serial illustrator. Estuda, inventaria (“Nariz com golpe do lado esquerdo, nariz partido, marcado ou deslocado, nada de lisos... e linhas de queixo), apaixona-se (“Se tiverem marcas fortes, gosto deles”) mistura-se com as vítimas e projecta-se nelas.

“É uma coisa de amor/ódio. Não gosto do meu nariz e gosto de desenhar narizes, não gosto da minha cara e gosto de desenhar caras, não gosto do meu maxilar e gosto de os desenhar. Não gosto dos meus e tento fazer melhor”.

David formou-se em Artes Plásticas (variante Multimédia), pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). A sua obra de “coisas improváveis” equilibra-se entre zombies e estátuas de mármore gregas ("os meus desenhos ganham personalidade pelo facto de não terem olhos"), entre os mestres japoneses e as tatuagens que o seu próprio corpo não ostenta.

“Às vezes sou eu que poso para as minhas ilustrações” (“Sou eu, fotografei-me e fiz uma cara à sorte”). Ele ou outros “Criminals”. O circo de John Wayne Gacy, um dedo na fivela de Jesse James, Ted Kaczynski com um envelope na lapela, Charles Manson, Bonnie and Clyde. Todos transformados em passageiros do comboio – ou vice-versa. Todos com ar “rude e pouco amigável”.

Criminosos, familiares e super-heróis

O verbo certo é “incorporar”. “O corpo é meu, a cabeça é de uma pessoa ao calhas”. As suas criações são “bustos de museu”, familiares (“Brothers and Sisters”) com “todos os fiozinhos de cabelo”, são “Super Heroes” com as obsessões dele, são “blocos por acabar, cadernos, pilhas de postits, caras, gatafunhos e mais caras”.

Vendeu o seu primeiro trabalho via Internet (os cabelos dos Beatles aterraram em Denver) e sabe que essa “galeria virtual ajuda imenso na promoção de um artista”. “Chega a mais pessoas, quebra-se a barreira da apresentação. Cada um pode criar a sua galeria virtual”.

Gosta de andar pela rua “e de relembrar tudo”. Flashback, gatafunho, “formas rudes e fortes”, “narizes tortos”. “Nunca desenho narizes certos. Não há grande explicação para isso”.