Chamo-me "headphone" e sou um sobrevivente
Já não queremos só os fios brancos pendurados na roupa. Queremos cores, padrões e volume
Gritamos em vez de falar, chocalhamos a cabeça, entramos num estado profundo de autismo. A culpa é de um dos grandes sobreviventes da mudança de século: chamam-se auscultadores. O MP3 castigou o CD, que tinha ajustado contas com a cassete. O iPhone e os Androids transformaram-se num esquadrão e eliminaram os restantes leitores de MP3. E há uma nuvem ameaçadora sobre todos eles , o SoundCloud – inclusive sobre o velhinho e espremido MySpace. Nesta guerra, há sobreviventes.
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Gritamos em vez de falar, chocalhamos a cabeça, entramos num estado profundo de autismo. A culpa é de um dos grandes sobreviventes da mudança de século: chamam-se auscultadores. O MP3 castigou o CD, que tinha ajustado contas com a cassete. O iPhone e os Androids transformaram-se num esquadrão e eliminaram os restantes leitores de MP3. E há uma nuvem ameaçadora sobre todos eles , o SoundCloud – inclusive sobre o velhinho e espremido MySpace. Nesta guerra, há sobreviventes.
Os auscultadores atravessaram o século XX como se de um parasita se tratasse. O objecto evoluiu tecnicamente até onde tinha que evoluir, encolheu dentro das possibilidades do ouvido humano, tornou-se branco, objecto de design, camaleónico. E se durante a última década ter os fios brancos da Apple a sair de uma peça de roupa era estratégico, agora ter um iPod é quase retro.
“Olhamos para os headphones como um acessório de moda”, disse ao P3 Nuno Brandão, ligado à distribuição da sueca WeSC em Portugal. Passou de “um objecto intimamente ligado à música para um complemento que acompanha as tendências de moda”.
A WeSC (We are the Superlative Conspiracy), pioneira na introdução de auscultadores com padrões e design "eighties", está em Portugal desde 2005 – marca com cerca de 60 postos de venda a Norte do país e quase 30 a Sul. “Hoje em dia temos headphones a condizer com a roupa que vestimos. Já não são apenas pretos, brancos e cinzentos para condizer com o portátil. Existem headphones com riscas, quadrados e pintinhas”, completa Nuno Brandão.
Lady Gaga, a vendedora
Dr. Dre, músico responsável pelo lançamento da marca Beats By Dr. Dre, aposta na qualidade de som porque “o mau som está a acabar com a indústria musical”. “Queremos devolver às pessoas a possibilidade de ouvir os discos como foram gravados”, sublinha o rapper e produtor que convidou nomes como Lady Gaga e Justin Bieber para apadrinharem as suas criações.
“A estratégia passa por ter auscultadores que soem bem, mas que estejam na moda. A tendência: headphones cada vez maiores, algo que agrada aos criadores, com mais área de acção”, disse recentemente Linda Irvin, manager da Sennheiser, com uma colecção em parceria com a Adidas.
As estrelas pop já não vendem só discos. Vendem tudo – inclusive headphones. “Quando as estrelas entram nas nossas lojas, não entram para promover discos, mas para anunciar um novo modelo de auscultadores”, confessa Simon Cox, do grupo HMV. Um dia destes, o som poderá vir a ser virtual. Poderá andar nas nuvens. Mas tudo indica que continuaremos a carregar ao pescoço auscultadores “old school”, volumosos e coloridos.