Último Round
Sequência de abertura, e logo um (des)encontro: o fogo de artifício de Christian Bale, ou o "método" como proeza de circo, e a serenidade de Mark Wahlberg, o ex-modelo fotógráfico e "bad boy" que incorporou a autoridade dos clássicos. Isto é um filme de boxe: a história verídica de Micky Ward (Wahlberg) e do irmão mais velho, Dicky Eklund (Bale), operariado de Massachusetts, história de protecção e de vampirismo familiares, em que um, Micky, carrega o falhanço da carreira de outro (Dicky, destruído pelo crack) e a responsabilidade de sustentar uma família. Wahlberg e Bale: logo no início a divisão que o filme não resolve. Não se trata do desencontro entre personagens, porque disso até se aproveitaria a narrativa, mas de um desencontro que habita o próprio filme: uma indecisão, uma debilidade do projecto, que não faz nada, antes pelo contrário, para resolver em seu favor o problema destas naturezas que não coabitam - não vale a pena esperar, portanto, por interacção, não vale a pena esperar pelo fluxo de violência e sensualidade que havia entre Robert deNiro e Joe Pesci n''"O Toiro Enraivecido" de Scorsese, realizador por quem este projecto, aliás, passou e que disse "passo" para evitar a redundância. Uma fraqueza e uma contradição: se a personagem de Wahlberg é a central, um porto de abrigo, a respiração que o filme merecia - até porque a proximidade biográfica e a amizade entre Wahlberg e Ward tornaram este um projecto pessoal do actor - "The Fighter" sacrifica-o, adoptando o exibicionismo de Bale. Que tem aqui uma das presenças insuportáveis do ano. Estão os dois, Bale e o filme, sempre a "fazer de...", macaqueando histrionismos e clichés - mesmo Melissa Leo, que faz a mãe e "manager", tão magnífica e esquálida em "Frozen River" (2009), é aqui sobretudo um penteado. Não é que Bale estrague o filme, Bale é o espírito - a caricatura, a redundância compulsivas... - do filme. E de que é que faz David O. Russell? Como outros exemplos de realizadores fascinados pelo cinema americano dos anos 70, que nunca se autonomizaram das referências (PT Anderson ou James Gray, por exemplo), ele faz de aprendiz. E faz mal.
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Sequência de abertura, e logo um (des)encontro: o fogo de artifício de Christian Bale, ou o "método" como proeza de circo, e a serenidade de Mark Wahlberg, o ex-modelo fotógráfico e "bad boy" que incorporou a autoridade dos clássicos. Isto é um filme de boxe: a história verídica de Micky Ward (Wahlberg) e do irmão mais velho, Dicky Eklund (Bale), operariado de Massachusetts, história de protecção e de vampirismo familiares, em que um, Micky, carrega o falhanço da carreira de outro (Dicky, destruído pelo crack) e a responsabilidade de sustentar uma família. Wahlberg e Bale: logo no início a divisão que o filme não resolve. Não se trata do desencontro entre personagens, porque disso até se aproveitaria a narrativa, mas de um desencontro que habita o próprio filme: uma indecisão, uma debilidade do projecto, que não faz nada, antes pelo contrário, para resolver em seu favor o problema destas naturezas que não coabitam - não vale a pena esperar, portanto, por interacção, não vale a pena esperar pelo fluxo de violência e sensualidade que havia entre Robert deNiro e Joe Pesci n''"O Toiro Enraivecido" de Scorsese, realizador por quem este projecto, aliás, passou e que disse "passo" para evitar a redundância. Uma fraqueza e uma contradição: se a personagem de Wahlberg é a central, um porto de abrigo, a respiração que o filme merecia - até porque a proximidade biográfica e a amizade entre Wahlberg e Ward tornaram este um projecto pessoal do actor - "The Fighter" sacrifica-o, adoptando o exibicionismo de Bale. Que tem aqui uma das presenças insuportáveis do ano. Estão os dois, Bale e o filme, sempre a "fazer de...", macaqueando histrionismos e clichés - mesmo Melissa Leo, que faz a mãe e "manager", tão magnífica e esquálida em "Frozen River" (2009), é aqui sobretudo um penteado. Não é que Bale estrague o filme, Bale é o espírito - a caricatura, a redundância compulsivas... - do filme. E de que é que faz David O. Russell? Como outros exemplos de realizadores fascinados pelo cinema americano dos anos 70, que nunca se autonomizaram das referências (PT Anderson ou James Gray, por exemplo), ele faz de aprendiz. E faz mal.