Pesadelo Cor-de-Rosa

É a história de Daniel Bricks, jovem engenheiro inglês (Diogo Infante) que trabalha na Ponte 25 de Abril e não acredita em mulheres de sonho, e de Carolina (Catarina Furtado), uma portuguesa em liberdade condicional, impulsiva, que vai ser o "pesadelo cor-de-rosa" do inglês. Os maus sonhos não devem ter cor, mas, de qualquer forma, não é só no título que o filme se engana. Por exemplo, o facto de 90 por cento dos diálogos serem falados em inglês não se deve, segundo o realizador "residente em Los Angeles", Fernando Fragata, a snobismo, mas porque é essa a nacionalidade da personagem de Daniel e porque assim é mais fácil sonhar com uma projecção internacional do filme. Não era preciso, então, que 90 por cento desses 90 por cento de diálogos obrigassem Diogo Infante a macaquear de dois em dois segundos: "Mim, non comprendre portuguech." Quanto a Carolina, as notas de produção dizem que ela "não pensa duas vezes, age". Mas vê-se a personagem a querer mostrar que pensa: exactamente como as pessoas que têm alguma dificuldade em ler e começam a mexer os lábios, quando debruçam o olhar para um livro. É por essa bitola que devemos avaliar a concepção e concretização do projecto. Porque, se se considera o filme uma "comédia romântica que se pretende leve, divertida e cheia de acção", é duvidoso que o resultado tenha género ? nem comédia, nem "road movie" ? e que seja divertido, embora seja certo que não está cheio de acção. O filme "não está": não apareceu, não imprimiu. Não será produtivo perguntar o que se pensa da "actuação" de Diogo Infante e de Catarina Furtado, as vedetas que Fernando Fragata voltou a reunir depois da curta-metragem "Amor e Alquimia". Não é justo perguntar isso, quando parece que eles não estão ou não querem estar ali ? é pior quando se esforçam para acreditar, aparecem esgares de desespero. Mas é penoso sentir que não há olhar atrás da câmara de filmar, instalou-se apenas o automatismo e assim ela não sabe o que há-de fazer, se há-de ficar parada ou se há-de mexer (resultado: não mexe); a música, como rolo incessante que alguém se esqueceu de desligar, tem o efeito de uma névoa soporífera ambiental que sublinha o vazio; a narrativa ? é uma facilidade para nomear aquilo que se passa em "Pesadelo Cor de Rosa" ? é um fio dental imperceptível. Na verdade, tudo se passa com o automatismo do porno ? não por aquilo que seria mais óbvio; não, não, aqui ninguém se abeira da cama ou da nudez ? e escrever isso não pode ser tomado como desrespeito, até porque se podia dar o exemplo de um grande cineasta como David Cronenberg que começou por aí e trabalhou com imenso fulgor na sua obra dita "séria" os mesmos processos. A experiência americana de Fernando Fragata e o facto de ter sido "durante sete anos operador de Steadicam, tendo trabalhado em filmes publicitários tanto em Portugal como no estrangeiro", podem ter permitido que fosse ele o operador de câmara em "Pesadelo Cor de Rosa" mas ... para filmar o quê? Fragata, que, além de realizador é produtor, montador e argumentista, teve um sonho em inglês, sonha com filmes sem dependência do Estado, sonha com difusão internacional. É estimável. Outros, como a SIC, que anuncia pomposamente que aconselha este filme ? devemos tomar isso como caução? ?, sonharam com ele. Cinematograficamente aconteceu o pesadelo e não é cor-de- rosa. A simples "ideia" de filme ? aquela coisa em que os planos, os actores e as personagens estão juntos por uma razão qualquer ? foi esquecida do sonho. O exercício, então, enquanto se vê "Pesadelo Cor de Rosa", poderá ser olhar para Catarina Furtado e Diogo Infante e perguntar: "Em que é que eles pensavam quando faziam este filme?"

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É a história de Daniel Bricks, jovem engenheiro inglês (Diogo Infante) que trabalha na Ponte 25 de Abril e não acredita em mulheres de sonho, e de Carolina (Catarina Furtado), uma portuguesa em liberdade condicional, impulsiva, que vai ser o "pesadelo cor-de-rosa" do inglês. Os maus sonhos não devem ter cor, mas, de qualquer forma, não é só no título que o filme se engana. Por exemplo, o facto de 90 por cento dos diálogos serem falados em inglês não se deve, segundo o realizador "residente em Los Angeles", Fernando Fragata, a snobismo, mas porque é essa a nacionalidade da personagem de Daniel e porque assim é mais fácil sonhar com uma projecção internacional do filme. Não era preciso, então, que 90 por cento desses 90 por cento de diálogos obrigassem Diogo Infante a macaquear de dois em dois segundos: "Mim, non comprendre portuguech." Quanto a Carolina, as notas de produção dizem que ela "não pensa duas vezes, age". Mas vê-se a personagem a querer mostrar que pensa: exactamente como as pessoas que têm alguma dificuldade em ler e começam a mexer os lábios, quando debruçam o olhar para um livro. É por essa bitola que devemos avaliar a concepção e concretização do projecto. Porque, se se considera o filme uma "comédia romântica que se pretende leve, divertida e cheia de acção", é duvidoso que o resultado tenha género ? nem comédia, nem "road movie" ? e que seja divertido, embora seja certo que não está cheio de acção. O filme "não está": não apareceu, não imprimiu. Não será produtivo perguntar o que se pensa da "actuação" de Diogo Infante e de Catarina Furtado, as vedetas que Fernando Fragata voltou a reunir depois da curta-metragem "Amor e Alquimia". Não é justo perguntar isso, quando parece que eles não estão ou não querem estar ali ? é pior quando se esforçam para acreditar, aparecem esgares de desespero. Mas é penoso sentir que não há olhar atrás da câmara de filmar, instalou-se apenas o automatismo e assim ela não sabe o que há-de fazer, se há-de ficar parada ou se há-de mexer (resultado: não mexe); a música, como rolo incessante que alguém se esqueceu de desligar, tem o efeito de uma névoa soporífera ambiental que sublinha o vazio; a narrativa ? é uma facilidade para nomear aquilo que se passa em "Pesadelo Cor de Rosa" ? é um fio dental imperceptível. Na verdade, tudo se passa com o automatismo do porno ? não por aquilo que seria mais óbvio; não, não, aqui ninguém se abeira da cama ou da nudez ? e escrever isso não pode ser tomado como desrespeito, até porque se podia dar o exemplo de um grande cineasta como David Cronenberg que começou por aí e trabalhou com imenso fulgor na sua obra dita "séria" os mesmos processos. A experiência americana de Fernando Fragata e o facto de ter sido "durante sete anos operador de Steadicam, tendo trabalhado em filmes publicitários tanto em Portugal como no estrangeiro", podem ter permitido que fosse ele o operador de câmara em "Pesadelo Cor de Rosa" mas ... para filmar o quê? Fragata, que, além de realizador é produtor, montador e argumentista, teve um sonho em inglês, sonha com filmes sem dependência do Estado, sonha com difusão internacional. É estimável. Outros, como a SIC, que anuncia pomposamente que aconselha este filme ? devemos tomar isso como caução? ?, sonharam com ele. Cinematograficamente aconteceu o pesadelo e não é cor-de- rosa. A simples "ideia" de filme ? aquela coisa em que os planos, os actores e as personagens estão juntos por uma razão qualquer ? foi esquecida do sonho. O exercício, então, enquanto se vê "Pesadelo Cor de Rosa", poderá ser olhar para Catarina Furtado e Diogo Infante e perguntar: "Em que é que eles pensavam quando faziam este filme?"