Mais de 80% dos media portugueses já difundiram notícias falsas baseadas nas redes sociais
Segundo o estudo do observatório Iberifier, mais de metade dos órgãos de comunicação não tem protocolo de verificação de informação e 80% não tiveram formação acrescida de verificação de factos.
Dos órgãos de comunicação em Portugal, mais de 80% já difundiram notícias falsas baseadas nas redes sociais, mantendo-se nas redacções os métodos de verificação tradicionais, apesar do reforço feito a este nível, segundo dados do observatório Iberifier.
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Dos órgãos de comunicação em Portugal, mais de 80% já difundiram notícias falsas baseadas nas redes sociais, mantendo-se nas redacções os métodos de verificação tradicionais, apesar do reforço feito a este nível, segundo dados do observatório Iberifier.
De um conjunto de entrevistas realizadas pelo Observatório Ibérico de Media Digitais (Iberifier), em Setembro e Outubro de 2022, a 17 directores e editores de empresas de comunicação social em Portugal, resultou que mais de metade (58%) dos órgãos de comunicação não possuem protocolo de verificação da informação e cerca de 80% não tiveram formação acrescida sobre verificação de factos.
De acordo com os resultados divulgados esta quarta-feira, a maioria dos entrevistados considera que "os portugueses reconhecem o trabalho desenvolvido pelos vários meios tradicionais", sendo mencionada "a existência de um canal público visto como 'âncora', a associação de jornalismo ao telejornal e a ausência de grandes escândalos relacionados com a actuação dos media".
Contudo, um terço dos entrevistados considera que o sentimento de confiança nos media em Portugal "pode estar relacionado com a iliteracia dos portugueses", o "fraco sentido crítico" e a "deferência em relação ao poder instituído", havendo quem assinale ainda a "excessiva tolerância dos portugueses".
Ao nível das questões laborais, os jornalistas reclamam mais respeito pelas escalas de trabalho e pelo tempo de descanso, o direito à vida familiar e ao "desligar", melhores salários e contratos e mais formação.
Consensual entre os directores e editores inquiridos é a necessidade de diferenciar os conteúdos jornalísticos dos restantes (recorrendo, por exemplo, a "etiquetas de diferenciação que possam orientar os leitores"), defendendo-se também uma maior aposta na literacia dos cidadãos e uma regulação e fiscalização mais apertadas.
A sustentabilidade dos media e o desafio de encontrar um modelo de negócio viável é o problema mais apontado, com alguns directores — "sobretudo de meios de comunicação mais recentes" — a defenderem que o jornalismo não deve ser visto como um negócio e a afirmarem preferir que o jornalismo abdique da publicidade.
Contudo, a maioria dos inquiridos defende que o caminho para a sustentabilidade passa pela diversificação de receitas, apontando uma conjugação de modelos de financiamento e enaltecendo o papel do apoio privado em diferentes modalidades, como bolsas ou projectos específicos.
Relativamente ao financiamento público dos meios de comunicação, "parece haver algum consenso para a possibilidade de este apoio não ter de ser necessariamente monetário", podendo concretizar-se através de apoios fiscais.
"A ser monetário, fica sempre a ressalva de dever ser transversal aos meios e realizado de forma transparente", refere o Iberifier.
Promovido pela Comissão Europeia e associado ao Observatório Europeu de Media Digitais (EDMO), o Iberifier é um observatório de media digitais em Portugal e Espanha que visa combater a desinformação.
O projecto é coordenado pela Universidade de Navarra, Espanha, mas tem como principal parceiro o ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa. No total, integra 12 universidades, cinco organizações de verificação e agências de notícias (entre as quais a agência Lusa) e seis centros de investigação multidisciplinares.