PCP rejeita ideia de que o interior esteja condenado
Secretário-geral Paulo Raimundo defendeu que é preciso travar esse processo e criar condições para que as pessoas possam viver naquela zona do país.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, rejeitou este sábado a ideia de que o interior do país esteja condenado e apontou o dedo às “políticas de direita”, classificando os lamentos pela desertificação como “lágrimas de crocodilo”.
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O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, rejeitou este sábado a ideia de que o interior do país esteja condenado e apontou o dedo às “políticas de direita”, classificando os lamentos pela desertificação como “lágrimas de crocodilo”.
“Se o caminho é de cortes nos apoios à agricultura familiar, se o caminho é de encerramento de escolas, se o caminho é de encerramentos de postos da GNR e postos de CTT, se o caminho é de eliminação de freguesias (...) se o caminho é de manutenção e aumento das portagens, de redução e eliminação de carreiras rodoviárias, de falta de investimento na ferrovia... se o caminho é este, de que servem as lágrimas de crocodilo e os lamentos hipócritas pela desertificação?”, questionou.
Paulo Raimundo falava na Covilhã na sessão de encerramento da XIIª Assembleia da Direcção Regional do PCP de Castelo Branco, que decorreu com o lema “Tomar Iniciativa, Reforçar o Partido, Lutar pelo desenvolvimento do distrito”. Garantiu que o PCP não acompanha a ideia de que o interior esteja condenado e defendeu que é preciso aproveitar os recursos que estão à disposição.
“O interior condenado significa um país condenado e nós não aceitamos que condenem o interior nem o nosso país”, acrescentou. Durante a intervenção, o líder comunista apontou os números dos censos de 2021 para lembrar os problemas que aquele distrito enfrenta com uma perda de população a ultrapassar os nove por cento na última década, percentagem que em alguns concelhos foi ainda mais elevada.
Referindo que a isso também se soma o “envelhecimento demográfico”, o secretário-geral do PCP defendeu que é preciso “travar esse processo e criar condições” para que as pessoas possam viver naquela zona do país. Paulo Raimundo considerou que “a situação está profundamente relacionada com escolhas políticas que têm reflexo em todo o território nacional”, nomeadamente com as opções por encerramentos de serviços, que levam as pessoas a terem de sair.
“Não vale a pena vir com o argumento de que há poucas pessoas para justificar o encerramento de serviços públicos, quando é precisamente a política de direita que provoca a saída das populações do interior do país, por não terem condições para cá ficar”. Paulo Raimundo não poupou críticas ao caminho que tem sido seguido e apontou medidas que podiam ajudar aquela região, a começar pela abolição do pagamento das portagens nas antigas SCUT [vias sem custos para o utilizador].
“Contribuiria ou não, por exemplo, para fixar as populações no distrito a eliminação das portagens nas ex-SCUT?”, sugeriu. O PCP defende que é preciso apostar no “desenvolvimento produtivo e na indústria, na criação de emprego com direitos, na defesa do ambiente, da floresta, da agricultura, dos recursos naturais”, bem como “na defesa e reforço dos serviços públicos”, ou “no desenvolvimento científico e tecnológico”, dando “bom uso dos fundos comunitários”.
Além disso, Paulo Raimundo pediu que se avance “de uma vez por todas” com a regionalização e de adoptar medidas que ajudem a combater o défice demográfico, criando medidas que dêem condições às novas gerações para constituir família.
“Medidas que passam por salários dignos, vínculos permanentes, horários de trabalho estáveis, acesso a habitação, creche, escola, transportes, acesso aos serviços de saúde e ao acompanhamento das grávidas e ao seu direito a nascer em segurança num hospital. Tudo condições fundamentais para optar por ter filhos e garantir a sua educação”, disse.